A psicologia para além do Ozempic e Mounjaro: o verdadeiro desafio de fazer dieta

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Nesta semana, a coluna será um pouco mais longa. Vamos abordar um assunto de grande relevância para saúde pública: as dificuldades enfrentadas no tratamento da obesidade, da pressão alta e da diabetes tipo 2, bem como, os desafios psicológicos envolvidos na busca por emagrecimento.

O desejo por uma alimentação equilibrada e um peso saudável é algo que permeia a vida de muitas pessoas, sobretudo em uma sociedade cada vez mais voltada para a estética e a saúde. Contudo, para muitos, esse processo envolve desafios que vão além da simples escolha de comer menos ou optar por alimentos mais saudáveis. A dificuldade de seguir dietas reflete a complexa interação entre mente, corpo e ambiente, tornando-se um tópico central nos debates sobre saúde e bem-estar.

O papel da emoção na alimentação

Um dos principais desafios psicológicos para quem faz regime é a relação emocional com a comida. Para muitos, os alimentos não são apenas fontes de energia, mas também instrumentos de conforto, prazer e recompensa. Comer doces ou alimentos ricos em gordura está frequentemente associado a momentos de celebração, relaxamento ou alívio do estresse.

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Quando se inicia uma dieta, essas associações podem se tornar obstáculos difíceis de superar. Proibir ou limitar alimentos que proporcionam conforto pode gerar um forte sentimento de privação emocional, levando à ansiedade e, em alguns casos, à compulsão alimentar, seguida de culpa e frustração. Esse ciclo é agravado em momentos de tristeza ou estresse, onde a comida funciona como válvula de escape.

A pressão social e a autocrítica

A pressão social também desempenha um papel importante na dificuldade de fazer dieta. Em um mundo dominado pelas redes sociais e pela exposição constante a padrões de beleza inatingíveis, muitas pessoas iniciam regimes motivadas pelo desejo de corresponder às expectativas externas. Essa pressão pode gerar sentimentos de inadequação e insegurança, dificultando a adesão a um plano alimentar.

Além disso, a comparação constante com outras pessoas – sejam elas influenciadores digitais, celebridades ou até mesmo amigos – pode intensificar a autocrítica, fazendo com que qualquer deslize seja visto como um fracasso. Esse rigor consigo mesmo pode ser desmotivador e levar ao abandono do programa alimentar.

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Expectativas irreais e dietas da moda

A cultura contemporânea também contribui para a dificuldade psicológica de fazer regimes por meio da promoção de resultados rápidos e fáceis. Dietas da moda, suplementos milagrosos e treinos intensivos prometem mudanças drásticas em pouco tempo, criando expectativas pouco realistas.

Quando os resultados não são alcançados na velocidade desejada, sentimentos de frustração e desesperança surgem. Essa falta de paciência com o processo natural de emagrecimento é um dos principais fatores que levam muitas pessoas a abandonarem seus objetivos antes de alcançá-los.

Hábitos alimentares são formados ao longo da vida, influenciados por fatores culturais, familiares e pessoais. Alterá-los requer mais que disciplina; exige uma mudança profunda na maneira como se encara a comida e suas escolhas diárias.

A resistência à mudança, um fenômeno psicológico comum, pode ser uma barreira significativa. Isso ocorre porque o cérebro tende a buscar conforto em padrões conhecidos, mesmo que sejam prejudiciais. Seguir um programa de reeducação alimentar, portanto, envolve desafiar antigos padrões e criar novos, o que demanda tempo, paciência e autocompaixão.

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Apesar dos desafios, é possível superar as dificuldades psicológicas relacionadas aos regimes com estratégias eficazes. Uma abordagem importante é adotar uma perspectiva mais equilibrada e sustentável em relação à alimentação. Em vez de focar em dietas restritivas, que muitas vezes levam ao fracasso, é recomendável optar por mudanças graduais e realistas, que possam ser mantidas a longo prazo.

Além disso, o suporte emocional é fundamental. Contar com a ajuda de amigos, familiares ou profissionais, como psicólogos ou nutricionistas, ajuda a lidar com os aspectos emocionais e comportamentais envolvidos na mudança de hábitos alimentares.

Práticas como a atenção plena (mindfulness) também são úteis. Estar presente no momento das refeições, prestando atenção aos sinais de fome e saciedade, ajuda a reduzir a compulsão alimentar e a ansiedade.

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Com relação à questão temporal, ou seja, o desejo de sucesso em curto prazo, recentemente, ganhamos grande aliados, os remédios de nome comercial Ozempic e o Mounjaro.

Trata-se de medicamentos injetados semanalmente para tratar o diabetes tipo 2 em adultos. A principal diferença entre os dois é a composição e o modo de ação:

  • Ozempic
    • Atua apenas sobre o hormônio GLP-1, que retarda a passagem dos alimentos pelo estômago e aumenta a sensação de saciedade.  Ele também é conhecido como semaglutida, um medicamento de prescrição usado para controlar diabetes tipo 2, como abordado, mas junto a exercícios e dietas. O medicamento, feito pela empresa farmacêutica Novo Nordisk, ajuda a melhorar os níveis de açúcar no sangue e reduz o risco de eventos como ataque cardíaco ou derrame. Mas é importante observar que Ozempic não é usado para tratar diabetes tipo 1 e não é insulina.
  • Mounjaro
    • Mounjaro é o primeiro do gênero a ter como alvo dois hormônios principais que regulam os níveis de açúcar no sangue e podem ajudar os pacientes a perder peso. Ele atua sobre os hormônios GLP-1 e GIP, o que lhe confere uma ação mais abrangente e potente. O GIP auxilia na produção e liberação de insulina no organismo, mas também precisa ser utilizado junto a exercícios e dietas.
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Estudos indicam que o Mounjaro proporciona uma maior perda de peso em comparação ao Ozempic. O Ozempic pode levar a perdas de até 15% do peso corporal, enquanto o Mounjaro, a uma redução média de até 20% , mas estes remédios NÃO FORAM feitos para perda de peso.

Ou seja, ao contrário do que se imagina, ou pior, ao contrário do que está sendo propagado em diversas redes sociais, não é milagre e tem um alto custo pessoal, psíquico e financeiro.

Para se ter uma ideia do que estou falando, a maioria da população brasileira teve renda média salarial de R$ 3.222,00 em 2024, com tendências econômicas a diminuir. Enquanto isso, o Mounjaro pode chegar a R$ 4.009,25 (30 MG/ML com 4 canetas) para o bolso do brasileiro, e o Ozempic, cerca de 1.250,00 em média (por mês).

Abordar a alimentação de forma compassiva e realista, além de buscar apoio quando necessário, torna possível transformar o desafio de fazer uma dieta em uma oportunidade para desenvolver hábitos mais saudáveis e uma relação mais equilibrada com a comida. Aliás, o uso destes medicamentos para quem já tem problemas relacionados aos distúrbios alimentares pode piorar o quadro, em vez de ajudar.

Assim, não caia nas falácias que desinformam, como, por exemplo, dizer que um hábito é formado em 21 dias. Um hábito leva meses, em média 70 dias, para começar a ser formado em nosso cérebro.

Já com relação aos efeitos colaterais, é de suma importância que se entenda os perigos não ditos nas redes sociais. O Ozempic, por exemplo, pode causar:

  • Náusea;
  • Diarréia;
  • Vômitos;
  • Dor de cabeça;
  • Desnutrição;
  • Desidratação;
  • Fadiga e sensação de cansaço

E o Mounjaro:

  • Náusea;
  • Diarréia;
  • Prisão de ventre;
  • Vômitos;
  • Dor abdominal;
  • Má digestão;
  • Refluxo.

Em situações mais raras e graves, o uso inadequado destes medicamentos (que são para diabetes tipo 2) pode resultar em alergias, pancreatites, falência renal, ou mesmo, fatalidades.

Provavelmente, por uma questão de marketing e também, como forma de fugir ao rigor da agência reguladora nos EUA, a FDA, a mesma fabricante do Ozempic lançou o Wegovy, feito exclusivamente para perda de peso. Entretanto, é importante pontuar que Ozempic e Wegovy são o mesmo medicamento (semaglutida) e funcionam da mesma maneira, embora Wegovy tenha uma dose máxima mais alta, ajudando a regular o açúcar no sangue e mantendo a sensação de saciedade por mais tempo entre as refeições, o que pode contribuir para a perda de peso, como faz o Ozempic. O Wegovy também ajuda a suprimir o fígado de produzir muito açúcar.

Aparentemente, muitas pessoas podem dizer que tudo o que abordei na coluna desta semana é, na verdade, algo fantástico, que se trata da evolução da ciência farmacêutica para o combate à obesidade.

Mas esse é o ponto: OBESIDADE. Tais medicamentos foram criados para quem tem obesidade, pressão alta e diabete tipo 2 na esperança de se evitar a morte precoce por infarto do miocárdio ou mesmo, reduzir a possibilidade de um AVC, e não para se manter um padrão de beleza corporal imposto por uma norma social.

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Nunca é tarde para lembrar aos caros leitores os diversos problemas psicológicos enfrentados por pacientes em decorrência de procedimentos estéticos frustrados, apenas para serem “socialmente aceitos”. Isso sem falar nos casos de morte.

Por isso, se você é classificado como obeso, com pressão alta ou mesmo diabetes tipo 2, e precisa de ajuda, procure pela plataforma Estudos Clínicos BR (já divulgada nesta coluna), idealizada por Dr. João Paulo Giacomini Bernardes.

Dr. João Paulo é pesquisador e em seu blog apresenta o caminho necessário para aqueles que têm a pretensão de emagrecer e tratar a diabetes com qualidade e responsabilidade, e o melhor, sem custos.

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É sempre muito importante ter apoio dos médicos pesquisadores nesse processo, pessoas competentes que se interessam pela sua saúde e não pela estética social. Afinal, sabemos que fazer dietas vai muito além de comer menos ou escolher alimentos mais saudáveis. Trata-se de um processo psicológico complexo, que envolve lidar com emoções, expectativas sociais e padrões de comportamento profundamente enraizados. Reconhecer essas dificuldades é o primeiro passo para enfrentá-las de maneira eficaz.

Pense nisso antes de aplicar a primeira dose.

Até a próxima!

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