A que ponto pode chegar a não aceitação?

Cynthia Pastor (editora do Jornal Opção Entorno) 

Donatella Versace frequentemente me chocava pelos excessos em seu corpo e pela falta de aceitação. Da mesma forma, as transformações e “demonizações” faciais e corporais de Gretchen sempre me fizeram refletir sobre a não aceitação de si.

Todavia, o longa-metragem “A Substância”, da diretora Coralie Fargeat, com Demi Moore no papel principal, me causou um grande mal-estar. Fiquei em pânico ao testemunhar até onde as pessoas podem ir em uma busca enlouquecedora pela juventude perdida.

No filme, a objetificação do corpo feminino em programas de TV e a pressão por uma imagem jovial têm custos profundos, como a própria morte. Perpetuar a ideia de que o valor de uma mulher está intrinsecamente atrelado à sua aparência e juventude é chocante e vai muito além da crise pessoal da não aceitação da autoimagem da personagem. O filme é assustador, visto que define o valor humano à aparência.

Dito isso, a interpretação de Moore é extremamente peculiar e visceral. Mas o que mais impacta o espectador é a certeza de que existem pessoas que, como a personagem Elizabeth, enfrentam situações semelhantes na vida real.

Muitas mulheres, conhecidas ou não, sentem a pressão diária para serem magras, musculosas e “bonitas”. Em um mundo gordofóbico, misógino e etarista, ficar fora dos “padrões” as exclui de uma sociedade patriarcal que, em sua distorção, prefere as anoréxicas às obesas.

O público feminino é privado do direito de aceitar suas rugas e cabelos brancos, enquanto aos homens é concedida a oportunidade de envelhecer, associando o cabelo grisalho a uma certa autoridade. Para as mulheres, isso é visto como desleixo e sinal de decadência. O ditado preconceituoso “O homem envelhece e a mulher apodrece” reflete a miopia e a misoginia que permeiam a sociedade.

Pois assim como em “A Substância”, a repulsa ao envelhecimento natural é nítida, como se não fosse admissível ser idoso num mundo onde ninfetas novinhas ditam as regras. Neste contexto, as indústrias da moda e da “beleza” manipulam todos os meios para fazerem valer o seu poder comercial e de mercado.

O modus operandi da humanidade será sempre esse, enquanto existirem Elizabeths “cúmplices” da “coisificação” da mulher.

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