Google exclui conteúdo de jornais e provoca “guerra” com editores da França

De onde se origina o acesso dos jornais tanto brasileiros quanto internacionais? Do acesso direto em suas páginas e por intermédio dos portais de busca, como Bing e, sobretudo, Google. As redes sociais também enviam acessos complementares.

Porém, ao contrário do que se costuma pensar, o Instagram envia escassos acessos para os jornais e revistas. Porque, sendo um ambiente “fechado”, seus usuários raramente saem de lá em busca de uma informação mais ampla do que aquela que acabou de ler e comentar. Por isso, a mídia precisa criar produtos diretos para o Instagram, para serem consumidos lá e só lá. Mas claro que aquilo que se publica nos sites deve continuar sendo colocado no Instagram porque contribui para gerar debate e fortalecer as marcas (o nome dos jornais).

Porém, insistindo, não se deve “investir” no Instagram pensando em acesso. Facebook, principalmente, e X, se bem dirigidos, podem render muito mais acesso. Entretanto, como o Instagram é mais empolgante, com resposta às vezes mais imediata, se tornou a prioridade dos jornais, ao menos de alguns deles.

Então, investir no Instagram, ok. Está certo. O que não se deve esperar é que vai se obter grande audiência por causa disso. O Instagram é excelente… para a Meta. É até positivo para os leitores e apaixonados por fotografias e vídeos. Para os jornais, nem tanto.

O Google é “amigo” e “inimigo” dos jornais. Inimigo porque fatura muito e oferece migalhas aos jornais (“escravizados”, digamos assim). Amigo porque amplia o acesso dos jornais. As redações sabem que, de repente, uma reportagem publicada há cinco anos, ou até mais, aparece com um acesso extraordinário (o Jornal Opção tem um texto sobre o soldado Ryan, o do filme de Steven Spielberg, publicado há mais de quatro anos, que permanece obtendo audiência). São leitores pesquisando no Google e, em menor escala, no Bing (que, por sinal, melhorou muito com a expansão da inteligência artificial).

Quando o Google mexe nos seus sistemas, como os algoritmos, a audiência dos jornais, dos que não se readaptam rapidamente, cai, e muito. Com os ajustes, volta-se à normalidade. Ou quase.

Se o Google decide que política não é mais o forte, optando por destacar reportagens sobre cachorros, cobras, pássaros, gatos, além de matérias policiais e desastres nas rodovias e ruas das cidades, os jornais que dão amplo destaque aos acontecimentos dos governos e da sociedade, com material sério e necessário, perdem audiência. Por isso, volta e meia, os jornais começam a destacar histórias de cobras, animais fofos e “refúgios” turísticos. Se se quer acesso não há como escapar dos cata-cliques. É inescapável. Este é o mundo novo — o do primado da superficialidade. É nova “moral” jornalística.

Revolução Francesa contra o Google

Na Europa, onde o Google debate com os jornais e os governos a questão dos direitos autorais — a mídia quer, com razão, ser mais bem remunerada pelo uso, às vezes indiscriminado, de seu material —, os editores organizaram um movimento de protesto contra o portal de buscas (por sinal, muito mais do que um simples portal de buscas).

O Google diz que está num período de testes, por isso está removendo conteúdo dos jornais dos resultados de busca. Na verdade, ao tencionar, está pressionando os jornais e governos a serem menos duros na questão dos direitos autorais.

O Google alega que sua intenção é verificar o que chama de “atratividade” do conteúdo produzido pelos jornais. Na verdade, a big tech opera para reduzir o acesso dos jornais. O que contraria o que tem sido combinado com a Autoridade Francesa de Concorrência a respeito da questão dos direitos autorais.

Os jornais conquistaram o apoio do Repórteres Sem Fronteiras (RSF) na sua longa e dura batalha “contra” a ditadura das big techs — não só do Google, mas também do Facebook, do Instagram, do Telegram, entre outros.

O diretor de Defesa e Assistência do RSF, Antoine Bernard, considera que “o teste do Google é um ato de desdém para com os editores de imprensa, que estão simplesmente pedindo o que têm direito, de acordo com a lei francesa”. (Cito material divulgado pelo jornal “O Globo”.)

Antoine Bernard enfatiza que “o teste do Google tem uma consequência simples: tornar o conteúdo jornalístico invisível nos resultados dos motores de busca, com um impacto simbólico desastroso. Ele deve ser abandonado. Esta é uma condição sine qua non para a retomada das negociações com o objetivo de determinar uma remuneração justa pelo jornalismo nas plataformas digitais. O RSF apoia os editores de imprensa europeus e participará voluntariamente dos procedimentos legais iniciados na França pelo Sindicato dos Editores de Periódicos Impressos contra o Google, para defender o direito dos cidadãos à informação”.

Na França, as revistas conseguiram, por meio da pressão da Autoridade Francesa de Concorrência, suspender o teste do Google. Ou seja, a big tech não pode excluir seus conteúdos, nem mesmo provisoriamente.

No Brasil, no momento, comenta-se que o acesso dos jornais tem caído. Mas não há notícia formal de que o Google esteja aplicando o teste no país. Mas procede que notícias sérias, sobretudo de política, estão sendo escanteadas. Quando há “patrocínio” — pago —, o portal de busca divulga. Se o assunto gera escândalo, o próprio Google “patrocina”. Porque pode gerar mais anúncios, ou seja, recursos publicitários.

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