Em cenário de dificuldades orçamentárias, UFG se aproxima de consulta para nova reitoria

A comunidade da Universidade Federal de Goiás (UFG) deve realizar consulta para nomeação de novos gestores ainda neste ano. A escolha do(a) reitor(a) e vice-reitor(a) que comandarão a maior instituição pública de ensino superior do estado normalmente acontece em junho do último ano de gestão. A atual reitora da UFG, professora Angelita Pereira de Lima, termina seu primeiro mandato neste ano, portanto a consulta acadêmica deve acontecer nos próximos meses.

Cabe ao reitor ou reitora, entre outras funções, administrar e representar a universidade em seu cotidiano, além de nomear pró-reitores e convocar e presidir as Assembleias Universitárias. A formação de profissionais, a produção científica e as parcerias com a comunidade e o terceiro setor são diretamente afetados a depender de quem ocupa a cadeira de reitor. 

O Jornal Opção tentou a participação de representantes da atual gestão da universidade para produção desta matéria, mas a reitoria não quis se posicionar sobre o pleito que se aproxima e não enviou balanço parcial do mandato à reportagem. A definição de um calendário da eleição deve se dar ainda nos primeiros meses deste ano.

Na disputa

“A UFG consegue, a despeito das adversidades, cumprir seu papel e se tornar referência internacional”, diz Sandramara Matias | Foto: Reprodução / UFG

Sandramara Matias, docente que ficou em primeiro lugar na lista tríplice formada na última eleição, afirmou ao Jornal Opção que vai concorrer novamente à posição de reitora. Embora tenha sido a docente mais votada em 2022, ela não foi nomeada reitora pelo então presidente da República Jair Bolsonaro (PL). “Eu acredito que uma candidatura não nasce de um desejo individual”, disse a docente ao compartilhar que seu nome foi consenso em reunião organizada por colegas. “Considerando todo o histórico e a minha trajetória na universidade, eu decidi, sim, me candidatar”, colocou Sandramara.

Apesar de ter confirmado seu nome na disputa, a professora acredita que é muito cedo para definir a posição de vice. “Eu acho que a definição de vice é um processo que a gente constroi a partir da discussão sobre a gestão da universidade, então ainda não existe nome”, colocou.

Sandramara afirmou que os danos causados pelas restrições financeiras que começaram a surgir em 2015, e se intensificaram nos anos seguintes, foram apenas parcialmente recuperados. Entretanto, para Sandramara, a força e competência que a comunidade acadêmica demonstra garante o cumprimento da função social da universidade. “A UFG vem demonstrando essa força e ela consegue, como uma instituição que hoje é referência nacional e internacionalmente, cumprir o seu papel a despeito das adversidades”, resumiu. 

A formação de uma campanha plena ainda está distante, e por isso Sandramara prefere não estabelecer metas específicas para sua atuação. A professora afirma que “essas prioridades, esses compromissos mais urgentes, eles serão definidos e discutidos no processo de uma campanha construída coletivamente”. Ao garantir a formação de grupos de trabalhos específicos para elencar os próximos objetivos, ela diz acreditar que “esse processo de definir quais serão os desafios, quais serão os enfrentamentos, ele passa necessariamente por uma discussão coletiva”.

Maria Clorinda Fioravanti afirma que a UFG vive “ausência de recursos adequados para manutenção” | Foto: Reprodução / UFG

Ao Jornal Opção, a professora Maria Clorinda Soares Fioravanti, que foi cabeça de chapa na última eleição para reitoria, em 2021, explica que “ainda é muito cedo” para bater o martelo sobre a participação no pleito deste ano. Entretanto, a docente, que já foi diretora da Escola de Veterinária e Zootecnia, garante que existe movimentação de um grupo do qual faz parte que discute “eventual interesse em integrar uma nova equipe de gestão da universidade”.

“A movimentação que estamos organizando é para construir uma proposta coletiva, onde várias lideranças da UFG possam apresentar suas contribuições”, resumiu a professora titular.

Clorinda diz que não acredita “que o cenário orçamentário das universidades públicas vá se modificar em curto ou médio prazo”. Para ela, a instituição de ensino vive uma ausência de recursos adequados para manutenção, com “quase nada de investimento”, e essa situação precisa ser posta no centro das discussões da próxima gestão.

Caso oficializada na disputa, Clorinda reforça, entre outros pontos, seu compromisso com “ensino, pesquisa e extensão comprometidos com a democracia, justiça social e desenvolvimento sustentável”, garantindo sempre a autonomia universitária. Para ela é fundamental colocar a ciência, tecnologia, inovação, arte, cultura e esporte como eixos da relação entre a universidade e a sociedade.  

Num contexto geral, Clorinda entende que “não tem como não priorizar os aspectos relativos à saúde mental, desinformação em redes sociais e os enormes desafios das mudanças climáticas”, portanto a UFG, assim como todas as instituições federais de ensino superior (ifes) do país, deveria priorizar os temas.

Por fim, a docente se abstém de fazer balanço da atual gestão, considerando que Angelita e Jesiel ainda têm um ano à frente da reitoria. “Acredito ainda com muitos projetos em implantação”, disse. Entretanto, Clorinda é categórica ao afirmar: “indiscutivelmente, a UFG vive a realidade em que o mesmo grupo faz a gestão da instituição há 20 anos”. Apesar das mudanças nas figuras a ocupar a posição de reitor, “o núcleo duro [desse grupo] permaneceu intocado”.   

Eleição

Em entrevista ao Jornal Opção, o professor Edward Madureira, reitor da UFG por três mandatos, explica que o processo de escolha de um novo gestor passa pela consulta à comunidade acadêmica, que é oficializada pelo Conselho Universitário (Consuni), e então é enviada lista tríplice para o presidente da República. “Essa consulta não tem o valor de definir quem vai ser o reitor, mas ela serve de base para a eleição”, Madureira deixa claro o peso da decisão do Executivo Federal.

A consulta em si serve como base para formação da lista tríplice que acontece no Conselho Universitário, maior instância deliberativa da universidade. Essa escuta da comunidade acadêmica é organizada por representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), das entidades sindicais representantes dos servidores técnicos-administrativos e dos docentes, e conta também com participação da associação de pós-graduandos.  

Ex-reitor Edward Madureira explica funcionamento das eleições para reitores de universidades federais | Foto: Leoiran / Jornal Opção

“No caso da universidade, eles [entidades representativas] fazem uma consulta paritária, ou seja, cada segmento [discentes da graduação, servidores e pós-graduandos] representando um segmento do colégio eleitoral”, afirma o ex-reitor, que na sequência conclui: “normalmente, é esse resultado que embasa a inscrição para a eleição de fato que é no conselho”.

Uma vez criada oficialmente a lista tríplice pelo Conselho Universitário, esta é enviada à Brasília e cabe ao presidente escolher um dos nomes para ocupar a reitoria. Normalmente, o nome escolhido pela comunidade universitária é respeitado. A atual reitora da UFG, entretanto, é uma exceção. A professora Angelita Pereira de Lima foi a terceira colocada na lista tríplice criada pelo Conselho Universitário em 2021, após consulta à comunidade acadêmica. A reitora foi nomeada ainda na gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Vale ressaltar que o atual presidente da República, Lula da Silva (PT), já expressou publicamente intenção de respeitar a lista tríplice e a escolha da comunidade acadêmica.

Realidade financeira

A UFG (como muitas outras ifes) vem sofrendo, desde o governo Dilma (PT) com restrições orçamentárias que afetam o cotidiano da universidade. O orçamento geral é composto por três partes: o custo de pessoal (salários), investimento (verba para expansão) e custeio (dinheiro para manutenção das atividades). Apesar de todos esses setores estarem funcionando de forma insuficiente, o mais afetado teria sido a verba de custeio, que, na prática, é o recurso que a reitoria dispõe para fazer sua gestão no dia a dia.

O professor explica que a restrição orçamentária teve início em 2015, no fim do governo Dilma, e se intensificou nos anos seguintes. Apesar de haver “uma retomada no governo atual”, coloca Edward, a UFG ainda enfrenta desafios de ordem financeira e essa é uma realidade urgente que o próximo reitor ou reitora deverá enfrentar. 

Edward, que esteve à frente da UFG no último ano do governo Temer (MDB) e nos três primeiros de Bolsonaro (PL), afirma que “para manter a universidade em funcionamento, a gente teve que abrir mão de uma série de coisas, principalmente na questão de manutenção predial, de atualização de laboratórios, de investimentos…”.

Contas atrasadas, manutenção predial defasada, reivindicações dos servidores por melhores condições de trabalho e reajuste salarial ainda compõem em parte o cotidiano da instituição de ensino.

Ao lembrar do contexto financeiro ainda em recuperação, Edward destaca a importância do tripé ensino-pesquisa-extensão e finaliza dizendo: “o que eu espero da próxima gestão é que busque esse equilíbrio [entre as partes do tripé], fazendo isso tudo com excelência e relevância social”.

O corpo docente

Ao Jornal Opção, a professora Lueli Duarte, diretora da Faculdade de Educação, fala em “admiração” e “respeito” sobre a trajetória de crescimento da universidade entre 2022 e 2025. Reforçando a qualidade do ensino, pesquisa e extensão da instituição de ensino e a consulta à comunidade que se aproxima, Lueli provoca ao dizer que é preciso “discutir qual é o projeto de universidade que queremos”.

Lueli Duarte, diretora da Faculdade de Educação, diz: “é preciso discutir a universidade que queremos” | Foto: Reprodução / ADUFG

Por sua vez, a diretora diz apoiar a candidatura de Sandramara, pois, considerando sua trajetória dentro da universidade, acredita que “é a servidora docente mais qualificada para o cargo neste momento”.

Já o professor Marcos Gomes da Cunha, atual diretor da Escola de Agronomia, espera que a próxima gestão invista em políticas estudantis de permanência, ações para aproveitamento de vagas ociosas e maior atenção para qualidade da formação na graduação. Além disso, o docente concorda com os colegas nas deficiências geradas pela restrição financeira: “hoje nós temos uma infraestrutura que carece muito de um reparo, de uma manutenção”.

Cunha lamenta ao dizer que “a gente ainda não voltou a ver o que era antes da pandemia” no que se refere às taxas de evasão e de vagas ociosas. Ao mesmo tempo em que faz diagnóstico, o docente já pinta os desafios da próxima gestão. 

Por fim, o  professor Glauco Gonçalves, do Cepae-UFG, se mostrou otimista com a gestão que se aproxima, principalmente devido ao processo de reconstrução orçamentária que se iniciou no governo Lula. Negociação salarial com os servidores, reajuste nas bolsas de estudos e permanência estudantil e o PAC da Educação são alguns exemplos de medidas do Governo Federal que sinalizam à comunidade acadêmica. “Onde há dinheiro destinado à pesquisa, há uma ampliação de produção científica”, explica.

Considerando o cenário financeiro frágil herdado por Angelita e Jesiel, o professor avalia o período de 2022 a 2025 como positivo. A UFG seguiu crescendo e demonstrando “qualidade inquestionável”, com gestores que buscam “diálogos e procedimentos de exercício democrático na gestão da universidade”. O docente considerou prematuro apoiar qualquer nome antes da oficialização das chapas.

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