Agenda de leitura de escritores, jornalistas e intelectuais para 2025

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Reinaldo Barreto

Advogado, ex-procurador-geral do Município de Goiânia e ex-juiz do TRE-GO

1 — “Passado Perfeito” (Boitempo Editorial, 259 páginas, tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht), de Leonardo Padura. Uma obra que completa uma tetralogia chamada de estações, desnudando Cuba e seu povo.

2 — “Shakespeare — A Invenção do Humano” (Companhia das Letras, 896 páginas, tradução de José Roberto O’Shea), de Harold Bloom. Nesse monumental estudo do mundo criativo de Shakespeare, o crítico americano ousa afirmar que o homem de hoje e mesmo a civilização atual, inclusive com seus horrores , só existem conforme foi analisado e dissecado com os parâmetros shakespearianos. No mínimo, muito instigante a obra, além de transmitir vasto repertório da vida e obra do fenômeno britânico.

3 — “Os Bastidores” (Companhia das Letras, 586 páginas, tradução de José Rubens Siqueira), do escritor inglês Martin Amis. Em seu último romance o autor traz o que chamou de “escrita da vida”. Suas palavras: “Este romance, o romance atual, não é vagamente, mas estritamente autobiográfico. (…) A escrita exige liberdade, liberdade absoluta, inclusive liberdade de toda ideologia”. O prosador inglês fala da amizade e de sua admiração por Saul Bellow e Christopher Hitchens. Trata-se de um livro imprescindível para quem é ou planeja ser escritor.

4 — “Extinção” (Companhia das Letras, 480 páginas, tradução de José Marcos Mariani de Macedo), de Thomas Bernhard. O escritor austríaco, em seu último romance, utiliza suas hipérboles de forma ferina para prestar contas com o passado.

5 — “Projeto de Vida, Caminhos Para uma Vida que Valha a Pena” (Citadel, 272 páginas), de Clóvis de Barros Filho. Trata-se de uma coletânea de artigos na qual o popular filósofo discorre com leveza sobre temas variados, com títulos instigantes, como “As datas do epitáfio”

6 — “Um Enigma Chamado Brasil — 29 Intérpretes e um País” (Companhia das Letras, 287 páginas), organizado André Botelho e Lília Moritz Schwarcz. Os temas são: arte, ciência , sociologia, diversidade, desigualdade… todo o imenso conjunto de coisas que compõe o país de Machado de Assis, Clarice Lispector, Edival Lourenço e Lêda Selma.

2

Carlos Willian Leite

Poeta, crítico e editor da Revista Bula

A literatura mundial não se limita a contar histórias; ela abre uma janela para a diversidade cultural, histórica e humana que nos cerca. Ao cruzar fronteiras geográficas e temporais, livros de diferentes origens ampliam nossa compreensão do mundo e de nós mesmos, revelando temas universais como amor, solidão, memória e morte. Nesse espírito, o Programa de Leitura de 2025 propõe uma jornada literária dinâmica, aberta a descobertas ao longo do ano.

As sugestões iniciais abaixo servem apenas como um ponto de partida, convidando a explorar diferentes continentes, épocas e culturas, atravessando temas universais como solidão, amor e morte.

A viagem começa no Japão com “O Livro do Travesseiro”, de Sei Shōnagon. Escrito no século 10, durante o período Heian, o texto reúne anotações e listas que capturam o cotidiano da corte imperial japonesa, com descrições delicadas e observações detalhistas que revelam fragmentos efêmeros da vida aristocrática.

Ainda no Japão, “Coração”, de Natsume Sōseki, apresenta uma narrativa introspectiva e melancólica ambientada na transição entre as eras Meiji e Taishō. O livro explora temas como solidão, culpa e redenção ao acompanhar a complexa relação entre um jovem estudante e seu mentor, Sensei.

De Yukio Mishima, “Neve de Primavera” inaugura a tetralogia “O Mar da Fertilidade”. Situada no início do século 20, a história acompanha o amor trágico entre Kiyoaki e Satoko, abordando a tensão entre tradição e modernidade em um Japão em transformação.

Na Escandinávia, “A Morte de um Apicultor”, de Lars Gustafsson (sueco), reflete sobre mortalidade e a luta íntima diante do inevitável. Construída por anotações e memórias fragmentadas, a narrativa acompanha os últimos dias de um homem em meio à contemplação e ao fim próximo.

De islandês Jón Kalman Stefánsson, “Paraíso e Inferno” transporta o leitor para uma Islândia implacável, onde personagens enfrentam a dureza da natureza e o silêncio das paisagens gélidas. A obra mescla poesia e realidade, explorando os limites entre sobrevivência e desejo.

Da Dinamarca, “Sobre o Cálculo do Volume”, de Solvej Balle, desafia as noções do tempo e da repetição ao acompanhar uma personagem presa em um ciclo de dias que se repetem. A narrativa instiga reflexões sobre memória, rotina e o peso da existência.

Na literatura alemã, “Os Sonâmbulos”, de Hermann Broch, oferece um retrato da Europa em colapso entre o fim do século 19 e o início do 20. Dividida em três partes, a narrativa multifacetada explora a desintegração das estruturas morais e sociais, refletindo sobre o vazio existencial em tempos de mudança.

Da Rússia, “Um Dia na Vida de Ivan Denisovich”, de Aleksandr Solzhenitsyn, descreve a luta cotidiana de um prisioneiro em um gulag siberiano. Publicado em 1962, o texto transforma gestos simples em atos de resistência contra a opressão.

Do norueguês Jon Fosse, vencedor do Nobel de Literatura em 2023, “Trilogia” narra, com uma prosa onírica e circular, a jornada de Asle e Alida em busca de amor, abrigo e redenção. A estrutura simbólica explora escolhas humanas e temas como memória, injustiça e sacrifício.

Na literatura argentina, “O Deserto e Sua Semente”, de Jorge Baron Biza, apresenta uma narrativa visceral sobre trauma e reconstrução familiar, marcada por uma linguagem direta e impactante.

Da Noruega, “Herança e Testamento”, de Vigdis Hjorth, aborda os conflitos familiares e a memória em uma trama que expõe ressentimentos e feridas profundas, revelando tensões entre o passado e o presente.

Na Coreia do Sul, “Coelho”, de Bora Chung, mescla realismo e surrealismo em contos que exploram o absurdo, o grotesco e as sombras da condição humana.

Do francês Emmanuel Carrère, “Um Romance Russo” funde literatura e memória em uma narrativa autoficcional. O autor reflete sobre identidade, trauma e a busca por reconciliação com o passado.

Em “Tremor”, do nigeriano-americano Teju Cole, a prosa sensorial e contemplativa conduz o leitor por uma viagem íntima e global, entre memórias, fotografias e os vestígios do colonialismo, explorando as conexões invisíveis entre pessoas e lugares.

Na Austrália, “As Planícies”, de Gerald Murnane, apresenta uma narrativa minimalista e reflexiva, que explora as paisagens físicas e mentais do interior australiano, oferecendo um mergulho nas ambiguidades da percepção e da imaginação.

Da australiana Jessica Au, “Frio o Bastante para Nevar” revela uma delicada jornada entre mãe e filha durante uma viagem ao Japão. Em uma escrita sutil e meditativa, a autora reflete sobre laços familiares, pertencimento e memória.

Na literatura romena, “Nostalgia”, de Mircea Cărtărescu, reúne contos que transitam entre o real e o onírico. O autor mergulha nos mistérios da memória e da identidade, entrelaçando o fantástico e o cotidiano.

Do Brasil, “Água Turva”, de Morgana Kretzmann, explora a força do ambiente rural do Rio Grande do Sul, revelando personagens marcados por segredos, ancestralidade e violência, em uma narrativa carregada de poesia e simbolismo.

Por fim, “O Pavão Desiludido”, de Carlinhos Oliveira, é um exemplo da autoficção nacional. Com linguagem irônica e intimista, o autor reflete sobre identidade, memória e os conflitos da vida urbana, combinando crítica social com uma melancolia ácida.

O Programa de Leitura de 2025 é um projeto em construção. Ao longo do ano, novas sugestões surgirão, guiadas por críticas, indicações e encontros inesperados. Cada livro será uma porta para novas histórias e um convite a compreender melhor o mundo e a experiência humana.

Os livros nos desafiam a enxergar além de nossas próprias fronteiras culturais e pessoais, ampliando nossa empatia e capacidade de diálogo com o outro. Por meio deles, percebemos que, embora o amor, a dor e o desejo assumam formas diferentes em cada cultura, são experiências universais que nos tornam, em essência, humanos.

Essa lista, ainda embrionária, não se limita a ser um projeto literário, mas um convite a ampliar horizontes, questionar certezas e cultivar uma visão mais plural e reflexiva do mundo em que vivemos. Que cada leitura inspire novas perguntas e transforme o leitor em um viajante atento da vida e da palavra.

3

Hélverton Baiano

Jornalista e escritor

Quero começar 2025 lendo “As Coisas que Não me Lembro, Sou”, de Jacques Fux, com ilustrações de Raquel Matsushita, que comprei no lançamento, na livraria Palavrear, em 2024.

Quero conhecer um pouco da poesia do português Herberto Helder, lendo “Poemas Canhotos”, e daí ir para Brasília, com a Antologia Escolar “Poesia, Galera”, de Nicolas Behr, que é um poeta amigo e autor de uma poesia insinuante. Lerei também os livros do Clube do Livro Bula (da revista cultural Bula) do qual participo, mas que ainda não foram definidos.

Nesse caso de lista, a vontade de ler pode ultrapassar nosso tempo disponível, por isso o que vale mais é a intenção. Nessa toada quero navegar pelo romance “O Chão Sobre as Águas”, da escritora goiana anapolina Simone Athayde. Depois ler Lêda Selma, com seus contos e crônicas “Ou Casa ou Desocupa a Noiva” e também os sonetos de “Passageiro e Eterno”, de Getúlio Targino Lima. Em seguida, entrar em “Poesia Vaginal — Cem Sonetos Sacanas”, de Glauco Mattoso, tema que aprecio. Glauco é um de seus maiores representantes no Brasil.

Preciso ler “O Idiota”, de Fiódor Dostóievski, algumas peças de teatro de William Shakespeare, da coleção completa que acabei de adquirir, também “As Intermitências da Morte”, de José Saramago, e “Transblanco”, uma análise da poesia de Octavio Paz, feita por Haroldo de Campos (que também traduz o poema).

Em seguida, mas talvez a sequência não seja a mesma que coloco aqui, quero ler “Tanatose ou Breve Estudo das Necessidades do Fim”, de Thaise Monteiro, e ainda “Woody Allen e a História”, de Roberta Ribeiro.

Relaciono também o livro “Brancura”, de Jon Fosse, Nobel de 2023, “Metamorfoses”, de Cláudio Dutra, Rondinelli Linhares e Solemar Oliveira, “Os irmãos Sisters”, de Patrick de Witt, e “Vela Apagada Por um Sopro”, que Solemar Oliveira estará lançando pela editora Mondru. Acho que está de bom tamanho. Quero pegar mais leve na leitura ano que vem, porque pretendo me dedicar a um projeto de escrita.

4

Soraya Ferreira de Castro

Advogada

Dezembro. Assim como a confiança do novo dia quando o relógio bate meia-noite, o último mês do calendário chega com sua maior certeza. Papai Noel? Não; listas de final de ano. E uva passa. Eu, que passo as horas de trabalho sendo engolida por listas e tabelas, assumi a decisão de (tentar) viver longe delas nos momentos de sossego. Acreditava no sucesso desta rebeldia até receber o convite para escrever a minha – musiquinha de suspense – lista de leitura para 2025. Contrariando minha própria resolução, aceitei o desafio. Surpresa em ser lembrada, já que sou apenas uma simples leitora, ou ego massageado, a verdade é que abracei com carinho esse pedido e deixo aqui a relação das obras que pretendo ler no próximo ano. Segura essa, Obama!*

Vamos à lista?

Recentemente, li “Anna Kariênina”, de Liev Tolstói, matando a saudade que estava dos grandes romances. A viga mestra da minha formação literária chama-se Dostoiévski, então não pode faltar um russo. Nesse caso, uma russa. Vou de “Meninas”, Liudmila Ulítskaia. O livro reúne seis contos protagonizados por meninas de 9 a 11 anos, que formam um ciclo de histórias arquitetado pela autora. Ambientado em Moscou, no período próximo à morte de Stálin, a atmosfera da obra é alimentada por lembranças autobiográficas da autora. Vou unir a sensibilidade com que os russos traduzem a complexidade das relações sociais à minha vontade de ler uma autora russa que esteja viva para abrir essa lista de leitura.

Saio da antiga U.S.S.R. (sim, a sigla em português é URSS, só que é impossível não cantarolar a música dos Beatles quando vejo qualquer coisa sobre a União Soviética…) e caio na Espanha: “A Intuição da Ilha: os dias de José Saramago em Lanzarote”, Pilar del Río. A propaganda do livro não poderia ser mais sugestiva, tratando-se de “um convite a todas as pessoas que desejam tornar-se também, de alguma forma, amigas e amigos de José Saramago.” Além de querer ser amiga de Saramago, a narração desse período da vida do português foi feita pela esposa, fazendo-me acreditar que a obra abriga três das coisas que mais adoro: livros, amor e fofoca.

Por falar em fofoca, vocês sabiam que Salman Rushdie, autor de “Os Versos Satânicos”, sofreu um atentado em 2022? Não, não foram os radicais muçulmanos cumprindo uma antiga promessa de morte, mas um jovem americano que invadiu uma palestra do escritor e desferiu várias facadas pelo seu corpo. Já que Brás Cubas não explicou como se escreve um romance do além, comemoro o fato do indiano ter escapado para nos contar tudo. “Faca”, lançado este ano, é o relato de um sobrevivente. Gosto bastante do estilo de Rushdie, que combina elementos fantásticos a uma ironia que é sua marca registrada. Tenho certeza que será uma deliciosa — e emocionante — leitura.

Elementos fantásticos. Gosto dessa expressão. Bom, gosto mesmo é do significado dela: Gabriel García Márquez. Gabo, para os amigos (ele é meu melhor amigo, então posso chamá-lo assim). Realismo fantástico, realismo mágico… Sejamos sinceros: mágico é o fato desse homem ter existido. Deu para perceber que tenho uma queda pelo colombiano? Não passo um ano sem (re) ler algo escrito por ele, e não seria diferente em 2025. Aproveitando a onda da série produzida pela Netflix, fecho com “Cem Anos de Solidão”. Muito já foi dito sobre o livro, então, para não repetir o que o Google pode bem explicar, coloco em palavras o sentimento que enche meu coração sempre que digo adeus a Macondo: “obrigada, universo, por ter colocado Gabo na minha vida”.

A lista é pequena porque, assim como as coisas, ela tem vida própria. Pode ser alterada, afinal, “tudo é questão de despertar a sua alma”. Olha… esse Gabriel sabia mesmo escrever.

*A tão aguardada lista anual dos livros preferidos de Barack Obama sempre traz excelentes dicas.

5

Nilson Jaime

Presidente do Instituto Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado

Para mim, leitor irreverente e indisciplinado – hoje assoberbado pela edição-geral de 18 livros e gestão de uma instituição cultural –, agenda não é o termo adequado. Seria mais apropriado “lista de intenções”, pois geralmente deixo de ler o que planejo e insiro outros títulos que adquiro, ganho ou recebo para fazer apresentações ou prefácios. Clamando aos céus para que o mundo digital não me perturbe na execução das intenções de leitura, vamos à minha lista de intenções.

1 – “Crônicas lítero-geográficas” (Editora UEG, 142 páginas). Quinze crônicas do doutor em Geografia Ricardo Assis Gonçalves, docente da Universidade Estadual de Goiás e sócio titular do Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado (Icebe) e dos Institutos Históricos e Geográficos de Goiás e Tocantins.

2 – “Linhas do Tempo – experiências propulsoras para a superação” (Total Books, 147 páginas), de Tatiana Guimarães. A médica e palestrante gaúcha, hoje radicada em Goiânia, reúne em livro suas impressões sobre a importância das experiências de vida das pessoas e seus impactos sobre elas.

3 – “Vozes Mulheres” (Kelps, 169 páginas), de Rosy Cardoso. A artista plástica e poeta goiana interpreta nesse estudo as imagens da mulher Afro-Brasileira em “Olhos D´água”, de Conceição Evaristo.

4 – “Acuri” (Editora Pena Lux, 166 páginas). Romance do professor e pesquisador Cláudio Nascimento, goiano de Porangatu e professor no Distrito Federal. As apresentações de capa não dão pista das surpresas que aguardam o leitor no decorrer da trama.

5 – “Viver no sertão: fazendas do Sudoeste de Goiás (1830-1930)” (Editora CRV, 467 páginas), de Rafael Alves Pinto Júnior. Um levantamento da arquitetura das fazendas do Sudoeste de Goiás relativas ao período de 1830 a 1930.

6 – “As theses de Pedro Ludovico e Brasil Caiado – uma contribuição à história da medicina” (AD Arte & Design, 210 páginas). Autoria dos doutores em História Rildo Bento de Souza (UFG) e Jales Guedes Coelho Mendonça (IHGG). Trata-se de um fac-símile das teses de formatura dos dois mandatários goianos, membros de famílias rivais na política, antecedidos por cinco capítulos contextualizando os dois médicos-governantes e a importância de suas teses para a história documental da medicina em Goiás.

7 – “As raízes profundas do Jequitibá – o processo de construção mítica de Pedro Ludovico” (Trilhas urbanas, 395 páginas), do doutor em História Rildo Bento de Souza, docente da Universidade Federal de Goiás e sócio titular do Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado (Icebe) e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG). O subtítulo do livro revela a temática escolhida pelo talentoso historiador.

8 – “Luiz Carlos Prestes – um revolucionário entre dois mundos” (Companhia das Letras, 536 páginas). Minuciosa biografia do líder comunista, pelo conceituado professor da Universidade Federal Fluminense e ex-exilado Daniel Aarão Reis.

9 – “História do Brasil” (Edusp, 680 páginas). Edição atualizada e ampliada do clássico livro do historiador Boris Fausto. Essencial para historiadores e pesquisadores da historiografia brasileira.

10 – “Brasil: uma história – cinco séculos de um país em construção” (LeYa, 478 páginas). Por Eduardo Bueno, o irreverente “Peninha”, do podcast Buenas Ideias. Edição revista e ampliada de um livro de leitura fácil, sem abrir mão da profundidade historiográfica.

11 – “De Nova Lisboa a Brasília – a invenção de uma capital (Séculos XIX-XX)” (Editora UnB, 352 páginas). Trabalho de referência sobre a mudança da capital do brasilianista francês Laurent Vidal, professor da Sorbonne.

12 – “Enquanto Agonizo” (L&PM, 224 páginas), de William Faulkner (1897-1962), Prêmio Nobel de 1949. Tradução de Wladir Dupont. Presente do amigo Euler de França Belém, o livro – edição simples, “bolsilivro” – foi publicado originalmente em 1930 e considerado um dos cem melhores romances em inglês do século XX. De Faulkner, é o livro preferido do eminente crítico literário Harold Bloom. Deste, há um ensaio excepciona sobre o romance polifônico.

13 – “A livreira de Paris” (Intrínsica, 368 p.), de Kerri Maher, tradução de Paula Diniz. O romance relata uma história de amor entre duas mulheres e a criação da icônica livraria Shakespeare and Company, em Paris. É uma história real.

14 – “Le monde des fourmis” (Éditions du Rocher, 285 páginas), de Rémy Chauvin. Sem tradução para o português, trata do “mundo das formigas”, suas particularidades científicas e curiosidades. Tema de minha tese de doutorado, “A Mirmecologia: estudo das formigas”.

15 – “La vie des fourmis” (Odile Jacob, 303 páginas), por Laurent Keller e Élisabeth Gordon. Sem tradução para o português, apresenta a fascinante “vida das formigas”, tema de meu doutorado em Agronomia.

16 – “Científica – o guia completo do mundo da ciência” (H. F. Ullmann, 512 páginas). Organizado por Allan R. Glanville, com tradução de Tandem Verlag, trata-se de um compêndio científico sobre Matemática, Física, Astronomia, Biologia, Química, Geologia e Medicina. Um clássico em papel couchê, formato 30 x 25 cm. Escuse-se o exagero do subtítulo.

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Natália Garcês

Livreira, proprietária da Livraria Palavrear

Sou uma pessoa de listas, e com a leitura não poderia ser diferente.

Tenho vários livros/autores que já estão na minha lista para 2025, mas destaco seis que estou ansiosa para ler.

O primeiro, e que já iniciarei em janeiro, é um projeto de leitura: “Um Defeito de Cor”, da Ana Maria Gonçalves.

“O plantador de abóboras”, de Luís Cardoso, será o livro de fevereiro para o novo clube de leitura da Palavrear, o Palavreando pelo Mundo.

Tem um tempo que já estava de olho no “Apanhadora de pássaros”, de Gayl Jones, e já coloquei na lista de 2025.

Gabriela Cabezón Cámara é outra autora que estou ansiosa para conhecer, e vou começar por “As aventuras de China Iron”.

No Clube Palavrear de Literatura Contemporânea, vamos ler “Memória de ninguém”, da Helena Machado, outra autora que ansiava pela leitura.

E por fim, eu tinha uma dívida com Cecília Meireles e o “Romanceiro da inconfidência”, que será a leitura para o Clube de Poesia.

7

Itaney F. Campos

Desembargador e escritor

Reconheço que ultimamente o meu nível de leitura vem caindo vergonhosamente. Digo vergonhosamente por que o acadêmico de verdade (que pretendo ser) tem na leitura e na escritura um dever de ofício.

Eu, que lia um livro por bimestre, em média, reduzi-me à leitura de um por quadrimestre. Em meu favor devo dizer que a intenção de intensificar a leitura continua viva. Tanto é que reservei, para o primeiro semestre de 2025, cinco títulos, inclusive um de um autor goiano.

É verdade que o primeiro livro destacado, “Nove cartas sobre a Divina Comédia”, com subtítulo “Navegações pela obra clássica de Dante”, é leitura já iniciada e faltando pouco para ser concluída, mas é uma literatura tão magnífica que venho degustando com certa calma, com encantamento que dispensa a pressa. O autor, Marco Lucchesi, da Academia Brasileira de Letras, comenta o imortal poema descritivo da viagem do Dante pelos nove círculos do Inferno, Purgatório e Paraíso. Nessa jornada o escritor florentino é guiado pelo poeta Virgilio, por sua musa Beatriz e, ao final, por São Bernardo, para contemplar a gloriosa face Divina. O livro de Marco Lucchesi, de fascinante estilo, desvela a grandiosidade do poema medievo, obra prima da literatura universal.

O segundo livro é do escritor colombiano Gabriel García Márquez, o Gabo, premiado com o Nobel de Literatura, intitulado “Em agosto nos vemos”, descrito como “um hino à vida, ao desejo feminino e à resistência do prazer”, apesar da transitoriedade de tudo. García Márquez é sempre envolvente e seu gênio não se limita ao célebre “Cem anos de solidão”, marco do realismo mágico.

“Vida e época de Michael K”, do sul-africano J. M. Coetzee, também está na lista. Este premiado romance narra a tragédia da vida de Michael K, um negro pobre e andarilho, em processo de desumanização, num país convulsionado pela guerra civil. Coetzee também foi contemplado com o Nobel de Literatura e é um dos mais consagrados autores da modernidade.

O terceiro livro é de Jefferson Tenório, um carioca radicado em Porto Alegre, com o título “O avesso da pele”, a narrativa de um homem negro e solitário, em busca de reconstituir a trajetória do pai, e do próprio protagonismo, por entre as fraturas existenciais, em um país racista.

Por fim, destaquei “Alma em fogo – Memórias de um militante político”( Fundação Maurício Grabois/ Anita Garibaldi), do inquieto ex-deputado federal goiano Aldo Arantes, em que relata a sua luta, ao longo da vida, pela afirmação dos ideais comunistas. Parlamentar de muitos mandatos e intrépido militante político, filiado ao PC do B, o autor descreve sua movimentada trajetória de vida, que se sabe turbulenta, sob constante risco, porque movida por ideais de transformação social, em um período de longa ditadura civil-militar. No mínimo, Aldo traz o testemunho de quem sofreu na pele as agruras do arbítrio e do obscurantismo instaurados no Brasil, a partir do golpe militar de 1964.

Se estas notas despertarem em alguém o interesse na leitura de alguma dessas obras, já dar-me-ei por plenamente gratificado.

8

Irapuan Costa Junior

Escritor e ex-governador de Goiás

1 — Uma coletânea de contos dos maiores autores russos: Liev Tolstói, Tchékhov, Dostoiévski, Saltykov, Cholokhov, Pasternak, Liermontov etc.

2 — Um livro de crônicas do escritor português António Lobo Antunes. Trata-se de um dos maiores prosadores vivos.

3 — Um livro de contos de Agustina Bessa-Luís. Além de prosadora, é autora de biografias de Florbela Espanca e do Marquês de Pombal.

4 — Um livro de Espinosa: “Breve Tratado sobre Deus, o Ser Humano e Sua Felicidade”.

5 — “A Primeira Grande Corrida do Ouro no Ocidente e a Invenção do Campo Político em Goiás — 1707-1949” (Editora UEG), do historiador Fernando Lemes. Trata-se de um pesquisador de um historiador.

Também duas releituras:

6 — “A Mente Esquerdista — As Causas Psicológicas da Loucura Política”, de Lyle H. Rossiter.

7 — “Paulo e Virginia”, de Bernardin de Saint-Pierre.

9

Veronika Topic Eleutério

Escritora

Minhas leituras geralmente são planejadas de acordo com referências passadas, recomendações advindas dos professores dos cursos que frequento, de pesquisas literárias, de pautas atuais, o meu interesse nas novas obras de autores que já comprovei a qualidade literária, e também por indicações das integrantes do meu book club (Clube literário Dubrasil).

Minha lista para 2025 será um tanto eclética, enquanto em 2024 fiquei muito focada em ler autoficções, agora me interesso por literaturas que abordam questões de conflitos geopolíticos, temáticas de identidades de gênero, feminismo, questões de ordem filosóficas e também literaturas africanas.

1 — “Monique se liberta”, de Édouard Louis.

A luta identitária da mãe e de um homossexual lutando contra a pobreza, a falta de recursos que impede que Monique tenha uma vida independente e autônoma. Louis retrata que a liberdade não é apenas uma condição psíquica e moral, é também uma questão material.

2 — “Detalhe menor”, de Adania Shibli.

No verão de 1949 — um ano depois da Nakba, episódio catastrófico que expulsou mais de 700 mil palestinos de suas terras —, soldados israelenses atacam um grupo de beduínos no deserto do Neguev, dizimando a todos, exceto uma adolescente, que é capturada e violentada. Anos mais tarde, uma palestina busca desvendar alguns dos detalhes que cercam o caso. Com uma prosa inquietante, este livro ressoa de maneira fervorosa a experiência da expropriação.

3 — “O mito da beleza”, de Naomi Wolf.

A jornalista afirma que o culto à beleza e à juventude da mulher é estimulado pelo patriarcado e atua como mecanismo de controle social para evitar que sejam cumpridos os ideais feministas de emancipação intelectual, sexual e econômica conquistados a partir dos anos 1970.

4 — “O ano que morri em Nova York, de Milly Lacombe.

A protagonista da história, é uma mulher de quarenta e poucos anos que vive em Nova York com a companheira de mais de dez anos quando de repente, o relacionamento acaba. Com uma das melhores amigas diagnosticada com câncer de mama e a certeza de ter sido traída, a personagem volta para o Brasil, e precisa se reconstruir.

5 — “Escalavra”, de Marcelino Freire.

A história é centrada na relação silenciosa entre um filho e seu pai, que se desenrola em subtextos e resvala, em parte, na história do próprio Marcelino com o pai. O romance trespassa por várias denúncias e subtemas: a necessidade da educação e o poder revolucionário dos livros; os resíduos pré-históricos encontrados na caatinga e nas suas serras e o desconforto com a montagem de parques eólicos, que deixaram muitos sertanejos sem terras.

6 — “Umm Saad”, de Ghassan Kanafani.

O livro apresenta uma personagem que se tornou, um símbolo da resistência palestina. A personagem Umm Saad é originária de uma pequena aldeia rural e, depois da Nakba (catástrofe), passa a viver num campo de refugiados em Beirute.

A luta de Umm Saad é a luta contra o desterro, o deslocamento, a desapropriação, a catástrofe engendrada por ideais distópicos e desmedidos.

7 — “O mapeador de ausências”, de Mia Couto.

Um romance que perpassa o período colonial e o pós-independência de Moçambique. Nele conhecemos internamente a Polícia Internacional de Defesa do Estado, a Frente de Libertação de Moçambique, e vivenciou-se o maior massacre de toda a Guerra Colonial portuguesa em África (1974) em Inhaminga e o ciclone que devastou a cidade de Beira (2019), cidade natal do autor.

Mia Couto descreve o romance como uma homenagem à cidade de sua infância destruída, recompondo memórias.

8 — “Línguas”, de Domenico Starnone.

Um menino passa horas na janela do seu apartamento fantasiando ser poeta. No prédio da frente, uma menina linda de vasta cabeleira negra se arrisca dançando no parapeito da sacada. Por um amor assim, um menino destemido pode se lançar à proezas extremas, mas há também um amigo, igualmente fascinado pela menina, e estes personagens ficam inextricavelmente unidos para sempre. Os dois garotos, apaixonados à primeira vista pela milanesa, embarcam em uma intensa rivalidade para atrair sua atenção. Até que, um dia, durante as férias, ela desaparece.

9 — “A trilogia”, de Deborah Levy — “Coisas que não quero saber”, “O custo de vida” e “Bens imobiliários”.

A trilogia questiona nossa compreensão de patrimônio e posse, onde a narradora precisa lidar com a doença terminal e a falta da mãe, depois a prisão do pai, opositor do regime do Apartheid, e o último livro da trilogia é um romance polifônico, com ecos de vários escritores.

10 — “Um teto todo seu”, de Virginia Woolf.

Um dos trabalhos mais conhecidos de Virginia Woolf, este ensaio é uma reflexão sobre as condições sociais da mulher e sua produção literária. As dificuldades relatadas pela autora para que mulheres tenham uma posição de destaque na sociedade e para a expressão livre de seus pensamentos são brutalmente reais e atuais.

11 — “Eu sou o monstro que vos fala”, de Paul B. Preciado.

Filósofo trans e um dos maiores pensadores da atualidade, Paul Preciado desafia a psicanálise a se abrir às novas abordagens político-sexuais. Em novembro de 2019, Paul Preciado foi convidado a falar para 3.500 psicanalistas na Jornada Internacional da Escola da Causa Freudiana em Paris, cujo tema era “Mulheres na psicanálise”. Seu discurso se inspirou no emblemático Relatório a uma academia, de Franz Kafka, em que um macaco diz a uma assembleia de cientistas que a subjetividade humana é uma jaula como a que o aprisionou. A fala de Preciado provocou um abalo sísmico. O filósofo apresentou à plateia o dilema que, acredita ele, deve ser enfrentado pela psicanálise.

12 — “Kibogo subiu ao céu”, de Scholastique Mukassonga.

O pano de fundo é a guerra civil de 1994, quando se deu o genocídio de 800 mil tutsis, entre os quais grande parte da família da autora, em meio à rivalidade étnica incentivada pelos antigos colonizadores. Neste romance, que se passa em tempo anterior ao genocídio, Ruanda ainda está sob domínio belga. Uma pequena vila vive o impacto da presença dos missionários cristãos, que colocam em xeque suas divindades e preceitos enquanto crianças e homens são recrutados para realizar trabalhos forçados.

10

Larissa Brasil

Escritora

O mês de dezembro é a época perfeita de pensar nas leituras do próximo ano. Uma simples curadoria pode fazer a diferença. Avaliando a quantidade de livros nacionais escritos por mulheres, me propus a ler livros escritos por autoras nacionais e contemporâneas em 2025. A escolha foi baseada nas autoras, independente do gênero literário, também me desafiei a ler histórias diversas, que se passam em todas as regiões do nosso vasto país.

Aqui vai a minha lista Leia Mulheres Vivas 2025

Janeiro

Vespeiro, de Irka Barrios (Rio Grande do Sul)

Escritora de Horror e finalista do prêmio Jabuti em 2020.

Vespeiro versa sobre os horrores cotidianos, especialmente os femininos.

Fevereiro

Ecos de Melancolia de Larissa Prado (Goiás)

Escritora do insólito e ganhadora do Prêmio Aberst de Literatura 2021.

Ecos de Melancolia versa sobre tristeza, melancolia e o sombrio que existe dentro de cada um de nós.

Março

Se Não Fossem as Sílabas de Sábado de Mariana Salomão Carrara

Escritora e vencedora do Prêmio São Paulo 2023.

Se Não Fossem as Sílabas de Sábado versa sobre o luto, maternidade e recomeços.

Abril

Sentinela de Juliane Vicente (Rio Grande do Sul)

Escritora e vencedora do Prêmio Malê 2023.

Sentinela versa sobre um futuro distópico e opressão de mulheres.

Maio

Corpo Desfeito de Jarid Arraes (Ceará)

Escritora e cordelista, vencedora dos prêmios APCA e Biblioteca Nacional.

Corpo Desfeito versa sobre as consequências do abuso físico e psicológico em crianças.

Junho

Se Tu me Quisesse de Jadna Alana (Paraíba)

Escritora e finalista do Prêmio Kindle de Literatura (2022).

Se Tu me Quisesse versa sobre o nordeste brasileiro por uma perspectiva mística, poética e profunda.

Agosto

Vermelho de Paula Febbe (São Paulo)

Escritora de Horror e roteirista ganhadora do prêmio Ibero-americano de cinema.

Vermelho versa sobre sexualidade, amor e os limites do desejo.

Setembro

A Quarta Pessoa de Yasmin Callado (Pará)

Escritora e ganhadora do Prêmio Aberst de Literatura 2024.

A Quarta Pessoa versa sobre segredos, medos e mortes.

Outubro

Mulher com Brânquias de Patrícia Baikal (Distrito Federal)

Escritora e finalista Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica 2024.

Mulher com Brânquias versa sobre metamorfose, medo e a loucura feminina.

Novembro

Búfalos Selvagens de Ana Paula Maia (Rio de Janeiro)

Escritora e roteirista vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura

Búfalos Selvagens versa sobre assassinatos, conspirações e o fim do mundo.

Dezembro
Beijos no Chão de Dani Costa Russo (Espírito Santo)
Criadora, curadora e editora do selo Auroras.
Beijos no Chão versa sobre violência doméstica, solidão e apatia.

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