Entenda relação da família Bolsonaro e de Rubens Paiva no interior de SP

Eldorado Paulista, uma cidade do interior de São Paulo, foi o palco de uma relação que refletiu as profundas divisões sociais e políticas do Brasil entre as décadas de 1940 e 1970. Duas famílias, os Paiva e os Bolsonaro, viveram experiências distintas, mas suas histórias se cruzaram de maneira marcante, refletindo os contrastes de classe, poder e ideologia que marcaram a sociedade brasileira da época.

Segundo informações da reportagem da BCC News Brasil, nos anos 1940, Jaime Almeida Paiva, empresário de Santos, comprou vastas terras em Eldorado Paulista, consolidando-se como um grande fazendeiro e influente figura local. Sua fazenda Caraitá tornou-se o centro econômico e social da cidade, simbolizando poder e riqueza. Jaime Paiva foi eleito prefeito de Eldorado em duas ocasiões, reforçando seu domínio sobre a cidade e sua população.

Igreja Matriz Nossa Senhora da Guia da cidade de Eldorado | Foto: Reprodução

Enquanto isso, a família Bolsonaro, modesta e de classe média baixa, vivia em uma casa simples na cidade. Percy Geraldo Bolsonaro, pai de Jair, era dentista prático, ou seja, atendia a população sem formação acadêmica formal. Jair, ainda jovem, ajudava no sustento da casa, enquanto a família enfrentava dificuldades financeiras que contrastavam fortemente com o luxo e privilégios dos Paiva.

Essa disparidade econômica e social entre as famílias ficou evidente ao longo dos anos, com os Paiva desfrutando de uma vida de opulência enquanto os Bolsonaro lutavam para sobreviver. No entanto, as tensões entre elas tomariam proporções ainda maiores com a escalada política que marcou o Brasil nos anos 1960 e 1970.

A escola em que Bolsonaro cursou seus estudos agora é chamada em homenagem ao pai de Rubens Paiva | Foto: Mariane Rossi

Na década de 1970, com a ditadura militar no poder, Rubens Paiva, filho de Jaime, se destacou como deputado federal e crítico da repressão política. Sua postura oposicionista colocou-o na linha de frente da perseguição do regime militar, que silenciava opositores. Esse clima de repressão se intensificou em 1970, quando Carlos Lamarca, guerrilheiro de esquerda, entrou em confronto com a polícia militar em Eldorado. Jair Bolsonaro, ainda adolescente, foi uma das testemunhas do tiroteio, episódio que marcaría sua visão sobre a política e a repressão.

Carlos Lamarca, militar brasileiro foi um dos líderes da luta armada contra a ditadura militar instaurada no Brasil em 1964. | Foto: Arquivo

Depois do tiroteio, surgiram alegações de que Rubens Paiva teria ajudado Lamarca a formar uma guerrilha na região. Embora essas acusações nunca tenham sido comprovadas, Jair Bolsonaro usou o caso em sua carreira política, gerando controvérsias sobre a figura de Paiva e ampliando a divisão entre as famílias. O assunto foi central para o discurso de Bolsonaro contra a família Paiva, que ele associava ao regime militar e à oposição à ditadura.

Apesar das diferenças políticas e sociais, relatos informais indicam que as famílias Paiva e Bolsonaro tiveram algumas interações. Jair, por exemplo, teria jogado futebol nas terras dos Paiva, junto a outros meninos, e até furtado mexericas de sua fazenda, episódios que contrastavam com as disparidades entre as duas famílias. Esses relatos ajudam a ilustrar como as classes sociais coexistiam, embora distantes, em Eldorado.

Foto: Reprodução Instagram

Em 1971, Rubens Paiva foi preso e desapareceu, um episódio que se tornou um símbolo da violência do regime militar. A versão oficial apontou que Paiva morreu sob tortura, mas Jair Bolsonaro, ao longo de sua carreira, questionou essa versão, alimentando um debate público sobre o caso. O desaparecimento de Rubens Paiva se tornou um dos pontos de maior polarização na relação entre as famílias.

Com o passar dos anos, a relação entre as duas famílias se intensificou, marcada por desentendimentos e divergências políticas. Jair Bolsonaro passou a criticar duramente os Paiva, descrevendo-os como representantes do latifúndio e da elite rural. Ele via a fazenda Caraitá como um símbolo da concentração de poder e riqueza, contrastando com sua própria luta para superar as dificuldades econômicas.

Além disso, há versões não confirmadas de que Bolsonaro tenha participado das buscas a Lamarca após o confronto de 1970, o que aumentaria ainda mais a tensão entre as famílias. Essa acusação, se verdadeira, reforçaria o distanciamento entre as duas partes, que, além das diferenças de classe, tinham visões políticas antagônicas.

Eduardo Bolsonaro fez uma postagem em que associava Lamarca à família Paiva | Foto: Facebook

Em um gesto simbólico de desrespeito, Bolsonaro, já adulto e em sua carreira política, cuspiu no busto de Rubens Paiva. Esse ato escancarou o abismo que se formou entre as famílias, marcando o ponto culminante de uma relação marcada pela hostilidade. A partir desse momento, as histórias pessoais e políticas dos Paiva e Bolsonaro seguiram rumos distintos, refletindo as divisões do Brasil daquela época.

A família Paiva deixou Eldorado no final da década de 1970, enquanto os Bolsonaro consolidaram ainda mais sua presença na cidade. Os irmãos de Jair Bolsonaro tornaram-se empresários de sucesso, expandindo seus negócios e aumentando sua influência econômica. Com a saída dos Paiva e a ascensão dos Bolsonaro, o cenário político e econômico de Eldorado passou a ser dominado pelos Bolsonaro, marcando uma mudança significativa na dinâmica local.

Hoje, as memórias sobre Jaime Paiva continuam a ser discutidas. Para alguns, ele é lembrado como um líder que ajudou a desenvolver a cidade, enquanto outros o consideram um símbolo de poder autoritário. As divisões sobre sua figura refletem as complexas relações de classe e poder que definiram a história de Eldorado e continuam a ser debatidas.

Retrato familiar: Eunice e Rubens estão sentados ao lado de sua mãe, Dona Aracy, e Vera. Atrás, em pé, aparece Eliana. No chão, da esquerda para direita, estão Ana Lúcia, Maria Beatriz e Marcelo. | Foto: Arquivo de família

O legado das famílias Paiva e Bolsonaro ainda é um tema controverso, especialmente em relação às acusações feitas por Bolsonaro sobre o envolvimento de Rubens Paiva com a guerrilha e os eventos da ditadura militar. O filho de Rubens, Marcelo Rubens Paiva, é um crítico ferrenho das declarações de Bolsonaro, o que mantém acesa a discussão sobre a memória histórica desse período.

Eldorado Paulista, com suas memórias divididas, permanece marcada pelas histórias de duas famílias que refletem as desigualdades e tensões de uma época conturbada. As relações entre os Paiva e os Bolsonaro são um microcosmo das divisões que moldaram o Brasil, e seu legado continua a influenciar tanto a cidade quanto a política do país.

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