Morre artista Renina Katz, desenhista e gravurista brasileira, aos 99 anos

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DAVI GALANTIER KRASILCHIK
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A artista Renina Katz Pedreira, pintora e ilustradora que variou entre o realismo social e a abstração durante a sua trajetória artística, morreu nesta terça-feira (21), aos 99 anos, em sua casa, em Niterói, no Rio de Janeiro. Ela ficou particularmente conhecida por suas gravuras, pelas quais pôde incorporar uma série de aspectos líricos ao seu trabalho. A informação foi confirmada por uma pessoa próxima à família.

Nascida em 1925, Katz começou a desenvolver suas primeiras obras na década de 1940, quando se dedicou especialmente a pintar retratos e paisagens do Rio de Janeiro. Nessa época, suas pinturas traziam diversos elementos do expressionismo, importante movimento artístico.

Ela inicia os seus estudos de xilogravura e cursa a Escola Nacional de Belas Artes entre 1947 e 1950. Incentivada pelo artista Napoleon Potyguara Lazzarotto, conhecido como “Poty”, ela decide ingressar o curso de gravura em metal lecionado por Carlos Oswald e oferecido no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro.

A partir dos anos 1950, seus trabalhos passam a adquirir um caráter social, e a artista começou a priorizar figuras marginalizadas como os centro de suas obras. Trabalhadores urbanos e representantes de classes sociais mais baixas ganharam as telas de Katz e renderam grandes séries de gravuras, como as dedicadas à questão dos retirantes e outras reunidas no álbum “Favelas”, lançado em 1956.

Nesse primeiro momento, suas obras assumem uma frontalidade maior, realistas e diretas na construção de suas mensagens, também trabalhadas com cuidado técnico. O contraste acaba se tornando um dos aspectos mais reconhecidos de suas realizações, conferindo peso e dramaticidade a cenas que dissecavam diversas mazelas sociais.

Na metade dos anos 1950, seu estilo passa a incorporar uma maior abstração, se desviando do realismo social para abranger obras mais figurativas. Ela preserva a sua relação com as paisagens, mas concentra a sua construção a partir de sugestões. Os desenhos ganham transparência em suas composições, em diálogo com diferentes aspectos da memória humana.

Nos anos 1970, Katz inicia a sua produção de litogravuras, ampliando sua inscrição para bases constituídas por pedra. Essa diversidade permitiu que a artista trabalhasse novas variedades tonais, e a cor foi evoluindo em seus trabalhos como consequência do uso de outras matrizes.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, ela recusou a ideia de já ter integrado uma “fase abstrata” e disse que suas paisagens dependem da interpretação daqueles que as veem. Dona de uma liberdade crescente conforme a progressão de seu trabalho, ela também afirmou que suas obras de eixos mais figurativos nunca ambicionaram a ilustração de ideias.

“Queria o impacto da liberdade e da ausência dela”, disse Katz ao falar da série “Carcéres”, em que explora tons de vermelho e preto para compor grades geométricas.

A artista também deixa um vasto legado como professora. Ao se mudar para São Paulo, em 1951, ela deu aulas de gravura no Masp e na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) até a década de 1960. Pouco após a publicação de “Favelas”, ela se torna docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), em que atua por 28 anos.

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