Nem tudo que é moderno é melhor

Dia desses lembrei os meus tempos de guri nos primeiros anos de escola. Época do primário, do segundo grau, do “admissão ao ginásio”, do curso Normal. Morávamos no interior de Arroio do Meio, no atual bairro Bela Vista. Na companhia da minha irmã percorria a pé a estrada de chão batido que, no verão, ficava envolta em poeira vermelha. No inverno, a geada deixava um visual esbranquiçado.

Para não sujar a sala de aula, levávamos um par de chinelos “de estepe”, acondicionado na sacola de pano costurada pela minha mãe. Aos sábados, todos os alunos ajudam na faxina feita nos banheiros. Já a sala de aula era varrida no capricho. Em seguida, o piso recebia uma camada de cera. Enquanto o assoalho não brilhasse, a gurizada não parava de passar o pano, tudo ficava um brinco.

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Imagino que se práticas semelhantes fossem adotadas hoje, teríamos a pronta mobilização do Ministério Público e do Conselho Tutelar, só para citar dois órgãos encarregados de assegurar o bem-estar dos menores. Apesar do esforço físico intenso na tenra idade – tanto por andar longas jornadas a pé até a escola quanto o esforço para deixar o ambiente escolar limpo e higienizado – não tive sequelas, traumas ou consequências negativas ao longo da minha vida adulta. Muito pelo contrário.

Aos 17 anos, saí do interior para morar com sete amigos em Porto Alegre. Os ensinamentos práticos legados na infância e adolescência foram tremendamente úteis. Aprendi a valorizar a organização, o capricho dentro de casa, o planejamento. Atualmente vivemos uma época do “tudo pode”, em termos da educação ministrada aos filhos. Fico estarrecido com a maneira com que pais, mães e responsáveis se omitem. São humilhados, xingados e até agredidos fisicamente, inclusive em público, e permanecem sem reação.

Longe de defender o uso da força física, prática inaceitável em qualquer época, embora nos meus tempos de piá apanhar de varinha de marmelo, cinto ou chinelo fosse corriqueiro. Defendo, isso sim, a necessidade de manter limites rígidos e a hierarquia doméstica, base para a formação de cidadãos que, mais tarde, serão produtivos e cumpridores de suas obrigações.

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Choca e causa consternação ver professores sendo alvo de vilipêndios em sala de aula, resultado da omissão dos pais. Os outrora “mestres” não podem agir com energia, sob pena de serem alvos de denúncias, vídeos covardes – editados e com trechos divulgados fora do contexto – em que são achacados por um bando de jovens mimados.

Lembro do velho Giba, meu pai, que repetia à exaustão:
– O bom senso está sempre no equilíbrio. Jamais nos extremos!

Neste caso da educação de filhos, a frase soa mais realista que nunca.

Forte abraço aos leitores Paulo Fengler, Mário Jost, William Watson e Locyval Pereira. Obrigado pela audiência e mensagens!

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