Moody’s eleva nota da Argentina e destaca ajuste promovido por Javier Milei

DOUGLAS GAVRAS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A agência de classificação de risco Moody’s elevou a nota da Argentina para “Caa3” de “Ca” (ainda no grau especulativo), como resultado do ajuste fiscal promovido pelo governo de Javier Milei.

De acordo com um comunicado divulgado nesta sexta-feira (24), a decisão coloca o país no mesmo nível de Equador e Bolívia, como emissora de dívida de longo prazo, tanto em moeda local quanto estrangeira.

A Moody’s também elevou a perspectiva de estável para positiva e diz que a decisão reflete “a mudança de política do governo, que permitiu um ajuste fiscal que ajuda a corrigir os desequilíbrios econômicos”, além de reduzir a possibilidade de um eventual calote.

Por comparação, em outubro, a agência elevou a nota de crédito soberano do Brasil de Ba2 para Ba1, a um passo do chamado “grau de investimento”, mantendo a perspectiva do rating como positiva.

Na nota desta sexta, a agência destaca que a dívida do governo argentino caiu de 156% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2023 para 77% em 2024, com projeções de redução para 50% até 2026.

Também aponta que a inflação mensal na Argentina caiu de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,7% em dezembro de 2024, com uma previsão de fechar 2025 em 40%, em termos anuais.

Conclui dizendo que a liquidez externa da Argentina melhorou com uma anistia fiscal que trouxe US$ 20 bilhões em ativos do exterior, aliviando as reservas internacionais.

De acordo com a agência, a perspectiva positiva reflete a possibilidade de um novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que poderia melhorar a liquidez externa e diversificar fontes de financiamento. O Fundo é um dos principais entusiastas do plano de Milei no exterior.

“Uma aceleração da entrada de investimento estrangeiro relacionada a vários projetos no setor de energia para explorar os vastos recursos naturais de hidrocarbonetos do país melhoraria as perspectivas de exportação e crescimento de médio prazo da Argentina, fortalecendo ainda mais o perfil de crédito soberano”, diz.

A agência pondera que o risco de vulnerabilidade externa ainda está presente, conforme a Argentina avança para a próxima fase do período de ajuste macroeconômico, que envolverá a remoção de controles de capital e câmbio que ainda estão em vigor.

Em entrevista que concedeu no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, nesta semana, Milei falou sobre a possibilidade de eliminar a restrição para a compra de dólares, o chamado “cepo”, caso a inflação continue desacelerando e o novo ritmo de desvalorização do peso de 1% ao mês a partir de fevereiro se mostre viável.

“Novos desafios surgirão que podem comprometer o progresso feito até agora, incluindo riscos de balanço de pagamentos aos quais as autoridades terão que responder”, alerta a Moody’s.
Para a agência, a complexidade inerente de remover esses controles sem estimular entradas financeiras que criariam novos desequilíbrios, saídas de capital que exacerbariam os existentes, ou o risco de crescimento excessivo das importações, poderia comprometer a sustentabilidade.

O documento também alerta que a Argentina enfrenta riscos climáticos e sociais significativos, com desafios de governança que afetam seu perfil de crédito soberano.

“A desigualdade de riqueza e queda na renda exacerbam tensões sociais e aumentam os riscos políticos, apesar de demografia favorável e dados educacionais comparativamente fortes”, segue o texto.

O documento relembra que em 2018, uma grande seca foi um fator importante para a recessão econômica daquele ano, um choque que ocorreu novamente em 2023 com implicações fortemente negativas para os ganhos de exportação do setor agrícola, crucial para o comércio exterior do país.

“Riscos de calor e de uma nova seca permanecerão como um desafio de crédito no futuro, dada a forte dependência da economia no setor agrícola, que é o principal gerador de moeda estrangeira para o país por meio da exportação de cereais e grãos.”

Há duas semanas, a agência de classificação de risco projetou um crescimento de 3% para o país vizinho em 2025, posicionando-o como uma das economias com melhor desempenho desde a pandemia, embora tenha alertado sobre a situação das reservas internacionais.

De acordo com a Moody’s, em relação à dívida argentina, a implementação de políticas destinadas a reduzir os riscos de liquidez e grandes desequilíbrios macroeconômicos “faria uma diferença significativa entre os países soberanos com ratings baixos”.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.