Em telão, Musk pede orgulho e votos para candidata da extrema direita da Alemanha

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)

“É muito importante que as pessoas na Alemanha tenham orgulho de serem alemãs.” Neste sábado (25), Elon Musk voltou a participar da campanha eleitoral alemã ao aparecer em um telão durante evento de campanha da AfD, de extrema direita. Enquanto sua candidata a premiê, Alice Weidel, era festejada pelo bilionário e uma plateia de 4.500 pessoas em Halle, dezenas de milhares se manifestavam em diversas cidades contra o partido e a ascensão do populismo no país.

Apenas na frente do centro de exposições que abrigou o comício de Weidel, no estado da Saxônia-Anhalt, 8.000 protestavam contra a AfD. Em Berlim, 35 mil participaram de manifestação no Portão de Brandemburgo, principal ponto turístico da capital alemã. Também segundo a polícia, multidão semelhante se reuniu em Colônia.

Musk, que desde dezembro empreende uma ofensiva populista na Europa, era um dos alvos preferidos dos protestos. Em Berlim, um cartaz dizia em inglês “Fuck Off, Elon Musk! This is a democracy!”. A saudação nazista que ele nega ter feito em evento nos EUA também não foi esquecida.

Em Halle, o empresário optou por uma salada de referências históricas para animar o público e justificar sua controversa opção por uma candidata que defende a saída da Alemanha da União Europeia, a volta do marco alemão, a derrubada de torres de energia eólica e a deportação em massa de imigrantes irregulares. Musk falou que a cultura alemã remonta a milhares de anos e que até o imperador romano Júlio César teria ficado impressionado com o espírito de luta das tribos germânicas.

Como já havia feito Weidel na conversa que tiveram pelo X na semana passada, o dono da Tesla pediu aos militantes da AfD que deixassem de lado o excesso de “culpa pelo passado”, “pelos pecados de seu bisavós”. Essa ideia de culpa, disseminada por grupos de extrema direita, serve como uma espécie de argumento para justificar o nacionalismo exacerbado em um país com o histórico nazista.

“O futuro da civilização pode depender desta escolha”, afirmou o cabo eleitoral e maior doador da campanha de Donald Trump, nos EUA, ao devolver a palavra a parlamentar.

Outra participação externa no evento veio da Áustria. Herbert Kickl, o líder de extrema direita que está próximo de assumir o cargo de primeiro-ministro no país vizinho, declarou que “o muro vai cair”. Fazia referência ao chamado Brandmauer, ou firewall, a distância que os outros partidos mantêm da AfD devido à sua natureza populista e xenófoba.

Na sexta-feira (24), Friedrich Merz, líder das pesquisas na Alemanha, admitiu que aceitaria os votos da sigla extremista para aprovar um pacote anti-imigração no Parlamento. A fala foi muito criticada pela imprensa e por candidatos rivais, como o primeiro-ministro, Olaf Scholz.

A naturalização da AfD repetiria justamente o roteiro do FPO de Kick, na Áustria. A legenda, fundada nos anos 1950 por um ex-oficial da SS e um deputado nazista, venceu as últimas eleições austríacas, mas não tinha maioria para formar governo. Após os partidos de oposição fracassarem na montagem de uma coalizão, os conservadores do ÖVP voltaram-se a Kickl para montar um gabinete.

Neste sábado (25), Weidel e outros líderes da AfD pediram que Merz mantivesse os planos para a votação. Nas ruas de Colônia e Berlim, o candidato da CDU virou alvo de escracho, tratado como o mais novo populista a contaminar o ambiente político alemão.

Os conservadores lideram as pesquisas de opinião, com cerca de 30% das citações na média dos levantamentos. A AfD vem em segundo com 20%, mas ao menos um instituto já a colocou em empate com o SPD, de Scholz. As eleições ocorrem em 23 de fevereiro.

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