Líder do CV do Complexo da Penha, no Rio, é investigado em mais de 100 homicídios

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BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Um dos principais líderes do Comando Vermelho, Edgar Alves de Andrade, o Doca, tem seu nome como autor em mais de 100 registros de assassinatos, de acordo com levantamento feito pela reportagem nas delegacias de homicídio da capital e da baixada do Rio de Janeiro.

No total, desde 2003, seu nome aparece em 329 investigações que relatam roubos, tráfico de drogas, mortes -incluindo crianças- além de desaparecimentos. Na última sexta (24), o traficante completou 55 anos, e uma operação foi realizada nos complexos da Penha e do Alemão, base principal da facção no estado e local de refúgio do criminoso.

A ação, com confronto por 15 horas, deixou ao menos quatro pessoas mortas e outras cinco feridas, entre elas um policial militar -que está em estado grave.

A reportagem foi informada por uma advogada, que representa alguns integrantes da facção, que Doca não possui defensor constituído. Segundo ela, o procurado optou por não conceder entrevista.

A violência de Doca é exaltada em letras do rapper Oruam, filho do traficante Marcinho VP, apontado como líder máximo da facção e preso desde 1996. Na música Selva do Urso, outro apelido de Doca, há um trecho que diz: ” Vou usar um lança perfume (no Complexo)/ Botar a Glock pra dar um rolé (no Complexo)

Pras piranha ver um volume (no Complexo)/ É que na Selva do Urso (no Complexo)/ Sabe que nóis é o assunto”.

Há 18 anos Doca foi preso pela primeira -e única- vez. O fato de ele ter resistido por horas antes de se entregar, atirando contra policiais do interior de uma casa, fez com que ele fosse recebido com palmas em Bangu. Lá, segundo investigação, continuou a influenciar crimes.

Dos 112 registros de homicídios atribuídos a ele, o mais recente e enviado à justiça é da turista Diely Silva, 34, morta ao ser atingida por um tiro quando o carro de aplicativo em que estava entrou em uma favela por engano.

Seu nome é citado como autor, porque, de acordo com as investigações, ele exerce o “domínio do fato”, sendo responsável por autorizar as mortes previamente, conforme consta em um trecho de inquérito.

“Cada comunidade possui um líder conhecido como “dono”, ou seja, a pessoa que se responsabiliza, na teoria, pela comunidade. O dono tem o poder de ordenar, coordenar e comandar os atos praticados pelos traficantes da localidade. Nada é feito sem a sua expressa autorização”, diz trecho do relatório.

O relatório termina afirmando que a facção “impõe seu domínio através de extrema violência, medo e terror”.

Doca está como “dono” em favelas na capital do Rio e na Baixada Fluminense, e aumentou a violência a partir de 2021, quando comandou, segundo a polícia, a expansão da facção sobre áreas da milícia.

Entre os crimes, estão mortes de moradores, baseadas em denúncias sem provas. É o caso de dois irmãos que teriam sido mortos pela facção, na Penha, após policiais militares usarem a casa deles durante uma operação.

Segundo o registro de ocorrência, a laje da casa onde Rodolpho e Lucas Reis Brito moravam foi usada por seis policiais militares durante um tiroteio, no qual um traficante foi baleado e preso, no dia 23 de março de 2023.

Com o cessar-fogo, um dos irmãos saiu de casa e não foi mais encontrado. O outro, horas depois, foi chamado por um traficante. Ele segurava o neto no colo. O suspeito pediu para ele largar a criança e disparou diversos tiros em suas pernas.

Os irmãos foram levados uma localidade conhecida como Vacaria, no alto do Complexo da Penha. Lá, traficantes foram vistos recolhendo pneus e queimando os corpos.
Parentes dos irmãos foram até o local no dia seguinte e perguntaram a um traficante onde eles estavam.

O criminoso teria respondido que ambos “estavam dormindo e iriam acordar em breve”, em uma possível alusão à vida eterna.

Há outras mortes em que Doca teria dado autorização para a morte de moradores do complexo. Janayna Evangelista Paixão, 22, foi morta pelo tribunal do tráfico ao lado de dois amigos após o ex-namorado dizer a traficantes, em setembro de 2024, que ela seria informante da polícia.

Doca também é conhecido por torturar as vítimas. No Quitungo, ele teria ordenado que a cabeça de um rival do Terceiro Comando Puro fosse entregue à esposa. Ela procurou uma delegacia com a cabeça do marido em mãos para registrar o crime, em setembro do ano passado.

Dois crimes tiveram repercussão nacional e tem o nome do traficante como mandante: a morte de três médicos em quiosque na Barra da Tijuca que teriam sido confundidos com milicianos e o homicídio de três crianças em Belford Roxo, que foram mortas durante tortura após terem roubado um passarinho de canto de um traficante.

Atualmente, o traficante tem condenações por tortura, homicídio e tráfico, além de 26 mandados de prisão emitidos por diferentes tribunais. Ele está evadido do sistema penitenciário desde 2017.

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