Rússia lança novo submarino nuclear em meio a tensões no Ártico

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O mais novo submarino nuclear russo, o K-562 Arkhangelsk, foi recebido nesta segunda (27) em sua base definitiva, Zapadnaia Litsa, a meros 60 km da fronteira da Noruega -país que integra a Otan, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos.

A estreia ocorre em meio à escalada de tensões no Ártico, com o aumento de patrulhas de lado a lado, evidenciada pela proposta de Donald Trump de comprar a estratégica Groenlândia da Dinamarca -além de rica em minerais, a ilha tem posição vital em caso de conflito com os russos.

A embarcação é a mais moderna do arsenal de 40 submarinos táticos da Rússia, 21 deles com propulsão nuclear. Sua função é ataque furtivo a outras embarcações e alvos costeiros, além de protege alguns dos 12 dos temidos gigantes submersos lançadores de mísseis com o ogivas atômicas.

O Arkhangelsk pode lançar até 32 mísseis, sejam eles modelos subsônicos de cruzeiro Kalibr, antinavios supersônicos Oniks ou os novos Tsirkon, armas hipersônicas que foram testadas em 2021 em um outro barco da mesma classe de submarino. Todos os armamentos já foram usados na Guerra da Ucrânia.

Em tese, o Tsirkon pode se equipado com ogivas nucleares, e ele já foi testado nessa função pelos russos no ano passado. Não se sabe, contudo, se tal capacidade já está operacional.

Ele é o quarto modelo de sua classe, a Iasen (freixo, em russo), que de certa forma simboliza as dificuldades e avanços da Marinha russa desde o fim da União Soviética, em 1991.

A primeira embarcação, o Severodvinsk, começou a ser feita logo após o ocaso comunista, em 1993, e demorou 11 anos para entrar em operação, com longos quatro anos de testes em mar.

As duas seguintes só começaram a ser feitas a partir de 2009, levando em média nove anos para serem comissionadas, com três anos de testes. Eram tão diferentes do modelo original que foi criada uma subclasse para designá-las, Iasen-M, M de modernizada.

Já o Arkhangelsk, batizado em homenagem a uma importante cidade ártica russa, demorou os mesmos nove anos, mas com apenas 13 meses de testes de mar. Foi entregue oficialmente à Marinha em 27 de dezembro passado e, agora, chegou a Zapadnaia Litsa.

Os custos de produção são considerados proibitivos para a Rússia, qualquer coisa entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões por unidade. Os navios da Iasen-M são menores que o original, já buscando cortar custos -têm 9 metros a menos que os 139 do Severodvinsk e levam 64 tripulantes, ante 85.

A Marinha russa passa por um período de reformulação, após as pesadas perdas de sua Frota do Mar Negro nas mãos de mísseis e drones aquáticos da Ucrânia, país que teve sua força naval de superfície aniquilada no conflito.

Ao todo, a Rússia pretende ter 12 desses submarinos, e a produção parece estar se acelerando, com cinco cascos sendo trabalhados nos estaleiros Sevmach, em Severodvinsk, também no Ártico. Os EUA operam 24 modelos com pretensões semelhantes, mas nenhum equipado com mísseis hipersônicos.

Sua base fica no estuário do rio Litsa, que deságua no mar de Barents e, como outros fiordes da região de Murmansk, abriga bases de submarino desde a Guerra Fria. É a base naval mais a oeste da Rússia, daí seu nome: Lista Ocidental.

As tensões no Ártico têm acompanhado o azedume entre Ocidente e Rússia desde que Vladimir Putin invadiu a Ucrânia, em 2022. A região é importante, entre outros motivos por ser o caminho mais curto para mísseis com ogivas nucleares russos ou americanos chegarem a seus alvos, aproveitando a curvatura da Terra.

A ofensiva de Trump sobre a Groenlândia deixou isso claro. Os EUA já haviam tentado comprar o local, onde o derretimento da calota de gelo tem expostos reservas minerais. ao menos duas vezes antes. A ilha sedia uma importante base americana, que controla os satélites que, entre outras coisas, alertam caso algum míssil esteja a caminho.

Para os russos, que há muito militarizam o Ártico, a entrada em operação do Arkhangelsk teoricamente coloca toda a região ao alcance dos mísseis Tsirkon, que podem atingir alvos a 1.000 km de distância.

O teatro de operações tem visto muita movimentação também porque dois países nórdicos, a Suécia e a Finlândia, abandonaram décadas de neutralidade para ingressar na Otan devido à percepção da ameaça russa. Já os noruegueses passaram a permitir, nos últimos anos, que bombardeios com capacidade nuclear americanos operassem a partir de suas bases.

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