Dólar tem alta leve e Bolsa dispara com impasse entre EUA e Colômbia; expectativa sobre juros segue no radar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar rondava a estabilidade e a Bolsa tinha forte alta nesta segunda-feira (27), à medida que os investidores repercutiam as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas alfandegárias à Colômbia num episódio que quase culminou em uma disputa comercial.

Além disso, os analistas aguardam a ‘superquarta’, quando os bancos centrais do Brasil e dos EUA anunciarão a nova taxa de juros. O BCE (Banco Central Europeu) divulga a sua decisão na quinta-feira (30).

A perspectiva é diferente em cada um dos mercados. No Brasil, o próprio BC já indicou que deve subir a Selic em um ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano. Nos EUA, os analistas preveem que o Fed manterá a taxa entre 4,25% e 4,5%, enquanto os europeus esperam uma queda de 0,25 ponto percentual.

O boletim Focus também mostrou piora nas expectativas para a inflação no Brasil neste e no próximo ano, com economistas elevando previsões para a Selic em 2026.

Às 12h26, a moeda norte-americana subia 0,18%, cotada a R$ 5,928. Já a Bolsa disparava 1,10%, aos 123.783 pontos, no mesmo horário, tendo abandonado a fraqueza da abertura, quando cedeu a 122.206 pontos. Na máxima até o momento, registrou 123.959 pontos.

Com a agenda doméstica esvaziada em razão do recesso parlamentar do Congresso Nacional, o que tem movido os mercados neste período são as perspectivas econômicas para o segundo mandato do presidente de Trump na Casa Branca.

Em mais um episódio envolvendo tarifas, os EUA e a Colômbia evitaram por pouco uma guerra comercial no domingo (26).

Após o caso dos brasileiros que chegaram algemados ao país, acusando agentes de imigração americanos de agressão e tratamento degradante, o presidente colombiano Gustavo Petro afirmou que não aceitaria deportações em aviões militares e se recusou a receber dois voos militares americanos carregando deportados.

Trump reagiu anunciando uma série de medidas contra a Colômbia, incluindo tarifas alfandegárias de 25%. Diante das imposições, o governo de Gustavo Petro recuou e concordou em receber os voos com imigrantes colombianos deportados.

Com isso, o presidente Donald Trump decidiu segurar a imposição de tarifas à Colômbia.

O episódio, no entanto, sinalizou aos mercados a seriedade das promessas do presidente de impor tarifas para defender os interesses nacionais dos EUA, gerando ainda mais dúvidas sobre qual será a abordagem adotada por ele na política comercial.

“A imposição de tarifas provavelmente foi apenas postergada, e não cancelada. A ameaça à Colômbia reforça a imprevisibilidade de Trump e a ideia de que ainda é cedo para os mercados retomarem a busca definitiva por risco”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Na sexta-feira (24), houve queda de 0,12%, com o dólar cotado a R$ 5,917, após Trump admitir que existe a possibilidade de um acordo comercial com a China e que preferia não criar tarifas de importação aos produtos chineses.

Esse foi o menor valor desde 27 de novembro do ano passado (R$ 5,913) e o maior recuo semanal (2,42%) desde 9 de agosto do ano passado, quando cedeu 3,43% em cinco dias úteis.

Também foi o quinto dia consecutivo que a divisa americana tem queda e terceiro dia seguido que fica abaixo do patamar de R$ 6, após uma trajetória ascendente desde o fim do ano passado, quando renovou o recorde histórico para R$ 6,267.

Trump havia anunciado a possibilidade de tarifar produtos importados da China, União Europeia, Canadá e México. Entretanto, ele não impôs imediatamente as tarifas quando tomou posse, como havia prometido durante sua campanha eleitoral.

Até agora, Trump apenas orientou que as agências federais investiguem os déficits comerciais dos EUA e práticas comerciais “injustas” de países parceiros.

Mas na última quinta-feira (23), durante entrevista à Fox News, Trump foi questionado se pode fazer um acordo com a China para práticas mais justas. “Eu posso fazer isso”, afirmou.

Diante da possibilidade de uma abordagem mais moderada no comércio global, investidores reduziram o preço da divisa dos EUA.

Na cena doméstica, analistas consultados pelo Banco Central passaram a ver uma taxa Selic mais alta ao fim do próximo ano, elevando também suas projeções para a inflação em 2025 e 2026, de acordo com o boletim Focus divulgada nesta segunda.

O levantamento mostrou que a expectativa para a taxa básica de juros agora é de 12,50% ao fim do próximo ano, de 12,25% na semana anterior. Para 2025, a projeção de 15% foi mantida.

A Selic está atualmente em 12,25% ao ano, após o BC acelerar o aperto no mês passado ao elevar a taxa de juros em 1 ponto percentual.

A autarquia também sinalizou que realizará mais dois aumentos da mesma magnitude nas duas primeiras reuniões do ano. A próxima decisão será anunciada na quarta-feira (29).

O boletim mostrou ainda um aumento na projeção para a inflação neste ano e no próximo. A mediana das expectativas para o IPCA em 2025 agora é de alta de 5,50%, de 5,08% na semana anterior.

Para o fim de 2026, a projeção para a inflação é de 4,22%, de 4,10% há uma semana.

O centro da meta perseguida pelo BC é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Houve ainda manutenção na expectativa para o preço do dólar em 2025 e 2026, com as projeções indicando que a moeda norte-americana encerrará este ano e o próximo em 6,00 reais.

Sobre o PIB brasileiro, a previsão é de que a economia do país cresça 2,06% neste ano, ligeiramente acima da projeção de 2,04% da semana anterior. Em 2026, a expectativa é de que a expansão seja de 1,72%, uma queda em relação à taxa de 1,77% prevista no boletim anterior.

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