DeepSeek: ‘made in China’ de qualidade; Goiás importa duas vezes mais dos chineses que dos americanos

O sucesso estrondoso da DeepSeek, plataforma chinesa de Inteligência Artificial (IA), é representativo do espaço simbólico que a China vem ocupando nos últimos anos. A imagem preconceituosa que se tinha dos produtos chineses, como de qualidade inferior, se desfaz a cada dia que passa, conforme a China se torna importante parceiro comercial para muitas das maiores economias do mundo, tanto na importação quanto na exportação.

Nesta segunda-feira, 27, o aplicativo de IA chinês teve venda massiva de suas ações, o que impactou uma série de investidores do ramo em todo o planeta. Jensen Huang, cofundador da Nvidia, perdeu US$ 20,1 bilhões, enquanto Larry Ellison, da Oracle, teve perdas de US$ 22,6 bilhões. Ao todo, os 500 investidores mais ricos do planeta tiveram prejuízo superior a US$ 108 bilhões. 

Estimativa da agência Bloomberg mostra que as empresas do setor no Vale do Silício (Estados Unidos) perderam cerca de US$ 1 trilhão em valor de mercado nas Bolsas europeias e norte- americanas após movimentação da startup chinesa. A OpenAI, empresa que gere o ChatGPT, foi impactada diretamente, já que o DeepSeek é seu concorrente direto, com desempenho semelhante e com custo inferior.  

Goiás

Esse episódio, que movimentou o mercado financeiro mundial em apenas 36 horas, é representativo do poder econômico, político e simbólico que a China conquistou nas últimas décadas. O levantamento da Balança Comercial da Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Serviços (SIC) em Goiás mostra que os laços entre Brasil estão estreitos. 

Em 2024, a China se colocou como principal destino das exportações goianas gerais e também como principal origem dos produtos importados pelo estado. Nos 12 meses de 2024, foram mais de US$ 5.3 bilhões exportados de Goiás para a China, representando 50,19% de tudo o que foi vendido pelos goianos para a comunidade estrangeira. O segundo colocado nesse levantamento dos destinos das exportações goianas é ocupado pelos Estados Unidos, que compraram cerca de US$ 408 milhões dos produtos goianos, o que representa 3,82% de tudo que foi exportado naquele ano.   

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No campo das importações, os chineses venderam mais US$ 1.2 bilhões para os goianos nos últimos 12 meses, o que representa 27,28% de tudo que foi importado no estado no período. Atrás dos chineses, estão os alemães (responsáveis por 13,98% dos produtos importados por Goiás naquele ano) e os estadunidenses (com 13,74% dos importados). Apesar da diferença ser menor do que a vista no cenário de exportações, ainda existe um abismo entre a participação dos chineses e a de outros países nas importações de Goiás.  

O recorte em Goiás se reproduz, com as devidas ressalvas, em todo o país, consolidando a China como maior parceiro econômico do Brasil. Dados do Ministério da Fazenda mostram que,em 2023, 32% das exportações do país foram direcionadas à China, enquanto no ano anterior, 22,6% das importações do Brasil vieram dos chineses. A tendência para os próximos anos é que essas relações bilaterais se fortaleçam.

Reflexão 

Um fator decisivo para definir a intensidade da relação Brasil e China está na Casa Branca. O presidente recém-empossado Donald Trump anunciou uma série de medidas protecionistas voltadas para o fortalecimento do mercado interno. O aumento das tarifas para produtos importados e as práticas de fortalecimento do dólar (que gerarão aumento na cadeia produtiva global) podem acabar servindo para empurrar o mundo para a China. 

Com taxas expressivas para importação de produtos estrangeiros nos Estados Unidos, os principais fornecedores internacionais deste país devem buscar compradores com menores pesos tributários. 

Do ponto de vista do fortalecimento do dólar, e encarecimento da cadeia produtiva de grande parte dos países do mundo, as políticas de Trump podem, mesmo que timidamente, ventilar possibilidades de adoção de moeda comum diferente do dólar nas transações. O Brics, por exemplo, chegou a sugerir adoção de moeda alternativa. Na época, a ideia não foi tão bem recebida, mas, caso o encarecimento do dólar se torne uma constante, talvez ela possa ser revisitada. 

A China continua agressiva e competitiva no mercado internacional, e esse fator parece que não irá mudar. O que nos resta é tentar medir os possíveis impactos da mudança de postura dos Estados Unidos, já que eles certamente, em alguma medida, irão redefinir a organização internacional do comércio. 

Para o Brasil, o presente já é chinês. As possibilidades que se abrem agora levantam o questionamento: o quão mais estreita pode se tornar essa relação.   

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