Agrocolégio quer evitar êxodo rural e formar sucessão na agricultura familiar com ensino técnico e de base curricular comum

A formação técnica e pedagógica dos alunos do Agrocolégio Estadual Maguito Vilela se baseará em um conhecido e consolidado método de ensino: a pedagogia da alternância. A metodologia tem como fórmula a interação entre o estudante que tem a vivência do campo em seu cotidiano intercalado com a Base Nacional Curricular Comum para o Ensino Médio. Desde a abertura das inscrições, o colégio recebeu mais de 100 matrículas, com adolescentes vindos de diversos municípios de Goiás conhecidos pela produção agrícola familiar, comunidades quilombolas e agrícolas, inclusive de Goiânia.

Os 78 alunos do primeiro ano do Ensino Médio do Agrocolégio permanecerão na unidade por 30 dias seguidos, onde terão aulas da grade curricular comum, além do ensino técnico voltado para a agricultura. Após esse período os adolescentes retornam para casa com trabalhos e atividades para desenvolver ao longo de 30 dias, com o acompanhamento dos profissionais e técnicos do colégio. Localizado no coração do campus da Universidade Federal de Goiás (UFG) na área de pesquisa em agronomia, os alunos também receberão os professores e alunos da universidade para a troca de experiência e conteúdo.

Turma do primeiro ano do Ensino Médio terão aulas alternadas entre conhecimento técnico e grade curricular comum | Foto: Guilherme Alves

Esse método de ensino alternado chegou ao Brasil no começo dos anos 60 a partir da instituição das Escolas Famílias Agrícola (EFA). As EFA´s, ao contrário do modelo inaugurado nesta segunda-feira, 27, em Goiás, são geridas por famílias, comunidades, sindicados, movimentos sociais ou instituições religiosas. Ambos os modelos integram o ensino de base comum com o ensino técnico voltado para o campo, baseado em princípios da agroecologia e agricultura.

Veja a estrutura do colégio:

Cultura produtiva e conhecimento técnico

A socióloga Ellen Pacheco, coordenadora técnica do Agrocolégio Maguito Vilela e servidora efetiva da Emater há 35 anos, conta que o ensino técnico leva em conta os saberes já adquiridos dos alunos. “Todos os alunos que estão aqui já tem um domínio de muitas técnicas de manejo de plantas e animais e nós aprofundamos esse conhecimento e essas técnicas para que eles possam voltar para casa para desenvolver esse conhecimento nas propriedades”, explica. Ela diz que há uma preocupação também em desenvolver a sensibilidade nos alunos para respeitar esse conhecimento para que não haja conflito com o que é praticado dentro dessas culturas.

Missão é unir o conhecimento cultural com formação técnica em agropecuária | Foto: Guilherme Alves

O colégio inicia com duas turmas do primeiro ano do Ensino Médio com a grade curricular técnica contendo 12 disciplinas, entre elas agroecologia, olericultura, manejo sanitário, conservação de solos, agricultura sustentável, administração de projetos rurais, projetos de custos e estágio supervisionado. O espaço conta com biblioteca com mais de 12 mil exemplares, laboratório de informática, sala de cinema, campo de futebol, lavanderia, dormitório e refeitório.

Aluna da primeira turma do Agrocolégio Maguito Vilela, Amoscam dos Santos Rosa, 14 anos, é natural do município de Cavalcante de Goiás e é membro da comunidade Kalunga Engenho II. A comunidade, que faz parte do Sítio Histórico e Patrimônio Cultura Kalunga, produz principalmente o arroz, feijão, milho, mandioca, banana, inhame, batata doce, abóbora, fava e feijão de corda.

Amoscan é membro da comunidade Kalunga Engenho II | Foto: Guilherme Alves

Ela conta que além dela, outros alunos da região de Cavalcante também estão estudando no colégio, o que poderá fomentar ainda mais a produção do local. “Minha mãe sempre trabalhou na roça e ajudo desde sempre. Sempre foi meu sonho trabalhar com a agropecuária e ter um bocado de famílias aqui comigo aprendendo sobre essas técnicas é importante para não perder esse conhecimento”, diz.

Ao final dos três anos de ensino médio e técnico, Amoscam sairá formada no Ensino Médico e com o diploma de técnica de agropecuária. Apesar disso, ela diz que não deve parar os estudos por aí. “Quero continuar estudando e quem sabe entrar na faculdade”, revela.

Joel Francisco, 15 anos, também é da comunidade do Engenho II, em Cavalcante. Natural de uma família de agricultores familiares, ele conta que se formará tanto no ensino médio quanto técnico e tem como objetivo gerenciar fazendas de criação de gado e plantações. “Eu vim de família que tem uma ligação com o campo, minha mãe desde pequena mexe com roça e surgiu a oportunidade de me inscrever no Agrocolégio e deu tudo certo. Estou achando bom demais e tenho vontade de mexer com fazenda, principalmente a criação de gado e quem sabe com plantações”, relata.

Joel Francisco sonha em gerenciar fazenda de criação de gado | Foto: Guilherme Alves

Estrutura e formação de ponta

Licenciado em geografia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) com formação técnica em agronomia, Marcos Cesar de Camargo é o coordenador pedagógico da primeira unidade de colégio de agropecuária de Goiás. Ele contou a reportagem que os alunos terão, além do conhecimento técnico com os melhores profissionais da área formados na Emater, uma infraestrutura capaz de garantir o ensino técnico e pedagógico. “As salas de aula são equipadas com os melhores equipamentos, temos biblioteca, dormitórios, lavanderia e refeitório para garantir o conforto dos alunos”, diz.

Marcos Cesar de Camargo é coordenador pedagógico do Agrocolégio Maguito Vilela | Foto: Guilherme Alves

Ele explica que os adolescentes terão formação de campo e integração técnica com as pesquisas de inovação e tecnologia concebidas na Emater. “Além da vivência nos laboratórios de pesquisas, esses alunos vão encontrar aqui na nossa unidade os nossos campos de produção de produtos da agropecuária como plantações de frutos do cerrado, legumes, fruteiras, espaço para apicultura, técnicas de manejo de pequenos, médios e grande porte de animais e estarão perto dos nossos pesquisadores que passarão a frente esse conhecimento”, aponta.

“Nossa missão é fazer com que esses meninos estejam preparados para qualquer vestibular e paralelamente sair com o curso técnico. Não podemos somente priorizar a parte técnica como também não podemos só priorizar o pedagógico. No futuro esse aluno pode optar por fazer uma faculdade ou também seguir no mercado de trabalho, aqui nós vamos valorizar os dois conceitos”, relata.

Combate ao êxodo rural e sucessão familiar no campo

Mais do que o ensino técnico e pedagógico, as escolas agrícolas e o Agrocolégio tem como principais missões combate o êxodo rural, ou seja, a perda do interesse dos herdeiros de pequenos e médios produtores rurais, em especial advindos da agricultura familiar. Além de perpetuar o saber do campo integrado com o conhecimento técnico produzido dentro das Universidades e de instituições como a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater).

Presidente da Emater, Rafael Gouveia diz que foco é formar sucessão familiar no campo | Foto: Guilherme Alves

O presidente da Emater, Rafael Gouveia, explica que entre as missões do Agrocolégio está a formação de novos profissionais técnicos em agropecuária e a garantira de sucessão da agricultura familiar. “É um modelo de colégio que é o primeiro no Brasil, temos o modelo de escolas agrícolas, mas é apresentar que nosso formato é diferente. O Agrocolégio é gerido pelo governo do Estado através da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) em parceria com a Emater”, explica.

Os alunos que aqui estiverem vão sair para o mercado de trabalho e fazer a sucessão familiar dentro das suas propriedades pois terão o melhor ensino dentro da grade curricular comum e também o melhor conhecimento técnico com os nossos professores

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