Cortes em financiamento são para bloquear ‘programas woke’, diz governo Trump

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JULIA CHAIB
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)

O Departamento de Estado dos Estados Unidos, órgão equivalente ao Ministério das Relações Exteriores do país, defendeu nesta quarta-feira (29) os cortes no financiamento a programas estrangeiros como uma medida que visa bloquear “programas woke”.

O termo é usado por republicanos e conservadores de forma pejorativa para se referir à agenda que engloba pautas identitárias e diversidade. A afirmação foi feita de nota emitida pela porta-voz do Departamento, Tammy Bruce.

O presidente dos EUA, Donald Trump, determinou na semana passada a suspensão por 90 dias do repasse de verbas a todos os programas de ajuda externa existentes, além de novos auxílios, o que atingiu em cheio entidades que trabalham com auxílio humanitário.

Nesta quarta, o Departamento de Estado abriu exceções ao bloqueio para serviços “de ajuda humanitária para salvar vidas”, mas ao mesmo tempo defendeu a suspensão das verbas, dizendo que está “trazendo benefícios” aos americanos.

“Estamos eliminando desperdícios. Estamos bloqueando programas ‘woke’. E estamos expondo atividades que vão contra nossos interesses nacionais. Nada disso seria possível se esses programas continuassem no piloto automático”, diz o comunicado da porta-voz do órgão.

Segundo o Departamento de Estado, os EUA gastam cerca de US$ 70 bilhões por ano com ajuda externa.

O contingenciamento no repasse dessa verba tem prejudicado entidades que trabalham com auxílio a refugiados e ajuda humanitária.

Como mostrou a Folha, o bloqueio atinge um dos maiores programas mundiais voltados à prevenção e tratamento da Aids, o Pepfar (Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Aids), que tem um orçamento anual de US$ 6,5 bilhões.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), o braço da ONU para o tema, também foi obrigada a suspender pelos próximos três meses suas atividades no Brasil.

Nesta quarta, o secretário do Departamento de Estado, Marco Rubio, anunciou exceções ao corte de gastos, devido ao alto impacto que ele teve em organismos que atuam com ajuda humanitária.

Segundo Rubio, serão isentas do bloqueio serviços de “assistência humanitária para salvar vidas”, o que inclui: serviços médicos, alimentos, abrigo e assistência de subsistência, bem como suprimentos e custos administrativos razoáveis conforme necessário para fornecer essa assistência.

A ordem assinada pelo secretário ressalta que essas condições só não se aplicam a programas que envolverem “abortos, planejamento familiar, conferências”, além do que chama de “ideologia de gênero” e promoção da diversidade, e “cirurgias de mudança de sexo ou outras assistências que não salvem vidas”.

A exceção do bloqueio para Assistência a Migração e Refugiados também só será usada caso não viole as condições determinadas por decreto.

O Departamento de Estado reforçou que a suspensão nos pagamentos evitaram que fossem feitos repasses para programas vistos como associados à esquerda pelo novo governo, martelando discursos de campanha de Donald Trump.

“Sem a pausa, os contribuintes dos EUA teriam fornecido preservativos (e outros serviços contraceptivos) em Gaza, serviços de marketing de justiça climática no Gabão, programas de energia limpa para mulheres em Fiji, programas de desenvolvimento de gênero em D.C., planejamento familiar em toda a América Latina, educação sexual e programas pró-aborto para meninas jovens globalmente, e muito mais”, cita a nota da porta-voz.

O repasse de verbas para a compra de preservativos em Gaza tornou-se uma informação falsa a ser disseminada por membros do governo Trump. O próprio presidente dos Estados Unidos afirmou nesta quarta que interrompeu o envio de $50 milhões para Gaza para comprar preservativos para o Hamas. Você sabe o que aconteceu com eles? Eles os usaram como método para fazer bombas”.

A afirmação do presidente da República é falsa, conforme mostrou verificação de fatos da rede CNN, mas tornou-se uma “fake news” que está sendo disseminada pelo seu governo.

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