Gleisi acumulou embates com governo antes de Lula sinalizar indicação a ministério

JOÃO PEDRO ABDO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A deputada federal e presidente nacional do PT (Partido dos Trabalhadores), Gleisi Hoffmann, deve assumir a Secretaria-Geral da Presidência na reforma ministerial que o presidente Lula prepara para as próximas semanas, após a eleição para as presidências da Câmara e do Senado.

A pasta é responsável pela articulação com diferentes segmentos da sociedade civil, como movimentos sociais e juventude.

Nesta quinta (30), Lula elogiou a condição de Gleisi para ser ministra, mas evitou anunciá-la, dizendo que ainda não há nada definido.

À frente do PT desde 2017, a deputada federal pelo Paraná já foi senadora pelo mesmo estado e chefiou a Casa Civil durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). No atual governo, Gleisi acumula críticas às decisões de membros importantes do PT, como os ministros Fernando Haddad e Alexandre Padilha.

Relembre momentos em que ela mostrou publicamente sua desaprovação.

ELEIÇÕES E ‘BRONCA’ EM PADILHA

O desempenho do PT nas eleições municipais de 2024 foi motivo de atrito entre Gleisi e Alexandre Padilha. Ao comentar os resultados, o ministro de Relações Institucionais disse que o partido ainda não saiu da “zona de rebaixamento que entrou em 2016”.

Gleisi criticou publicamente o correligionário e disse que Padilha precisava “refrescar a memória” sobre o que vem acontecendo com o PT nos últimos anos.

“Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças. Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados”, completou.

Além disso, Gleisi aproveitou para demonstrar sua insatisfação com a composição de forças do governo, dizendo que o PT “paga o preço, como partido, de estar num governo de ampla coalizão”. O Planalto não comentou, e a orientação geral foi de pôr “panos quentes”.

‘AUSTERICÍDIO’ FISCAL E CORTE DE GASTOS

Algumas medidas econômicas do ministro Fernando Haddad, como o arcabouço fiscal, foram alvos de críticas dentro do PT, e Gleisi fez coro.

Uma resolução, aprovada pelo Diretório Nacional do partido em dezembro de 2023, chamava a política de contenção de gastos de “austericídio” fiscal, o que também seria atribuído à “ditadura do BC independente”.

Na ocasião, Gleisi negou que a crítica do documento fosse direcionada aos integrantes do Executivo, mas defendeu que o país não pode ser guiado por austeridade fiscal. Ela chegou a defender um déficit de 1% ou 2% do PIB (Produto Interno Bruto).

A adesão a outra comunicação também gerou críticas dentro do PT. O manifesto “Mercado financeiro e mídia não podem ditar as regras do país”, apoiado pelo PDT, PSOL e PC do B, foi lido por alguns petistas como um ataque ao governo.

O deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP) enviou uma mensagem para grupos internos do PT criticando o fato de o partido ter assinado um manifesto contra o pacote de corte de gastos, que ainda estava em fase de elaboração. Ele afirmou que a decisão foi tomada sem consulta interna.

“Na hora que o presidente Lula definir o rumo, e a gente confia muito nele, o PT não faltará a ele. Nós vamos estar juntos”, comentou Gleisi, reafirmando que não se tratava de uma crítica ao Executivo.

EMBATE COM HADDAD E SUCESSÃO DE LULA

A presidente do PT e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, divergem sobre a relação entre déficit fiscal e crescimento econômico. Por trás das divergências, está a disputa política sobre o caminho econômico que o presidente Lula deveria seguir para buscar a sua reeleição ou eleger um sucessor.

A sucessão, por si só, já foi motivo de divergência entre Gleisi e Haddad. Em entrevistas ao jornal O Globo, ambos deram respostas diferentes quando questionados sobre quem sucederá o presidente Lula em 2026 ou 2030.

A presidente do PT afirmou achar a discussão “extemporânea”. O que vai garantir a sucessão e a reeleição de Lula, segundo ela, é fazer com que “tudo dê certo”. Haddad, por sua vez, disse que o sucessor “vai se colocar” na eleição seguinte, sugerindo que a questão já deve ser abordada.

SUCESSÃO NO BC

Durante as férias de Haddad, Gleisi também atritou com o ministro interino da Fazenda, Dario Duringan.

Ele defendeu que a troca da presidência do BC (Banco Central) deveria ser feita “sem arroubo político”.

Em postagem no X (antigo Twitter), a presidente do PT mostrou sua insatisfação com a fala do substituto de Haddad.

“Foi o voto popular que conferiu ao presidente Lula a prerrogativa de indicar o próximo presidente do BC. Não há que falar em arroubo político nessa decisão, muito menos fantasiar que a gestão do BC ‘independente’ foi ‘técnica'”, afirmou.

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