Avanço do Império Romano resultou em um dos mais antigos episódios de poluição

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REINALDO JOSÉ LOPES
SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS)

A poluição do solo e da água com chumbo triplicou na região das atuais Grécia e Turquia a partir do ano 150 a.C., representando um dos mais antigos casos de liberação de dejetos tóxicos em larga escala pela ação humana, revela um novo estudo.

A data estimada pelos autores da pesquisa coincide com o momento em que o Império Romano conquistou boa parte daquela área, levando a uma intensificação da atividade econômica e, em especial, da mineração e do desmatamento, intrinsecamente ligados à poluição com metais pesados na Antiguidade.

Os dados foram publicados nesta quinta-feira (30) na revista especializada Communications Earth & Environment. A equipe liderada por Andreas Koutsodendris, do Instituto de Ciências da Terra da Universidade de Heidelberg (Alemanha), analisou camadas de sedimentos marinhos extraídos de diferentes pontos do mar Egeu (a porção do Mediterrâneo entre a Grécia e a Turquia). O grupo estudou ainda camadas de pólen no fundo de lagos da região, obtidas anteriormente por outros pesquisadores, para documentar mudanças na vegetação ao longo do tempo.

Durante a Antiguidade, um dos grandes motivos para a produção de dejetos ricos em chumbo era a busca por metais preciosos, em especial a prata, que passou a ser usada nas primeiras moedas padronizadas na região do mar Egeu.

Os métodos usados para extrair a prata do minério envolviam o uso de temperaturas muito altas, nas quais o chumbo, que derretia primeiro (a “apenas” 327 graus Celsius), combinava-se com outros componentes do minério e podia ser separado com mais facilidade da prata, que só derrete na temperatura de 960 graus Celsius.

Esse processo acabava fazendo com que partículas finas, ricas em chumbo, pudessem ser transportadas pelos ventos para o solo e a água. De acordo com Koutsodendris e seus colegas, a busca por metais preciosos começou a produzir um sinal detectável de poluição local com chumbo ainda no começo da Idade do Bronze, por volta de 5.200 anos atrás.

A partir desse período e durante vários milênios seguintes, porém, os efeitos da atividade só aparecem em nível local, ou seja, perto das regiões mineradoras e produtores de metais, de acordo com os pesquisadores.

E mesmo esse sinal localizado diminui consideravelmente há pouco mais de 3.000 anos, período que coincide com o chamado colapso da Idade do Bronze. Esse momento histórico, que equivale mais ou menos à época da semilendária Guerra de Troia, é marcado pela destruição de uma série de cidades-Estado e palácios, tanto na Grécia quanto no lado asiático do Egeu. Isso levou à diminuição da população, da atividade econômica e do comércio de longa distância -e, portanto, também da demanda por metais preciosos.

É justamente o contrário desse processo que acontece quando o Império Romano (que, na época, ainda era formalmente uma república e não tinha um imperador vitalício) impõe sua hegemonia sobre os territórios gregos de ambos os lados do Egeu no século 2º a.C.

Na época, a região vivia um processo de fragmentação política, dividida entre as antigas cidades-Estado independentes, como Atenas, ligas regionais e o reino da Macedônia, um dos pedaços sobreviventes do império de Alexandre, o Grande.

Roma unificou a região econômica e politicamente, promovendo a cunhagem de moedas e o comércio marítimo de longa distância em larga escala. Tudo indica que a produção agrícola se intensificou, bem como a demanda por lenha: a presença de pólen de árvores como o carvalho, típicas das áreas mais baixas e férteis da Grécia, sofre uma queda vertiginosa nesse período. Trata-se de um sinal de que áreas estavam sendo desmatadas para aumentar as lavouras e também para usar a madeira nos fornos de produção de metais.

Segundo a equipe, os efeitos dessa mudança duram cerca de um milênio na região, avançando durante todo o período romano e também durante o Império Bizantino (Estado sucesso de Roma no Mediterrâneo Oriental). O processo provavelmente tinha um efeito negativo sobre a saúde da população, em especial no desenvolvimento cerebral de crianças e nos idosos, conforme indica outro estudo recente.

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