O mistério do milagre da hóstia e a verdadeira história de Maria de Araújo de Juazeiro

Em 1889, enquanto o Brasil vivia a Proclamação da República, um evento religioso se destacava no Ceará, dando origem a uma importante figura do catolicismo nordestino. Esse evento ficou conhecido como o primeiro milagre atribuído a Padre Cícero, mas na verdade teve como protagonista a beata Maria de Araújo.

Maria nasceu em 1862, em uma família pobre do sertão cearense. Trabalhava como lavadeira e costureira e, desde jovem, se dedicava à vida religiosa. Ela entrou para o Apostolado da Oração, grupo liderado por Padre Cícero, com o objetivo de se tornar freira, embora essa possibilidade fosse restrita às mulheres brancas da elite. Mesmo assim, ela se destacou por seu conhecimento religioso, chegando a recitar passagens bíblicas em latim.

O milagre aconteceu durante uma vigília em Juazeiro, no momento da eucaristia. Ao receber a hóstia, Maria teria testemunhado a transformação do pão em sangue. Esse episódio ficou conhecido como o Milagre da Hóstia de Juazeiro e se tornou fundamental para o surgimento de Juazeiro do Norte, cidade que, desde então, passou a ser associada a Padre Cícero.

Após o milagre, Maria foi examinada por padres e médicos enviados pela Igreja. Foi quando descobriram que ela apresentava estigmas, marcas nas mãos, pés e testa, semelhantes às feridas de Cristo. Além disso, Maria relatava ter visões espirituais, como encontros com Jesus. Em entrevista ao site Aventuras na História, a doutora em História Dia Nobre explicou: “Ela conversava com ele. (…) Aos 18 anos, ela conta que casou com Cristo numa cerimônia realizada na capela de Nossa Senhora das Dores.”

A estátua da Beata Maria de Araújo, em Juazeiro do Norte | Foto: Núcleo de Comunicação da Prefeitura de Juazeiro do Norte

Porém, a Igreja Católica não reconheceu o milagre. O bispo do Ceará, D. Joaquim José Vieira, duvidava da autenticidade do fenômeno e enviou o padre Alexandrino de Alencar para investigar. “O padre Alexandrino fez novos exames em Maria e, após a visita, escreveu um relatório à diocese do Ceará, afirmando que a beata era uma embusteira”, afirmou Dia Nobre. Esse relatório iniciou um processo de silenciamento de Maria de Araújo, que culminaria, em 1894, com a ordem do Vaticano para destruir todos os registros relacionados a ela.

Maria passou seus últimos anos em reclusão, em uma casa de caridade, e morreu em 1914. Seu corpo foi enterrado, mas desapareceu misteriosamente, o que alimentou o mistério em torno de sua figura. “A gente tem um apagamento, que é primeiro um apagamento da memória, e, depois, um apagamento material”, comentou Dia Nobre sobre o sumiço do corpo de Maria.

Apesar dos esforços da Igreja para apagar sua história, Maria de Araújo se tornou um símbolo de resistência e fé. Sua trajetória de superação, marcada por sua condição de mulher negra e pobre, a fez ser reconhecida como cidadã cearense. “Hoje, o aniversário dela é feriado municipal”, destacou a autora, lembrando o legado positivo de Maria para a história de Juazeiro do Norte e do Ceará.

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