Hugo assume sem anunciar prioridades e com desafio de se equilibrar entre Lula e Bolsonaro

hugo motta

VICTORIA AZEVEDO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) chega ao cargo tendo como uma de suas principais tarefas conciliar as demandas do PT de Lula e do PL de Jair Bolsonaro, que o apoiaram na disputa.

Hugo foi eleito neste sábado (1º) com 444 votos. Apesar de receber a chancela de quase todos os partidos, assume a principal cadeira da Casa sem deixar claros, nem para os próprios parlamentares, as prioridades e os grandes temas que deverá destacar nos próximos dois anos.

Em seu primeiro discurso após ser eleito, Hugo fez uma defesa da democracia, das emendas parlamentares e da igualdade entre os três Poderes, dando recados ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Executivo. Mais cedo, numa fala ainda enquanto candidato, afirmou que trabalharia pelo fortalecimento do Legislativo e defenderia a imunidade parlamentar.

A chamada “defesa das prerrogativas parlamentares” foi uma das principais cobranças que Hugo ouviu ao longo da campanha, com críticas à atuação do Supremo, assim como uma solução definitiva para garantir o pagamento de emendas suspensas pelo tribunal.

Descrito como um político de perfil conciliador, sereno e habilidoso, o deputado tem forte atuação nos bastidores. Sua campanha se resumiu, sobretudo, a encontros reservados e negociações políticas para a divisão dos espaços internos, evitando compromissos acerca de propostas consideradas polêmicas.

Um ponto lembrado por aliados é o fato de que as eleições de 2026 vão ocorrer enquanto ele estiver à frente da Câmara, o que vai impor desafios que terão de ser levados em conta na condução dos trabalhos.

A proximidade do pleito elevará a pressão sobre o presidente da Casa, principalmente em temas considerados espinhosos, como projeto de lei que dá anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro e a regulação das redes sociais.

Nesse sentido, o cenário político polarizado e incertezas sobre quem deverá concorrer à Presidência da República são fatores que exigirão do comando da Câmara destreza para manter um clima equilibrado no Legislativo, dizem parlamentares.

Apesar disso, eles afirmam que Hugo não terá uma linha de condução nem estritamente governista nem abertamente oposicionista, sabendo transitar entre todos os campos políticos da Casa.

De outro lado, por parte do Palácio do Planalto, há expectativa de melhora na relação do Executivo com a Câmara, com diálogo mais respeitoso do que no mandato do antecessor Arthur Lira (PP-AL), com quem os articuladores do governo tiveram atritos.

Essa previsão, dizem deputados governistas, pode ser especialmente importante para que haja empenho da Câmara na aprovação de pautas de interesse na área econômica.

Além disso, Hugo se comprometeu com a bancada do PT a reestabelecer o rito de tramitação das medidas provisórias, instrumento que foi alvo de embate entre Lira e Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Aliados apostam na boa relação dele com o novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para evitar disputas entre os congressistas. Ponderam que, apesar do bom diálogo, o presidente da Câmara não abrirá mão de direitos conquistados pelos deputados nos últimos anos.

Além de uma esperada postura corporativista, aliados arriscam dizer que Hugo quer aplicar um foco na segurança pública e na educação. Apontam ainda que, embora o deputado não tenha se aprofundado na agenda econômica durante campanha, ele tem um olhar atento a essa pauta. Em discurso no sábado, falou a favor da estabilidade fiscal.

Se, por um lado, deu poucas pistas de qual será sua plataforma na presidência e quais projetos pretende tocar, Hugo afirmou, em conversas com os deputados, que pretende “reviver” o plenário da Casa. Isso significa a convocação dos colegas para debates mais aprofundados das matérias e previsibilidade da pauta de votações -assim como a definição de um cronograma para dias e horários das sessões de plenário.

Ele também tem garantido que a pauta será feita de forma equilibrada, atendendo a todos os partidos.

Assegura ainda que vai distribuir de forma mais equânime as relatorias dos projetos entre os congressistas e dar transparência e voz aos deputados no colégio de líderes, pontos criticados por deputados em relação à conduta de Lira.

Além disso, Hugo afirmou que quer valorizar o trabalho das comissões temáticas, diminuindo o número de requerimentos de urgência levados ao plenário (instrumento que foi recorrente sob a gestão de Lira e anula a necessidade de que os projetos sejam discutidos nos colegiados).

Às vésperas do pleito, Hugo divulgou seu slogan “Do lado do Brasil”, falando em união do país, convergência de ideias e respeito à pluralidade -mas sem avançar nos sinais que pudessem gerar ruídos com um lado ou outro.

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