Assembleia do RJ reelege rival de Eduardo Paes sob apelos de candidatura ao governo

ITALO NOGUEIRA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

O deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil) foi reeleito nesta segunda-feira (3) presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro sob apelos para que assuma publicamente pré-candidatura ao governo estadual no ano que vem.

A vitória, com a unanimidade inédita dos 70 deputados, foi obtida inclusive com o voto de aliados do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), potencial rival na disputa em 2026.

A chapa liderada por Bacellar foi a única inscrita após Paes não conseguir articular uma frente contra o deputado. Durante a sessão no Palácio Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, o presidente reeleito foi instado por deputados do PL a confirmar a pré-candidatura à sucessão do governador Cláudio Castro (PL).

“Passado esse momento da eleição, é hora do senhor se posicionar como candidato ao governo do Rio de Janeiro. Nós não temos mais tempo para esperar”, disse o deputado Alan Lopes (PL).

“O PL, sob a liderança do presidente Altineu Côrtes, vai trabalhar muito para que a gente possa construir o consenso do nome do senhor para governador do estado”, disse o deputado Douglas Ruas (PL), cujo nome também é ventilado como postulante à disupta.

As falas também miraram Eduardo Paes.

“O estado precisa do senhor. O maior líder da política do estado do RJ é o senhor. Não podemos deixar aquele palhaço que governa a cidade do Rio de Janeiro dar uma de entendedor de segurança e ficar jogando piadinha sobre a segurança do estado, tentando denegrir a imagem do nosso governador”, deputado Filipe Poubel (PL).

“Eduardo Paes já destruiu o município. Não podemos deixar que ele faça o mesmo com o estado”, disse o deputado Márcio Gualberto (PL).

Nem Paes, nem Bacellar assumiram publicamente a intenção de disputar o Palácio Guanabara. O prefeito afirma que vai terminar seu mandato, que se encerra em 2028. O deputado diz que tem como meta uma vaga no TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro).

Ambos, porém, sinalizam interesse na disputa. Paes tem tratado de forma mais intensa de temas vinculados ao governo estadual. Bacellar busca se aproximar de Jair Bolsonaro (PL) para se apresentar como opção do ex-presidente na disputa. Os dois já trocaram ataques públicos, logo após a eleição municipal.

“Quero conclamar aos meus pares. Larga esse negócio de governador e vão acabar esquecendo meu voto na mesa”, disse Bacellar durante a votação, após os sucessivos menções à disputa de 2026.

Sem sucesso em viabilizar uma chapa adversária, Paes decidiu liberar aliados para votar em Bacellar, com o objetivo de manter alguma ponte com o chefe da Assembleia. A principal marca do movimento do prefeito foi o voto do deputado Guilherme Schleder (PSD), que foi exonerado da Secretaria Municipal dos Esportes apenas para votar em favor do deputado.

“Apesar de estar na função de secretário de esportes do município, acompanho essa casa muito de perto. Hoje fiz questão de me licenciar para votar sim e te desejar boa sorte nos próximos dois anos”, disse ele.

O movimento destoou de falas do prefeito, que fez críticas claras a Bacellar, comparando o presidente da Assembleia a líder de um grupo mafioso. O deputado respondeu chamando o prefeito de “vagabundo”, “dissimulado”, “cínico” e “menina virgem no cabaré”.

A deputada Martha Rocha (PDT), que assumiu a Secretaria Municipal da Assistência Social da gestão Paes, também votou em favor de Bacellar.

Bacellar teve o voto até dos deputados do PSOL, que tradicionalmente se abstém ou aderem a nomes da oposição. Os cinco deputados da sigla afirmaram que o chefe da Assembleia permitiu o desenvolvimento da atuação de seus mandatos, apesar da oposição a Castro.

“Em nenhum momento fui procurado pelo presidente, em nenhum momento em senti constrangido e acuado no exercício do meu mandato. O PSOL presidiu três comissões e eles nunca tiveram seus trabalhos constrangidos. Há dois anos o senhor vinha do governo e não votamos no senhor. O balanço que a gente faz é que a Assembleia não foi uma extensão do governo”, disse o deputado Flávio Serafini (PSOL).

Bacellar é aliado de Castro e faz parte do núcleo duro próximo ao governador. Contudo, sempre mantém relação tensa com o chefe do Executivo, pressionando pela queda e nomeação de secretários e autorizando CPIs críticas à gestão.

O presidente da Assembleia não é a única opção de Castro e bolsonaristas para a disputa. O secretário estadual de Transportes, Washington Reis (MDB), também é visto como um potencial candidato, apesar ter sido considerado inelegível pela Justiça Eleitoral no pleito de 2022.

A sessão de vitória unânime de Bacellar teve a presença do presidente da União Brasil, Antônio Rueda. O deputado estadual preside o partido no Rio de Janeiro.

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