Pesquisa aponta queda da CDU após flerte com extrema direita na Alemanha

"Friedrich Merz"

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)

Pesquisa divulgada a 20 dias das eleições parlamentares na Alemanha mostra queda de dois pontos percentuais do partido de Friedrich Merz, que flertou na semana passada com a extrema direita. A CDU, segundo levantamento do Instituto Forsa, tem agora 28%. É o menor patamar obtido pelo partido conservador em meses.

O fato de os números dos perseguidores AfD, de Alice Weidel, e SPD, do premiê Olaf Scholz, se manterem estáveis em 20% e 16%, respectivamente, reforça a interpretação de que a polêmica conduta de Merz no Parlamento, na semana passada, foi mal vista por parte de seus eleitores.

Na quarta-feira (29), o candidato com mais chance de se tornar o próximo primeiro-ministro da Alemanha contou com votos da sigla extremista para aprovar uma moção relacionada a controle imigratório, fato inédito na política do pós-guerra. Dois dias depois, ele tentou repetir a dose com um projeto de lei, que acabou derrotado após quatro horas de intenso debate.

Protestos contra a ascensão da AfD e a conduta de Merz reuniram dezenas de milhares de pessoas em diversas cidades alemãs no fim de semana. Em Berlim, 160 mil segundo a polícia, 250 mil de acordo com os organizadores, marcharam no domingo (2) do centro da capital até o escritório da CDU. “Nós somos o Brandmauer”, gritavam os manifestantes, em referência ao firewall, a distância que o campo democrático alemão mantém da extrema direita desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

A AfD, turbinada por uma campanha aberta de Elon Musk, é classificada pelos serviços de segurança do país como de extrema direita. Defende fronteiras fechadas, deportações em massa, a saída da Alemanha da União Europeia e a volta do marco alemão, entre outras bandeiras populistas. Tem integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo.

Em convenção que definiu o programa de governo da CDU, nesta segunda-feira (3), Merz voltou a afirmar que não trabalhará nem fará coalizão com a AfD. Trocou, no entanto, a ênfase do discurso.

Dissolveu o endurecimento do controle imigratório em um plano de 15 pontos, no qual a recuperação da economia ocupa o papel principal.

A CDU promete restabelecer a competitividade alemã com forte investimento em novas tecnologias, menos burocracia e mais liberdade na regulação do trabalho; diminuição de impostos, corte de despesas do governo. Também está na lista um tabu de décadas da política alemã, a volta da energia nuclear.

A fala de Merz, que chegou a ser interrompida por manifestantes do Greenpeace em Berlim, foi bem recebida por agentes do mercado, mas ainda é difícil saber se a mudança de narrativa logo apagará o estrago da semana passada.

A leitura de que Merz tentou se aproveitar da comoção nacional gerada após ataque cometido por um imigrante irregular permanece reverberando. Robert Habeck, candidato dos Verdes, afirmou que a CDU tentou “distorcer a realidade” ao insinuar que a coalizão minoritária de governo (Verdes-SPD) se recusou a negociar a legislação de controle imigratório, empurrando o partido para os votos da AfD.

Os Verdes, por sinal, ganharam um ponto no levantamento da Forsa, alcançando 16%. A grosso modo, os partidos de esquerda ganharam apoio, talvez reflexo da forte mobilização popular no fim de semana.

As eleições alemãs, antecipadas depois que a coalizão de governo montada por Scholz caiu no fim do ano passado, estão marcadas para 23 de fevereiro.

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