Rússia agora diz estar em contato com Trump sobre Ucrânia

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IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Pela primeira vez desde a posse de Donald Trump nos Estados Unidos, há pouco mais de duas semanas, a Rússia disse que está em contato com a equipe do novo presidente americano para discutir caminhos para um acordo sobre a Guerra da Ucrânia.

A informação foi dada nesta quarta (5) pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que ressaltou que o contato está em “nível ministerial” e não inclui ainda a esperada conversa entre o republicano e o presidente Vladimir Putin, que ambos já disseram estar no horizonte próximo.

A fala de Peskov é parte do balé em curso entre as duas maiores potências nucleares do planeta, e reflete a posição de Trump. Enquanto causa comoção geopolítica diária, ora no vaivém de uma guerra tarifária, ora prometendo tomar Gaza, ele reserva mais cautela ao tratar do problema mais agudo à sua frente.

Depois de passar a campanha e o tempo como presidente eleito dando sinais inequívocos de que apoiaria a posição russa na disputa com o vizinho, invadido por Putin em 2022, Trump passou a falar mais grosso, citando até mais sanções contra Moscou e seus aliados.

O Kremlin não mordeu a isca e manteve a disposição de conversa, falando francamente que acreditava estar ante a teatralidade conhecida do americano.

Nesta semana, o novo chefe da Casa Branca foi além, testando uma nova abordagem: sugeriu que a Ucrânia, detentora de reservas de minerais vitais para a indústria eletrônica, deveria fornecer tais produtos para Washington.

Isso faz parte da outra dança, essa com maior impacto estratégico mas de prazo mais longo, entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping. A China tem vastos depósitos das chamadas terras raras, que servem para fazer de chips a baterias de carros elétricos, e os EUA querem buscar paridade no campo.

Mas a sugestão de Trump, que vai em linha com o perfil de negociador empresarial que ele tenta vender, foi lida também como uma alternativa ao corte no fornecimento de ajuda militar a Kiev. Em outras palavras, como o próprio Peskov havia dito na terça (4), o presidente quer algo em troca pelos bilhões de dólares enviados aos ucranianos.

Se isso soa como pressão, e é, ainda assim é melhor para o presidente Volodimir Zelenski do que as sugestões de Trump de que simplesmente cessaria a ajuda à Ucrânia, que mobilizaram os aliados europeus de Washington a formar um grupo para tentar centralizar e aumentar seus esforços de guerra por procuração com os russos.

Em campo, a escalada que marca este ano segue com o mesmo padrão. A Rússia avançou mais em solo e anunciou ter tomado duas localidades, uma em Donetsk (leste) e outra em Karkhiv (norte), expandido sua atividade nas frentes de batalha.

Os bombardeios diários continuam, com uma caso particularmente mortífero na terça, quando cinco pessoas morreram em Sumi (nordeste da Ucrânia).

Além disso, Moscou tem chamado a atenção com uma intensificação nas suas patrulhas com bombardeiros estratégicos, destinados a ataques nucleares. Foram três desde a semana passada, duas no Ártico e outra, perto do Japão.

A mais recente foi na terça, quando caças F-35 noruegueses acompanharam o voo de dois quadrimotores Tu-95MS que estavam escoltados por aviões Su-30. Não houve incidentes, apenas a demonstração de prontidão e força de lado a lado que caracteriza essas ações.

Do lado ucraniano, Kiev tem aumentado a frequência de ataques contra instalações petrolíferas russas.

Ao menos três refinarias e depósitos de combustível foram atingidos por drones do país desde a semana passada. O caso mais recente foi nesta quarta, quando uma refinaria em Krasnodar (sul) pegou fogo após ser atingida.

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