Concurseiros aprovados no CNU relatam alívio após enchentes, adiamentos e meses de ansiedade

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CARLOS VILLELA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A divulgação dos resultados da primeira edição do CNU (Concurso Nacional Unificado) tirou um peso das costas de milhares de concurseiros que conviveram por mais de um ano com desafios como ansiedade, incerteza com o futuro e necessidade de reconstrução pessoal.

O edital do concurso público, o maior da história do país, com quase 1 milhão de participantes, foi lançado em janeiro do ano passado. A prova inicialmente estava marcada para 5 de maio, mas foi adiada por causa das enchentes no Rio Grande do Sul e acabou realizada em 18 de agosto. O resultado inicialmente seria divulgado em novembro, mas foi divulgado apenas nesta terça-feira (4). Ou seja, para os candidatos, foi mais de um ano de preparação e estresse.

“Hoje estou celebrando e tendo flashbacks de todo esse longo um ano desde a inscrição”, diz a arquiteta gaúcha Ana Paula Vieceli, 40, aprovada para o quadro de servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio). No total, o certame deve preencher 6.640 vagas em 21 órgãos públicos
Natural de Encantado, no vale do Taquari, ela se dedicou a manter a preparação e os estudos enquanto sua cidade se recuperava da devastação causada pelas enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul.

“Assim que houve o adiamento das provas decidi colocar minha energia total para ser aprovada. Segui estudando, ainda que muito abalada pela catástrofe”, conta ela.

“Foram dias pesados e tristes, e minha memória desse período carrega um misto de realismo pessimista, em função das mudanças climáticas e da desinformação, com pitadas fundamentais de esperança, pelo papel que o estado tem no enfrentamento das crises.”

Agora, ela se prepara para deixar a cidade de 23 mil habitantes e dar início a uma nova fase profissional, inclusive fora do Rio Grande do Sul. Ana Paula prestou concurso para uma das vagas nas regiões Norte,

Nordeste e Centro-Oeste, e aguarda a Funai decidir onde ela será lotada.

“Espero aprender muito, conhecer cada vez mais esse país profundamente e contribuir para construir políticas públicas que sejam necessárias e eficientes”, diz.

Os impactos da enchente no Rio Grande do Sul também afetaram o engenheiro Felipe Rissoli, 27, morador de Brasília, que teve que fazer a prova no Paraná.

“Em dezembro de 2023 comprei passagem para passar uma semana em Curitiba nas minhas férias. Quando o edital saiu em janeiro, vi que o concurso seria no dia que eu estaria lá”, diz.
Felipe marcou a prova para a capital paranaense e viajou no dia 1º de maio para fazer a prova no dia 5.

No dia 3, veio o anúncio do adiamento.

“Fiquei meses tentando mudar o local de prova para Brasília, mas a banca não deixou”, conta. “Tive que pagar outra passagem para Curitiba para fazer. Isso gerou muito estresse e gasto.”

Ao todo, foram quase oito meses ininterruptos de estudo, conciliando a agenda diária apertada e problemas familiares que exigiam sua atenção. “Eu trabalhava até as 18h, chegava em casa, tomava banho e já ia estudar até 1h da manhã”, diz.

Felipe saiu otimista da sala da prova, mas teve dificuldade em controlar o nervosismo até a divulgação do resultado. “Por mais que eu soubesse que tinha ido bem, todo dia surgia uma notícia nova de suspensão, adiamento etc., então eu só ficava mais ansioso a cada dia. Tive dificuldade de estudar para outros concursos nesse período pela ansiedade.”

Felipe foi aprovado para analista de infraestrutura do MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos).

Nesta terça-feira (4), finalmente pôde comemorar a conquista com o namorado, com quem estava quando viu o resultado. “Nós dois gritamos muito e fomos comer um doce juntos”, conta.

“O concurseiro só quer um alívio no final das contas”, diz a brasiliense Amanda Amaral, 34, formada em administração e aprovada para o quadro de funcionários da AGU (Advocacia-Geral da União). “Estudar para concurso é uma grande frustração em que você se sente incapaz o tempo todo, mas não desistir te leva a resultados como o de hoje.”

Segundo Amanda, o maior desafio no período era psicológico. Por isso, buscou organizar a rotina para conciliar o trabalho em home office, os estudos e o cuidado com a própria saúde. “Não abandonei o exercício físico que, inclusive, me ajudou bastante durante a preparação. Lá, eu podia esquecer a pressão dos estudos”, diz.

Com a confirmação do resultado, Amanda diz que está com a sensação de dever cumprido. “Acho que a ficha ainda não caiu que eu realmente consegui, porque é bem louco se dedicar tanto para um objetivo e realmente alcançá-lo, ainda mais em um concurso com algumas reviravoltas.”

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