Israel prepara plano para saída ‘voluntária’ da população de Gaza

O governo de Israel ordenou, nesta quinta-feira (6), que o Exército prepare um plano para a saída voluntária dos moradores da Faixa de Gaza, projeto alinhado com a ideia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de deslocar a população do território palestino.

O presidente republicano também sugeriu na terça-feira que os Estados Unidos assumam o controle do território, durante uma entrevista coletiva ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que fez uma visita oficial a Washington.

Trump não revelou prazos ou detalhes de sua proposta surpreendente, mas a ideia provocou uma onda de indignação internacional, começando por Jordânia e Egito, que se negam a receber a população de Gaza eventualmente deslocada. A ONU fez um alerta contra uma “limpeza étnica”.

Apesar das críticas, o ministro israelense da Defesa, Israel Katz, celebrou “o plano audacioso de Trump” e ordenou nesta quinta-feira que o Exército prepare “um plano para permitir que os habitantes de Gaza saiam voluntariamente”.

O objetivo é permitir “a saída de qualquer residente de Gaza que deseje, para qualquer país que os aceite”, afirmou em um comunicado.

“O plano incluirá opções de saída através das passagens terrestres, assim como medidas especiais para saídas por mar e ar”, completou.

Atualmente, os quase 2,4 milhões habitantes de Gaza não podem deixar o território cercado por Israel e devastado pela guerra, que começou em 7 de outubro de 2023 com o ataque surpresa do movimento islamista Hamas contra o território israelense.

– “Intenção de ocupar o território” –

Após uma avalanche de críticas internacionais, o secretário de Estado, Marco Rubio, declarou na quarta-feira que qualquer transferência de moradores de Gaza seria temporária.

Mas Trump insistiu nesta quinta-feira: “a Faixa de Gaza será entregue aos Estados Unidos por Israel ao fim dos combates”, e os palestinos serão “reassentados em comunidades muito mais seguras e bonitas, com casas novas e modernas, na região”, escreveu em sua rede Truth Social.

“Não seriam necessários soldados americanos! A estabilidade na região reinaria!”, acrescentou.

O porta-voz do Hamas, Hazem Qassem, condenou a iniciativa de Trump, afirmando que ela constitui “uma declaração de intenção de ocupar o território palestino”.

“Gaza pertence a seu povo e eles não irão embora”, declarou o porta-voz, lançando um chamado para a organização de uma “cúpula árabe” de emergência para responder à proposta do presidente americano.

Em uma entrevista para o canal conservador americano Fox News, Netanyahu elogiou a ideia de Trump, que segundo ele deveria ser “examinada, estimulada e realizada, porque acredito que abrirá um futuro diferente para todos”.

O governante israelense conta entre seus aliados com forças políticas que aspiram reinstaurar colônias judaicas em Gaza, de onde Israel se retirou unilateralmente em 2005 por decisão do então primeiro-ministro Ariel Sharon.

O ministro das Finanças, o político de extrema direita Bezalel Smotrich, do Partido Sionista Religioso, celebrou que o Exército esteja se preparando para “desempenhar seu papel no plano de migração” dos moradores de Gaza “para os países de acolhida”.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, ressaltou “o direito dos palestinos a viver (…) em sua própria terra” e fez um alerta contra “qualquer forma de limpeza étnica”.

– “Retornamos” –

Muitos habitantes de Gaza, quase todos deslocados durante o conflito, também descartam fazer as malas agora que a trégua permitiu o retorno para suas casas, ou para o que resta delas, após mais de 15 meses de conflito e bombardeios israelenses.

“Voltamos apesar da destruição em larga escala (…) porque rejeitamos categoricamente o deslocamento”, disse Ahmed al Minaui, um morador da Cidade de Gaza.

Egito, Jordânia, Arábia Saudita, União Europeia e Irã também rejeitaram a proposta de Trump.

O Ministério das Relações Exteriores do Egito, país que atua como moderador do conflito ao lado de Catar e EUA, considerou nesta quinta-feira que a ideia “enfraquece e destrói as negociações de um cessar-fogo e incita a retomada dos combates”.

O ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas deixou 1.210 mortos e o sequestro de 252 israelenses, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais de Israel.

A campanha de represália israelense em Gaza causou pelo menos 47.583 mortes, majoritariamente civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, que a ONU considera confiáveis.

Apesar da trégua, o número de mortos continua aumentando, à medida que os corpos são encontrados entre os escombros ou que as pessoas morrem devido aos ferimentos sofridos.

© Agence France-Presse

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