O medo de voar e a realidade estatística

Você já parou para pensar como a aviação é incrivelmente segura, mas basta um acidente para se tornar o centro das atenções? É só algo dar errado que a mídia entra em ação, repetindo os detalhes como se fosse o fim do mundo. Foi exatamente o que aconteceu recentemente, em 29 de janeiro de 2025, quando um voo da American Airlines colidiu com um helicóptero militar Black Hawk em Washington, D.C. Um único incidente e, de repente, todo o foco está lá.”

Foi tragédia, claro. Mas as cenas do acidente foram exibidas sem parar, quase como se dissessem: “Tá vendo? Voar é perigoso mesmo.”

E, olha, ninguém entra em um carro pensando em acidentes. Você pensa? E um trem descarrilhando? Nunca passa pela nossa cabeça antes da viagem. Agora, o avião? Ah, esse desafia tudo que a gente entende como natural. Parece que algo sem asas deveria despencar, né?

Aí acontece que a gente só presta atenção na segurança dos aviões quando algo sai errado. E claro que isso vira prato cheio para a mídia, que transforma o acidente em um verdadeiro show macabro, atiçando nossos medos mais profundos.

Mas é exatamente nesses momentos que as estatísticas deveriam brilhar. Vamos combinar? Os números são impressionantes.

Pensa só: todos os dias, mais de 100 mil voos acontecem ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, são mais de 51 mil decolagens diárias. Na Europa, o céu recebe cerca de 32 mil voos por dia. Já aqui no Brasil, em 2023, foram cerca de 2.100 voos domésticos diariamente, além de mais de 122 mil voos internacionais ao longo do ano, transportando 112,6 milhões de passageiros. E sabe qual é a chance de algo dar errado? Mínima.

Aí tem aquela empresa chamada Airline Ratings, que adora fazer listas das companhias aéreas mais seguras do mundo. Mas o que realmente define segurança? Só contar os incidentes não faz sentido. Uma empresa com 100 aviões e três incidentes é muito mais preocupante do que outra com 800 aviões e seis incidentes. Você concorda?

Na realidade, podemos dizer que há muita coisa em jogo: o tamanho da frota, a frequência de voos, e até a saúde financeira da companhia. Porque, olha, uma empresa em crise pode deixar de lado itens importantes como manutenção, treinamento de tripulação e até a troca de peças.

Agora, o ponto mais crítico talvez seja como os incidentes são gerenciados. Quer um exemplo? O voo JAL 516, no Japão, no ano passado. Um Airbus A350 colidiu com uma aeronave menor na pista e pegou fogo. Todo mundo sobreviveu. Mas por quê? Foi sorte? Foi a competência dos pilotos? Ou talvez os procedimentos de emergência bem feitos?

Por outro lado, tem vezes que o problema vem da fábrica. Tipo o voo 1282 da Alaska Airlines, em 2024. Um pedaço da fuselagem se soltou no meio do voo porque um plugue de porta simplesmente não aguentou. E sabe quem estava no meio da confusão? A Boeing. Mais uma vez.

Agora, falando da Boeing, você lembra da corrida dela contra a Airbus? Quando a Airbus lançou o A320neo, mais eficiente, a Boeing decidiu agir rápido – talvez rápido demais. Em vez de redesenhar o avião do zero, pegaram o velho 737 dos anos 1960 e deram uma “turbinada”. Foi assim que nasceu o 737 MAX.

Mas essa pressa trouxe consequências. O modelo ganhou motores mais potentes e precisou de um sistema automático para corrigir a inclinação. Só que esse tal de MCAS era problemático. Mal projetado e com sensores que falhavam.

Aí vieram os acidentes. O voo 610 da Lion Air, em 2018, caiu no mar logo após a decolagem. Meses depois, o voo 302 da Ethiopian Airlines sofreu o mesmo destino. Sem sobreviventes. Foi só aí que o mundo percebeu o tamanho do problema.

A Boeing jogou no mercado um avião com defeito e sem treinar os pilotos para lidar com ele. Era tanto medo de perder terreno para a Airbus que eles ignoraram o básico: a segurança.

E o que aconteceu? O 737 MAX foi proibido de voar por quase dois anos. Multas bilionárias, processos e uma reputação destruída. Até hoje, tem gente que evita voar nesse modelo.

Mas olha só os números. Entre 2018 e 2022, a chance de morrer em um acidente aéreo foi de 1 em 13,7 milhões. Isso mesmo! Agora compara isso com os acidentes de trânsito: mais de 1,19 milhão de mortes por ano. Ou seja, duas pessoas morrem por minuto em terra firme. E, mesmo assim, ninguém pensa duas vezes antes de pegar o carro para ir ao mercado.

A aviação é incrível: a cada erro, ela aprende e se torna mais segura. Regulamentos, treinamentos, inspeções… tudo é pensado para que a gente confie no céu. Mas sabe o que é curioso? Apesar de toda essa segurança, muitos de nós ainda desconfiam do chão.

O medo de voar não tem nada a ver com números ou estatísticas. Dizer que o avião é o transporte mais seguro não adianta para quem sente aquele frio na barriga ou tem pavor de decolar. O medo é puro sentimento, algo que carregamos como um instinto de defesa. E, no fundo, isso nos torna humanos.

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