Usiminas, Ternium e ArcelorMittal devem ser as mais afetadas por tarifas de Trump

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PEDRO LOVISI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

As tarifas sobre aço e alumínio anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no domingo (9) podem afetar grande parte das vendas das siderúrgicas brasileiras, caso entrem em prática de fato e não haja exceções que beneficiem o país. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os americanos.


De acordo com analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, as empresas mais afetadas devem ser a Ternium e a Usiminas, que exportam grande fatia de suas produções para os EUA. A primeira é a controladora da segunda, mas também tem uma fábrica própria de placas de aço no Brasil, onde tem capacidade de produzir até 5 milhões de toneladas anualmente no Rio de Janeiro.


Segundo o relatório anual da Ternium, em 2023 a empresa exportou 486 mil toneladas de aço a partir do Brasil. A siderúrgica não divulga quanto de sua produção anual vai para os Estados Unidos, mas uma fatia considerável atende às indústrias americanas.


Quem conhece o mercado também aponta que a siderúrgica envia parte de sua produção semiacabada no Brasil para suas plantas americanas e mexicanas, onde os produtos de aço são finalizados. O México, aliás, outro país na mira de Trump, é responsável por quase 60% das exportações da Ternium, justamente pela proximidade com os Estados Unidos.


Já a Usiminas tem a América do Norte como destino de 13% de suas exportações. A siderúrgica não destrincha o dado em nome de países, mas segundo analistas uma grande fatia vai para os Estados Unidos. Em 2023, por exemplo, a Usiminas exportou 382 mil toneladas de aço (assim, cerca de 50 mil toneladas foram enviadas para a América do Norte). Os dados de 2024 serão anunciados nesta sexta-feira (14).


Apesar do potencial impacto das medidas, as ações da Usiminas cresciam 1,07% na manhã desta segunda (10), sendo comercializadas a R$ 5,66.


As da CSN, por sua vez, caíam 0,44% e eram vendidas a R$ 8,90. Em 2023, cerca de 300 mil toneladas de aço foram negociadas pelo braço de distribuição da empresa nos EUA e outras 21 mil toneladas foram exportadas (sem filtro de país). A grande maioria das negociações da siderúrgica brasileira, porém, acontece no mercado doméstico, que absorveu quase 3 milhões de toneladas de aço naquele ano.


Na mesma linha, os papeis da ArcelorMittal, outra empresa que poderá ser afetada, caíam 1,42% e eram vendidas a R$ 79,47. A siderúrgica, que tem várias plantas no Brasil, não divulga quanto de sua produção brasileira vai para os Estados Unidos, mas segundo seu relatório anual, em 2023 a empresa produziu 14 milhões de toneladas de aço no país, sendo a grande maioria exportada.


Marco Antônio Castello Branco, ex-presidente da Usiminas e ex-diretor da Vallourec, aponta que a ArcelorMittal, assim como a Ternium, alimenta suas unidades nos EUA com aços semi-elaborados do Brasil e, por isso, as taxas devem afetar suas operações internas. Ele estima que as siderúrgicas no Brasil podem perder até US$ 5 bilhões (R$ 29 bi) devido às medidas de Trump.


“Os impactos dessa medida são a perda de receita em dólar da siderurgia, aumento de ociosidade das usinas e eventualmente suspensão ou adiantamento de seus investimentos. Dificilmente o Brasil conseguirá reorientar os volumes que deixarem de ser exportados para outros países”, diz Castello Branco. Hoje, a capacidade produtiva das siderúrgicas brasileiras varia entre 60% e 70% (considerada baixa), e as medidas de Trump podem reduzir ainda mais esse percentual.


A dificuldade em reorientar a produção brasileira também é mencionada por Yasmin Riveli, consultora de mineração e siderurgia da Tendências Consultoria. “Como as tarifas vão afetar todo mundo, os demais países também vão tentar realocar suas produções. Vai ser uma corrida para quem vai conseguir negociar flexibilizações primeiramente”, diz.


Segundo ela, o Brasil tem uma vantagem sobre os demais países. Isso porque, como a grande maioria das exportações brasileiras para os EUA é de aços semiacabados, as siderúrgicas americanas podem ser afetadas se não conseguirem mais importar o produto brasileiro.


Na lógica da cadeia global de aço, essas siderúrgicas precisam importar aço semiacabado para fabricar produtos para indústrias manufatureiras, como as automotivas. “Com isso, há espaço para defender um tratamento diferenciado para o Brasil”, afirma.


Em 2018, por exemplo, o governo Trump também aplicou uma tarifa de 25% sobre o aço importado pelos Estados Unidos, mas dois anos depois, reduziu a cota de importação de aço semiacabado do Brasil. Em 2022, sob Joe Biden, os americanos revogaram as medidas restritivas.


A Gerdau, por outro lado, deve ser uma das poucas siderúrgicas brasileiras que não serão tão afetadas pela medida. Historicamente, menos de 10% das exportações da produção da empresa no Brasil vão para a América do Norte -a siderúrgica prioriza os mercados da América do Sul, América Central e, recentemente, tem ganhado espaço no mercado Europeu.


Além disso, a empresa tem fábricas nos Estados Unidos, que representam grande parte das receitas da empresa -por isso, em primeira análise, a siderúrgica poderia se beneficiar das tarifas. As ações da empresa cresciam 3,77% na B3 na manhã desta segunda, sendo vendidas a R$ 17,33.


Nesta segunda, o BTG publicou uma análise em que diz que é natural enxergar a Gerdau como beneficiária das medidas, mas o banco alertou ser necessário ter mais detalhes do anúncio. “Embora a reação inicial possa ser cobrir posições vendidas ou buscar uma negociação rápida, recomendamos alguma cautela.”

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