Dólar cai e Bolsa sobe com novas ameaças tarifárias de Trump no radar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar apresenta queda nesta segunda-feira (10), em meio a novas ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Às 15h54, a moeda norte-americana caía 0,19%, cotada a R$ 5,780, em sessão volátil. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,824; na mínima, a R$ 5,763. Já a Bolsa avançava 0,86%, aos 125.692 pontos.

Trump anunciou, no domingo, planos de aplicar tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio que chegam ao país, em uma nova escalada de sua revisão da política comercial que pode afetar o Brasil.

Produtos semiacabados de aço estão entre os principais produtos exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves.

Segundo dados do governo americano, entre novembro de 2023 e novembro de 2024 o Canadá foi o maior fornecedor de aço, em volume, para os americanos, com 22,6% do total, seguido pelo Brasil (16,4%, com 4 milhões de toneladas) e o México (11,9%).

O Brasil ficou atrás do México em valores: recebeu US$ 2,9 bilhões, contra US$ 3,2 bilhões dos mexicanos e US$ 6,64 bilhões dos canadenses.

A expectativa é que Trump implemente as tarifas nesta segunda-feira, e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai aguardar a eventual oficialização das novas medidas para se manifestar.

“O governo tomou a decisão de só se manifestar oportunamente com base em decisões concretas, não em anúncios que podem ser mal interpretados, revistos”, disse o ministro Fernando Haddad (Fazenda) a jornalistas.

Segundo reportado pela colunista da Folha de S.Paulo, Mônica Bergamo, o governo estuda taxar plataformas digitais norte-americanas em resposta. São citadas como exemplo Amazon, Facebook, Instagram, Google e Spotify.

A medida conhecida como “digital tax” teria diversas vantagens sobre qualquer outra iniciativa, afirmou uma autoridade do governo brasileiro. A primeira delas: não seria algo improvisado, pois a adoção da taxa sobre as plataformas já vem sendo debatida na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e alguns países, como o Canadá, já avançaram em sua implantação.

No Brasil, ela está sendo discutida há vários meses, e poderia ser implantada de forma quase imediata no contexto em que Trump acelera a sua guerra comercial mundial e atinge o Brasil. “Viria a calhar”, disse essa autoridade à coluna.

Em segundo lugar, a taxação não prejudicaria setores industriais brasileiros, já que não se trata de taxar insumos importados dos EUA que, mais caros, impactam nos preços dos produtos brasileiros e podem inclusive impulsionar a inflação.

Ela teria, além disso, apoio de grandes representantes da indústria e do varejo.

Mas a cautela deve imperar entre os integrantes do Executivo. Em postagem no X (ex-Twitter), Haddad afirmou que “não é correta a informação de que o governo Lula deve taxar empresas de tecnologia”.

O entendimento é que, diante do comportamento errático do presidente norte-americano, a melhor postura é aguardar medidas concretas e não entrar em uma guerra comercial aberta contra os Estados Unidos.

Trump ainda prometeu, na sexta, que irá impor tarifas de reciprocidade a vários países ao longo desta próxima semana. A medida -uma das promessas do republicano durante a campanha eleitoral- visa igualar as tarifas de importação dos Estados Unidos às cobradas pelos parceiros comerciais sobre produtos norte-americanos.

Trump não identificou quais países seriam afetados, mas sugeriu que seria um esforço amplo que também poderia ajudar a resolver os problemas orçamentários dos EUA.

“Vou anunciar isso na próxima semana, comércio recíproco, para que sejamos tratados de forma justa com outros países”, disse Trump. “Não queremos mais, nem menos.”

Os planos seguem a esteira dos decretos assinados no sábado (1º), nos quais Trump impôs tarifas adicionais sobre todas as importações do Canadá, México e China. Ele, porém, costurou acordos com as lideranças dos países vizinhos e adiou as taxas em um mês, mas manteve as de 10% sobre todos os produtos da China.

Os chineses retaliaram com taxas de 15% para carvão e gás natural dos EUA, bem como outras de 10% para petróleo bruto, equipamentos agrícolas e alguns automóveis, em vigor a partir desta segunda.

Os mercados financeiros inicialmente esperavam que Trump pudesse seguir o mesmo roteiro com a China como fez com o Canadá e o México. Ele sugeriu que falaria com o líder chinês Xi Jinping, mas depois disse que não tinha “pressa”.

Os investidores avaliam o “tarifaço” com cautela. Isso porque a política tem o potencial de aumentar custos para os consumidores norte-americanos, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados.

Quanto maiores os juros por lá, mais atrativos ficam os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, os chamados treasuries, o que fortalece o dólar globalmente.

Já na cena doméstica, destaque para a divulgação do Boletim Focus do Banco Central. O mercado elevou novamente as projeções para a inflação brasileira em 2025 e 2026: a expectativa para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), agora, é de alta de 5,58% ao fim deste ano, de 5,51% na pesquisa anterior.

Para 2026, a projeção para a inflação brasileira é de 4,30%, de 4,28% anteriormente.

Na terça, os dados do IPCA de janeiro serão conhecidos. Economistas consultados pela Reuters esperam desaceleração para 0,14% na base mensal, depois de um avanço de 0,52% em dezembro.

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