Fiemg espera concessão dos EUA para aço do Brasil, e setor de alumínio aponta efeitos de taxas

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PEDRO LOVISI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

As tarifas sobre aço e alumínio anunciadas pelo governo dos Estados Unidos na segunda-feira (10) podem trazer impactos negativos às empresas brasileiras, mas é possível negociar flexibilizações, segundo a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais).


A entidade, que agrega siderúrgicas de Minas Gerais, disse que o Brasil pode obter concessões do governo Trump, uma vez que grande parte do aço exportado pelo Brasil é de peças semiacabadas -ou seja, que ainda precisam ser finalizadas para serem comercializadas para indústrias manufatureiras, como de automóveis, máquinas de construção.


“Assim como ocorreu no primeiro mandato do ex-presidente Donald Trump, entendemos que, mesmo com a adoção de sanções, o Brasil poderá obter algumas concessões. Grande parte das nossas exportações são de produtos semielaborados, que passam por processos de industrialização em empresas norte-americanas, muitas delas coligadas a companhias brasileiras. Isso pode ser um fator favorável para que o Brasil não saia machucado dessa situação”, afirma Flávio Roscoe, presidente da Fiemg, em nota.


Como a Folha noticiou, essa também é a projeção de alguns analistas de mercado. Na visão deles, as siderúrgicas americanas podem ser afetadas caso não consigam importar aço semiacabado do Brasil, o segundo maior vendedor para os americanos, atrás apenas do Canadá. Assim, é provável que as próprias empresas dos EUA ajudem na negociação com o governo Trump.


No ano passado, os Estados Unidos foram destino de 54,1% das exportações de produtos siderúrgicos brasileiros (em dólares).


Em 2018, Trump também aplicou uma tarifa de 25% sobre o aço importado pelos Estados Unidos, mas dois anos depois reduziu a cota de importação de aço semiacabado do Brasil. Em 2022, sob Joe Biden, os americanos aliviaram as medidas restritivas, fixando uma quantidade máxima de aço que poderia entrar no país sem as tarifas -as cotas, agora, foram anuladas por Trump.


A Fiemg foi a única representante das siderúrgicas a emitir um posicionamento desde o anúncio de Trump.


O Instituto Aço Brasil, principal associação que representa as siderúrgicas, não havia se posicionado sobre o tema até a publicação desta reportagem nem respondido aos questionamentos da Folha de S.Paulo. A CNI (Confederação Nacional das Indústrias) também não divulgou comentários.


A Abal (Associação Brasileira do Alumínio) afirmou, em nota enviada na manhã desta terça, ser incerto se a nova tarifa anunciada por Trump substituirá a taxa existente de 10% para o alumínio brasileiro ou se será somada à atual (chegando a 35%).


Ainda assim, a associação já calcula os impactos. “Apesar de os produtos de alumínio brasileiros terem plena condição de competir em mercados altamente exigentes como o americano, seja pelo aspecto da qualidade ou da sustentabilidade, nossos produtos se tornarão significativamente menos atrativos comercialmente devido à nova sobretaxa”, diz a nota.


A entidade ressalta que, embora a participação do Brasil nas importações americanas de produtos de alumínio seja relativamente pequena (menos 1%), os Estados Unidos são parceiros comerciais importantes e correspondem a 16,8% das exportações brasileiras do metal. O comércio entre os dois países movimentou US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024.


Em termos de volume, os Estados Unidos foram o destino de 13,5% do total (72,4 mil toneladas) das exportações brasileiras de produtos de alumínio.


“Além dos impactos na balança comercial, preocupa ainda mais os efeitos indiretos associados ao aumento da exposição do Brasil aos desvios de comércio e à concorrência desleal. Produtos de outras origens que perderem acesso ao mercado americano buscarão novos destinos, incluindo o Brasil, podendo gerar uma saturação do mercado interno de produtos a preços desleais”, acrescenta a Abal.

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