Siderúrgicas no Brasil negam que importação de aço chinês aumente venda para os EUA

aço

PEDRO LOVISI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, disse nesta terça-feira (10) que recebeu com surpresa o anúncio de Donald Trump de que o governo americano taxará em 25% as importações de aço, independentemente da origem. Essa é a primeira vez que o setor se manifesta desde o anúncio do presidente americano.

Em nota divulgada, o instituto também nega argumento de Donald Trump de que o Brasil estaria importando grandes quantidades de aço chinês para enviar a produção nacional para os Estados Unidos.

Esse argumento foi apresentado em um documento assinado por Trump e publicado na segunda.

“Cabe ressaltar que o mercado brasileiro também vem sendo assolado pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China, razão pela qual o Instituto Aço Brasil solicitou ao governo brasileiro a implementação de medida de defesa comercial”, diz o Instituto.

“Assim, ao contrário do alegado na proclamação do governo americano de 10 de fevereiro, inexiste qualquer possibilidade de ocorrer, no Brasil, circunvenção para os Estados Unidos de produtos de aço oriundos de terceiros países”, acrescenta a nota.

A entidade também diz que as empresas representadas estão confiantes na abertura de diálogo entre os governos dos dois países para restabelecer o fluxo de produtos de aço para os Estados Unidos, até porque os americanos, segundo o instituto, são superavitários em US$ 3 bilhões no comércio com o Brasil dos principais itens da cadeia do aço (carvão, aço e máquinas e equipamentos).

O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os americanos, atrás apenas do Canadá, e o maior exportador de placas de aço para os EUA (3,4 milhões de toneladas, das 5,6 milhões, segundo o instituto) -matéria-prima para produtos acabados de aço. Além disso, cerca de metade das exportações de aço do Brasil vão para os Estados Unidos, o que coloca em risco importante fatia da produção siderúrgica brasileira.

Na nota, o instituto diz ainda que as empresas americanas não têm oferta suficiente para a demanda do produto no mercado local. Assim, as siderúrgicas brasileiras defendem que a flexibilização das restrições para o Brasil ajudaria as própria indústria dos EUA.

As siderúrgicas brasileiras lembram quem em 2018 Trump também anunciou tarifas de 25% para aços importados, mas voltou atrás ao perceber a importância do produto brasileiro para a indústria americana.

Na ocasião, após negociações, o governo americano fixou um limite de 3,5 milhões de toneladas de placas e 687 mil toneladas de laminados para entrar nos EUA.

Na segunda, a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) seguiu retórica semelhante. A entidade, que agrega siderúrgicas de Minas Gerais, disse que o Brasil pode obter concessões do governo Trump, uma vez que grande parte do aço exportado pelo Brasil é de peças semiacabadas -ou seja, que ainda precisam ser finalizadas para serem comercializadas para indústrias manufatureiras, como de automóveis e máquinas.

“Assim como ocorreu no primeiro mandato do ex-presidente Donald Trump, entendemos que, mesmo com a adoção de sanções, o Brasil poderá obter algumas concessões. Grande parte das nossas exportações são de produtos semielaborados, que passam por processos de industrialização em empresas norte-americanas, muitas delas coligadas a companhias brasileiras. Isso pode ser um fator favorável para que o Brasil não saia machucado dessa situação”, afirma Flávio Roscoe, presidente da Fiemg em nota.

Como a Folha de S.Paulo noticiou, essa também é a projeção de alguns analistas de mercado. Na visão deles, é provável que as próprias empresas dos EUA ajudem na negociação com o governo Trump.

Ainda nesta terça, a Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) disse que a indústria siderúrgica brasileira possui significativo grau de integração com os Estados Unidos e que o aço brasileiro é um insumo estratégico para a indústria americana.

“O Brasil, por sua vez, importa um volume relevante de bens fabricados com aço nos Estados Unidos, incluindo máquinas e equipamentos, peças para aeronaves, motores automotivos e outros bens da indústria de transformação. Com as sobretaxas, há o risco de redução das importações brasileiras desses produtos de origem norte-americana”, diz a nota da entidade.

Já a Abal (Associação Brasileira do Alumínio) afirmou, em nota enviada na manhã desta terça, ser incerto se a nova tarifa anunciada por Trump substituirá a taxa existente de 10% para o alumínio brasileiro ou se será somada à atual (chegando a 35%).

Ainda assim, a associação já calcula os impactos. “Apesar de os produtos de alumínio brasileiros terem plena condição de competir em mercados altamente exigentes como o americano, seja pelo aspecto da qualidade ou da sustentabilidade, nossos produtos se tornarão significativamente menos atrativos comercialmente devido à nova sobretaxa”, diz a nota.

A entidade ressalta que, embora a participação do Brasil nas importações americanas de produtos de alumínio seja relativamente pequena (menos 1%), os Estados Unidos são parceiros comerciais importantes e correspondem a 16,8% das exportações brasileiras do metal. O comércio entre os dois países movimentou US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024.

Em termos de volume, os Estados Unidos foram o destino de 13,5% do total (72,4 mil toneladas) das exportações brasileiras de produtos de alumínio.

“Além dos impactos na balança comercial, preocupa ainda mais os efeitos indiretos associados ao aumento da exposição do Brasil aos desvios de comércio e à concorrência desleal. Produtos de outras origens que perderem acesso ao mercado americano buscarão novos destinos, incluindo o Brasil, podendo gerar uma saturação do mercado interno de produtos a preços desleais”, acrescenta a Abal.

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