Denúncias de exploração sexual infantil caem, mas Telegram ainda preocupa, aponta Safernet

ISABELLA MENON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Denúncias de imagens de abuso e exploração sexual infantil reportadas pela Safernet registraram uma queda em 2024 em comparação com 2023, ano que a ONG reuniu o maior número de queixas da série histórica que teve início em 2005.

O levantamento da organização foi divulgado na manhã desta terça-feira (11), no Dia da Internet Segura.

Ao todo, a ONG recebeu 100.077 denúncias no ano passado, uma queda de 34% em relação a 2023.

– Por que o termo ‘pornografia infantil’ não é mais considerado correto?

A redução foi notada na maioria dos crimes reportados, como exploração sexual infantil, que teve 52 mil denúncias, que representa 26% a menos que em 2023. A mesma tendência é observada entre as denúncias de crimes de ódio, que somaram 14.108 novos casos, uma queda de 49% em relação a 2023.

A ONG possui um Canal de Denúncias e encaminha novas denúncias ao Ministério Público Federal, órgão que possui convênio com a Safernet desde 2005, ano que foi criada.

Porém, a queda das denúncias não demonstra que a internet está mais segura, explica o presidente Thiago Tavares.

O total de denúncias é o quarto maior já registrado pela ONG e, além disso, a complexidade e a gravidade aumentaram. A organização também explica que mais casos têm sido investigados pelas autoridades brasileiras.

Em 2023, por exemplo, a Polícia Federal realizou mais de mil operações de combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes contra 502 em 2022, um aumento de 114%.

O presidente da Safernet detalha que, entre os fatores que contribuíram para a queda nas denúncias, está o uso crescente de aplicativos de criação de nudes com inteligência artificial em escolas, o que demonstra uma falta de controle deste tipo de tecnologia por crianças e adolescentes.

Outro fator seria o aumento da oferta de imagens e exploração sexual infantil em aplicativos de mensagens, principalmente por parte do Telegram. Os conteúdos criminosos costumam ser impulsionados por meio de links divulgados no X (ex-Twitter) e no Instagram e direcionados para os aplicativos de mensagens, o que dificulta as denúncias.

“Há uma mudança no tipo de plataforma que está sendo usada. Os conteúdos estão circulando mais em ambientes fechados, como aplicativos de troca de mensagens, no Telegram ou em fóruns que não têm uma URL específica e clara para aquele conteúdo”, explica Tavares.

O conteúdo também é encontrado em perfis restritos, em que o usuário só consegue visualizar se for membro do grupo ou amigo da pessoa. “Há uma produção constante de novas imagens, mas ela está mais difícil de encontrar na web aberta”, diz ele.

O Telegram soma mais de 90% das denúncias que a organização recebeu. Um levantamento da Safernet demonstra que o número de denúncias de grupos e canais com imagens de abuso e exploração infantil no aplicativo cresceram 78% entre o segundo e primeiro semestre do ano passado.

Segundo o levantamento da ONG, o número de grupos e canais da plataforma denunciados subiu para 1.043, aumento de 19%. Também afirma que cresceu em 76% a quantidade de grupos que permanecem ativos e sem moderação. Ainda detalha o número de usuários encontrados nesses grupos e canais subiu de 1,25 milhão para 1,4 milhão.

Ao todo, no passado, a organização detectou 2,65 milhões de usuários em grupos e canais do Telegram que divulgam imagens de abuso e exploração sexual infantil.

No primeiro semestre, a ONG analisou 874 links de grupos e canais no app que foram denunciados como “pornografia infantil” -deste total, 215 grupos e canais do Telegram permaneciam ativos na plataforma, sem qualquer tipo de moderação, quando a pesquisa foi realizada.

Conhecido como um aplicativo com menos controle de conteúdo, Telegram começou a sinalizar e suspender grupos e canais a partir de 2024, porém, segundo a ONG, as medidas ainda atingem uma pequena quantidade do material criminoso disseminado na plataforma.

Por meio de nota, porém, o Telegram afirma ter uma política de tolerância zero para pornografia ilegal e que utiliza moderação humana, ferramentas de inteligência artificial e aprendizado de máquina para combater crimes e abusos, além de denúncias de usuários e organizações confiáveis

“Todas as mídias enviadas para a plataforma pública do Telegram são comparadas com um banco de dados de hashes [termos-chave] contendo conteúdo CSAM [material de abuso sexual infantil] removido pelos moderadores do Telegram desde o lançamento do aplicativo”, diz a empresa, que afirma que o sistema é fortalecido pelos conjuntos de dados do aplicativo, que garantem a detecção e remoção proativa.

A plataforma ainda diz que só em fevereiro já foram removidos 18.907 canais e grupos por relação com materiais de abuso infantil.

PEDIDOS POR APOIO PSICOLÓGICO CRESCEM

Além do canal de denúncias, a Safernet também possui uma canal de ajuda, o Helpline, em que os usuários recebem orientação sobre crimes e violações dos direitos humanos na internet, de forma anônima e sigilosa.

O canal registrou aumento de procura de ajuda com 1.617 casos ante 1.285 em 2023. No ano passado, os problemas de saúde mental registraram os maiores aumentos -foram 204 atendimentos contra 114 em 2023.

As questões de saúde mental ficaram em terceiro lugar no ranking geral, atrás de exposição de imagens íntimas, com 268 atendimentos, e problemas com dados pessoais, com 246 casos.

No caso da Safernet, os pedidos de ajuda estão relacionados ao uso excessivo de telas, mas também há pessoas que buscam a central para pedir ajuda por ideações suicidas e casos de automutilação.

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