Novo empréstimo consignado privado poderá ser oferecido em aplicativos dos bancos

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ADRIANA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Bancos poderão usar aplicativos e outros canais de atendimento para oferecer diretamente aos correntistas a nova modalidade de empréstimo consignado privado, que deve ser lançada até março pelo governo do presidente Lula (PT).

A permissão será incluída nas regras do modelo de financiamento, de acordo com integrantes do governo que participam da elaboração da proposta. Uma medida provisória deve ser publicada para determinar as regras do serviço.

O plano do governo é começar, até 15 de março, a operação do consignado pelo eSocial. É nesse sistema que as empresas registram as informações trabalhistas e previdenciárias dos seus empregados, como as contribuições previdenciárias, folha de pagamento e informações sobre o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).

A proposta inicial da equipe do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, exigia que o trabalhador fizesse a contratação somente via a plataforma do eSocial.

Os tomadores do empréstimo teriam que buscar a plataforma para escolher a instituição financeira. Nas negociações com o governo, os bancos apontaram o chamado risco de fricção caso a oferta fosse feita apenas pelo eSocial.

A fricção ocorre quando o cliente bancário precisa percorrer várias camadas de acesso para finalizar uma operação. Quanto mais camadas precisa ultrapassar, maior é a fricção. Nesses casos, o risco de desistência da operação no meio do caminho também aumenta.

Cerca de 50 milhões de clientes acessam os aplicativos dos bancos por dia. Com a oferta pelos canais das instituições financeiras, a expectativa é que haja menos fricção na medida que os serviços de relacionamento dos bancos já apresentam um caminho conhecido pelos clientes.

Como antecipou a Folha de S.Paulo na semana passada, o novo modelo não terá teto de juros, uma demanda das instituições financeiras considerada fundamental para que essa modalidade de consignado deslanche. No modelo atual, que exige convênio dos bancos com as empresas, o volume de crédito do setor privado é de R$ 40 bilhões, numa carteira total de empréstimos consignados em torno de R$ 640 bilhões.

Além dos grandes bancos de varejo públicos e privados, as fintechs também se preparam para entrar com força na oferta do produto, uma aposta do presidente Lula para estimular o crédito e evitar um tombo maior da economia com a alta dos juros pelo Banco Central.

A data prevista para início da operação é considerada ambiciosa, mas reforça a orientação do presidente Lula para que a medida saia do papel rapidamente.

As discussões para a criação do novo modelo avançaram após a criação do grupo de trabalho criado pelo presidente, no ano passado, para reduzir o spread bancário e baratear o custo do crédito no Brasil.

A aproximação entre diferentes áreas do governo permitiu aparar arestas que impediam o modelo sair do papel, principalmente diante de resistências do ministro Luiz Marinho, que só queria começar o novo consignado pelo eSocial se houvesse o fim do saque-aniversário do FGTS e da sua antecipação por meio de empréstimos bancários.

Segundo Eduardo Lopes, presidente da Zetta (associação que representa fintechs), os bancos consideram importante uma ampla distribuição dos produtos para aumentar a competição com taxas mais baratas e busca dos clientes.

“Os dados [do eSocial] que vão ser compartilhados são muito importantes para que todas as instituições no mercado tenham acesso ao mesmo nível de informação e consigam competir entre si”, avalia o executivo, que é também diretor de políticas públicas do Nubank.

“Se alguma instituição, por exemplo, tem a folha de pagamento de uma empresa, tem muito mais dados do que as outras, vai ter uma vantagem competitiva, então a nossa ideia é que o governo ofereça os dados necessários para gente conseguir fazer essa precificação”, afirma.

Para Lopes, a mudança no consignado privado é bem-vinda e vai aumentar a competição dos bancos com as plataformas digitais de oferta de crédito. “As plataformas digitais que não iriam fazer esses convênios com as empresas individualmente, agora, terão um estímulo de conectar com a plataforma do governo e a partir dali oferecer o consignado para todos os empregados CLT”, diz. O novo consignado via a plataforma do eSocial acaba a necessidade dos convênios.

O dirigente da Zetta defende a transição para evitar que os bancos que operam o consignado do INSS hoje saiam na frente. “O ideal seria entrar todo mundo junto e começando a oferecer ao mesmo tempo.

Esse é o ponto que a gente acha importante para segurar a competição entre quem tá entrando agora e quem já tá no mercado há algum tempo”, afirma.

Para Fernando Perrelli, CEO da BYX, empresa que promove a infraestrutura tecnológica para operações de crédito consignado, explica que o modelo vai nascer a partir de um ambiente totalmente digital. Pela CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social) digital, o trabalhador poderá obter as informações das taxas que as instituições financeiras estão ofertando.

A partir do momento que ele escolher a instituição financeira, poderá começar a formalizar a sua operação. “Ele pode ir até lá buscar informação de ofertas hoje disponíveis no mercado, mas ideal é o trabalhador poder também contratar a operação no ambiente dos bancos”, diz

Perrelli prevê o crescimento em cinco anos da carteira do consignado privado, dos atuais R$ 40 bilhões para R$ 260 bilhões, se houver um processo fluido de contratação, de inclusão e de recolhimento do valor das parcelas e repasse para as instituições financeiras.

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