No Brasil, Armínio pede que Galípolo convença o governo a cortar gastos

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse ontem ao atual chefe da autarquia, Gabriel Galípolo, que a instituição precisa de ajuda do governo na área fiscal para conseguir controlar a inflação e resumiu o quadro econômico atual dizendo que “a coisa não está bem”.

Galípolo participou de seminário promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG), no Rio Fraga estava na plateia.

“A curva de juros está lá na lua, a perder de vista. As expectativas de inflação, não as de curto prazo, mas as taxas implícitas, em 6%, estão a perder de vista, sugerem um problema. Eu acho que o problema, em última instância, é que o Banco Central precisa de ajuda. E só tem um lugar que pode ajudar, que é o fiscal”, avaliou o economista, que dirigiu o BC entre 1999 e 2002 ( governo de Fernando Henrique Cardoso).

Ele sugeriu ainda que Galípolo, “como uma pessoa de confiança das altas autoridades do País”, pode tentar convencê-las de que “não há mágica”. “Isso que aconteceu até agora foi muito bom: o emprego estar baixo é um sonho, mas agora a festa meio que acabou”, considerou. Para o economista, não há um problema de comunicação no governo ou no BC. “O Banco Central não faz milagres, não é?”

‘Cruzar a linha’

Em sua fala, Galípolo destacou que o BC tem ferramentas para colocar a Selic em “nível restritivo” – o que, na prática, significa juros mais altos por mais tempo. Ele manteve a linha das mensagens do Comitê de Política Monetária (Copom), com a indicação de mais uma alta da taxa básica de juros em 1 ponto porcentual em março.

Galípolo evitou sinalizar uma tendência para as reuniões a partir de maio, mas enfatizou a disponibilidade das ferramentas. “Cabe agora o Banco Central ter a devida parcimônia e serenidade na observação dos dados.” Ao falar especificamente sobre a questão fiscal, Galípolo disse que o “BC não pode cruzar a linha e transcender o quadrado da autoridade monetária”.

Galípolo voltou a enfatizar a necessidade de se avançar no aperfeiçoamento do arcabouço institucional e legal da instituição e disse que um dos grandes desafios para todos os bancos centrais é o da comunicação. “É quase uma arte.”

Estadão Conteúdo.

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