Cidadãos do Rio enfrentam mais um dia de pavor em região dominada por facção criminosa


A Polícia Civil, com apoio da Polícia Militar, foi até o Complexo de Israel depois de receber informações de inteligência de que o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, estaria escondido na região. Cidadãos do Rio de Janeiro enfrentaram mais um dia de pavor em uma região dominada por uma facção criminosa.
“Estou no meio do tiroteio aqui na Linha Vermelha. Está todo mundo deitado no chão.”
Medo, desespero para tentar sobreviver em mais um dia de violência no Rio. Depois do trabalho, Flávia foi surpreendida no ônibus:
“O ônibus estava sendo alvejado. Não tinha carro de polícia, não tinha nada. Eles estavam dando tiro para cima da gente”, conta.
Os confrontos começaram no início da tarde desta quarta-feira (12) e deixaram motoristas encurralados. No meio da rua, pessoas tentavam se proteger do confronto entre policiais e bandidos. Criminosos circulavam com fuzis nas ruas. Eles atravessaram carros na pista, botaram fogo em barricadas e até em uma estação de trem. A Avenida Brasil e a Linha Vermelha, as principais vias expressas do Rio, ficaram fechadas. Trens e ônibus pararam de circular em alguns trechos.
Durante o confronto desta quarta-feira (12), um helicóptero da polícia foi atingido e teve que fazer um pouso forçado. Os policiais não se feriram.
Cidadãos do Rio enfrentam mais um dia de pavor em região dominada por facção criminosa
Jornal Nacional/ Reprodução
Um ônibus, lotado de passageiros, também ficou no meio do fogo cruzado. Dois ônibus foram atingidos, um deles no para-brisa. Os estilhaços ficaram espalhados pelo chão. Dois passageiros, feridos por estilhaços de vidro, foram atendidos em um hospital na Baixada Fluminense. Eles contaram que o ônibus onde estavam foi atingido por muitos disparos e que, no momento de desespero, a única opção era se abaixar e tentar se proteger.
“Foi muito tiro. Aí todo mundo teve que se abaixar, sair rastejando pelo ônibus. E em determinado momento, eu acho que pelos estilhaços do vidro do ônibus, eu acabei me ferindo, saiu muito sangue. Mas foi desesperador”.
A Polícia Civil, com apoio da Polícia Militar, informou que foi até o Complexo de Israel – conjunto de favelas na Zona Norte da cidade – depois de receber informações de inteligência de que o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, estaria escondido na região. Atualmente, ele é um dos criminosos mais procurados do Rio de Janeiro. O Complexo de Israel é controlado pela facção criminosa Terceiro Comando Puro e se transformou numa das áreas mais violentas da cidade. Mais de 100 mil pessoas vivem nas favelas da região, na Zona Norte do Rio.
Complexo de Israel: conjunto de favelas na Zona Norte do Rio
Jornal Nacional/ Reprodução
No começo da noite desta quarta-feira (12), os secretários de Segurança, da Polícia Civil e da Polícia Militar explicaram o motivo da operação e por que fecharam a Avenida Brasil.
“A informação de inteligência dava conta de que haveria uma grande possibilidade de invasão, de tentativa de entrar, de invadir, a comunidade justamente do Quitungo, que era onde a Policia Civil estava operando. Certamente, havia ali lideranças, pessoas da alta hierarquia da facção Terceiro Comando Puro. Por isso , com a aproximação dos policias, houve essa intensa resistência, o que mostra que a informação de inteligência das policias Civil e Militar era a mais precisa possível. E, com isso, como o secretário Vitor falou, evitamos um banho de sangue”, diz Felipe Curi, secretário de Polícia Civil/ RJ.
“As vias não foram fechadas por conta do confronto. As vias foram fechadas por ordem das forças de segurança de uma maneira emergencial, porque a gente sabe que os bandidos atiram na população e a gente precisa proteger as vidas dos trabalhadores que transitam naquelas vias”, afirma o coronel Marcelo Menezes, secretário de Polícia Militar/ RJ.
As cenas de violência se tornaram frequentes. Em outubro de 2024, três homens que estavam em uma via expressa morreram em um dia de intensos confrontos entre a PM e bandidos. Em janeiro de 2025, a vítima foi um tenente-coronel da PM, baleado durante uma operação.
No programa Estúdio i, da GloboNews, o jornalista Octávio Guedes comentou sobre o domínio de territórios por criminosos em várias regiões do Rio.
“O Rio de Janeiro está pagando o preço por ter abandonado o único projeto que tinha uma racionalidade em segurança pública, que era a retomada de territórios pela UPP. Que deu errado por conta de… Primeiro, porque deixou a PM para resolver tudo, tudo era nas costas da PM. E outro erro foi, também, a politização. O MDB, o governo (Sergio) Cabral começou a distribuir indiscriminadamente UPP. E, também, por conta da derrocada do esquema do Sergio Cabral, Picciani, etc., abandonou-se o único projeto que deveria ser aperfeiçoado. Feito um estudo de caso, como tudo na vida, e dizer: ‘Olha, isso aqui tem que continuar de qualquer maneira, sem os problemas que levaram à derrocada’. Porque a retomada tem que ser à força. Tem que ser à força. Mas, uma vez retomado o território, aí a polícia não vira o protagonista dessa ocupação.”
Depois de escapar do tiroteio, o sentimento da Flávia era de alívio, mas também de esgotamento com as cenas de terror que viveu nesta quarta-feira (12):
“Para casa ver meus filhos, só isso que eu quero. Para casa.”
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