Desemprego no Brasil pode aumentar com taxação do aço pelos EUA

A partir do dia 12 de março, o Brasil deverá enfrentar mais um desafio na balança comercial com os Estados Unidos, que têm imposto mudanças drásticas para países estrangeiros, diante do segundo mandato de Donald Trump. O aço e o alumínio, cujos produtos são os mais importados para país estadunidense, terão tarifas alfandegárias de 25%, o que pode afetar não somente a produção do produto e a economia doméstica, mas também a relação comercial entre os países.Atualmente os EUA são o maior comprador de aço brasileiro. Somente em 2024, o país estadunidense importou 5,6 milhões de toneladas de placas do produto, tendo 3,4 milhões de toneladas vindo do Brasil. De acordo com o Instituto Aço Brasil, apenas o Canadá passou do Brasil na venda do produto aos EUA.

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A fim de estreitar ainda mais os laços comerciais e numa tentativa veroz de controlar a imigração ilegal e o tráfico de fentanil, a Casa Branca anunciou que o Canadá e o México, que também se destacam como exportadores de aço ao Estados Unidos, podem sofre um aumento na tarifação. Atualmente, os países já possuem uma taxação de 25% sobre os produtos importados ao país estadunidense.DesempregoPara a professora de Pós Graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política, Daniela Cardoso Pinto, a taxação vai mexer diretamente na produção da indústria nacional. Com a redução nas vendas ao exterior, vai atingir a camada trabalhadora, ocasionando no aumento do desemprego.“À medida que os produtores de aço diminuam suas exportações e considerando que o crescimento do PIB brasileiro é baixo não chegando a 5%, mesmo reduzindo o preço domesticamente, isso acarretará em diminuição das vendas. Não conseguindo substituir o mercado americano por outro ou não sendo revista essa tarifa pelos americanos, certamente isso atingirá a economia real brasileira com aumento do desemprego”, explicou a especialista.Além do efeito diretamente na cadeia produtiva, a medida pode ocasionar na queda do preço doméstico do produto, devido ao excesso de oferta de aço internamente.“Em um primeiro momento há a possibilidade do aço internamente e setores correlatos ficarem mais baratos, pois a indústria local tentará ganhar em escala. Todavia, tão logo alavanquemos novos compradores e atinjamos o novo ponto de equilíbrio, o preço voltará a aumentar e ficar como se encontra hoje”, continua ela.Mais agressivaDurante o primeiro mandato de Trump, a importação do aço também ia sofrer com taxação: Em março de 2018, foi colocada uma tarifa de 25% para aço e de 10% no alumínio, mas a medida não atingiu o México nem o Canadá, e foram dadas alternativas de negociação a alguns países. O Brasil conseguiu entrar em uma lista de exceção e negociou cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e 687 mil toneladas de laminados.Instituições do setor acreditam que os Estados Unidos tiveram superávit comercial graças às medidas de exportação fruto da relação comercial existente com o Brasil. Nos últimos cinco anos, o país estadunidense conseguiu atingir um superávit de US$ 6 bilhões. Portanto, a medida de taxação não trará benefício aos parceiros.“O Instituto Aço Brasil e empresas associadas estão confiantes na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os Estados Unidos nas bases acordadas em 2018, em razão da parceria ao longo de muitos anos e por entender que a taxação de 25% sobre os produtos de aço brasileiros não será benéfica para ambas as partes”, disse o instituto.Além do setor, especialistas acreditam que a medida de Trump seja uma tentativa protecionista de favorecer o mercado de aço dos Estados Unidos ao encarecer o produto comprado no exterior, mas que isso seja apenas uma pressão comercial porque a taxação vai afetar principalmente os Estados Unidos.“Com a medida protecionista é o próprio EUA que sofrerá com um aumento de custo imediato e consequente inflação”, continua Daniela Cardoso.Resposta do BrasilO governo brasileiro aguarda a decisão dos Estados Unidos de oficializar ou não a taxação sobre as importações de aço e alumínio para se manifestar sobre o tema, informou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia usar a lei da reciprocidade, que aumenta as taxas de produtos estadunidenses consumidos pelo Brasil.A professora avalia que no comércio internacional, a lei da reciprocidade é a mais usual, mas é que a argumentação sobre os malefícios da medida para os Estados Unidos seja suficiente para que o comprador volte atrás.“O governo brasileiro acredita que essas medidas implantadas pelo governo Trump sejam apenas pressões comerciais para negociar preços”, finalizou ela.

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