“Tem sido um desafio”, diz gerente da Cimehgo sobre mudanças climáticas dificultarem a previsão do tempo em Goiás

As mudanças climáticas têm colocado desafios inéditos para a meteorologia, tornando a previsão do tempo cada vez mais complexa. Em 2024, o planeta registrou seu ano mais quente da história, com temperaturas 1,6°C acima dos níveis pré-industriais. Chuvas acima da média, ondas de calor e secas prolongadas têm desafiado não apenas a população, mas também os especialistas em meteorologia. Em Goiás, onde os efeitos das mudanças climáticas são cada vez mais evidentes, o Centro de Informações Hidrológicas, Meteorológicas e Geológicas (Cimehgo) tem se adaptado a um cenário em constante transformação. 

O Jornal Opção conversou com André Amorim, gerente do Cimehgo, para entender como essas alterações impactam a previsão climática no estado. Segundo ele, a atual situação tem sido um “desafio”. “Eu não vou falar que é uma dificuldade, é mais um desafio. Estamos tendo que moldar mais as situações para conseguir lidar com isso”, afirmou.  Ele explica que as mudanças têm ocorrido de forma tão rápida que é necessário aprimorar a forma de monitoramento e adiantar informações para a população. “A previsão de curto prazo está se mostrando mais confiável que a de longo prazo, pois o clima tem mudado rapidamente de semana para semana”, destaca.

“O fluxo muito rápido de mudanças têm exigido mais na nossa atividade. Precisamos melhorar a percepção do que está acontecendo”, explicou. Para ele, a adaptação das previsões meteorológicas é fundamental, já que o cenário climático tem apresentado variações semanais cada vez mais imprevisíveis. Como exemplo, ele mencionou que em um curto intervalo de tempo, Goiás pode registrar chuvas intensas e, logo em seguida, enfrentar uma onda de calor de até 34°C.

O gerente da Cimehgo explica ainda que estão investindo em novas estratégias para acompanhar essas transformações. “Estamos reforçando nossa rede de monitoramento com mais equipamentos e atualizando nossas modelagens climáticas para gerar previsões mais precisas. O governo tem nos dado suporte para que possamos evoluir e enfrentar esses desafios”, diz Amorim.

Mudanças frequentes e eventos extremos

Além das dificuldades nas previsões, a variabilidade climática tem impactado diretamente a vida das pessoas, principalmente em setores como a agricultura e a infraestrutura urbana. Amorim ressaltou que os eventos se tornaram mais frequentes, exigindo novas abordagens para minimizar os prejuízos. “O excesso de chuva, o excesso de seca, as queimadas, a poeira e a poluição atmosférica são consequências diretas dessas mudanças”, disse Amorim. Ele ressaltou que, durante o período chuvoso, problemas como alagamentos, transbordamentos de rios e destruição de estradas são comuns. Já na seca, o déficit hídrico e as queimadas dominam o cenário.

“Estamos observando que esses fenômenos estão ficando mais recorrentes”, alertou. “Um grau a mais na temperatura global pode parecer pouco, mas, proporcionalmente, é como se o planeta estivesse com febre. As reações adversas podem gerar catástrofes em vários cantos do mundo, como ondas de calor mais intensas, tempestades mais fortes e alterações na circulação atmosférica”.

Monitoramento e investimentos 

Para enfrentar esses desafios, o Cimehgo tem investido na ampliação da rede de monitoramento climático. André Amorim conta que em 2024, a empresa ampliou sua rede de pluviômetros, instrumentos que medem a quantidade de chuva. Foram instalados 100 aparelhos em 88 municípios, com destaque para as regiões norte e nordeste do estado, historicamente carentes de informações meteorológicas detalhadas. “Essa rede nos permite monitorar a precipitação a cada 10 minutos, o que melhora nossa capacidade de resposta”, explicou.

Em Goiânia, por exemplo, 10 pluviômetros foram instalados, enquanto em Anápolis, dois equipamentos estão em operação — um no Distrito Agroindustrial (DAIA) e outro no centro da cidade. “Esses dados são essenciais para emitir alertas precisos e tomar decisões rápidas”, disse Amorim.

Além disso, o estado de Goiás tem investido na prevenção de desastres naturais. O governo implementou o programa “Goiás Solidário”, que visa atender comunidades vulneráveis em épocas de chuvas intensas e secas prolongadas. “Antes de eventos climáticos severos, encaminhamos alimentos, água potável e insumos para regiões isoladas, como ocorreu recentemente em Cavalcante”, exemplifica.

A previsão do tempo tem se tornado uma ferramenta essencial para diversos setores da sociedade. “Estamos trabalhando junto à Defesa Civil, ao Corpo de Bombeiros e às secretarias de saúde e agricultura para garantir que as informações climáticas sejam utilizadas de forma estratégica. Isso permite planejar desde o combate a incêndios até a colheita de safras”, pontua o meteorologista.

O Cimehgo também colabora com agências reguladoras, como a Agência Goiana de Regulação (AGR), fornecendo dados que ajudam na tomada de decisões. “Seja para cobrar ações de empresas de energia ou para planejar o abastecimento de água, nossa contribuição é essencial”, afirmou.

Parcerias e a tecnologia na previsão climática

De acordo com o gerente da Cimehgo, a cooperação com a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) tem permitido um monitoramento mais eficiente das crises hídricas e do comportamento climático. “Nós temos parceria com a Agência Nacional de Águas, no governo federal, que trabalha mais diretamente na prevenção de crise hídrica, monitoramento e outras ações ligadas à questão da água”, explicou. Ele também destacou a atuação conjunta com o Inmet, que fornece previsões climáticas em escala nacional, enquanto o Cimehgo trabalha de forma mais regionalizada para atender às necessidades específicas do estado. “O Inmet olha de maneira mais macro, já o nosso objetivo aqui em Goiás é olhar de forma mais micro, focando nas condições do nosso território”, completou.

Além disso, o trabalho em rede permite que alertas sobre eventos climáticos sejam emitidos com antecedência, evitando tragédias. Amorim exemplificou um caso recente na cidade de Goiás, onde um alerta foi disparado após uma chuva intensa na cabeceira de um rio. “Hoje, por exemplo, teve uma chuva na cidade de Goiás, que nós montamos uma rede de alerta lá de 50 milímetros a montante. Já passamos o alerta pela manhã para a Defesa Civil e para o Corpo de Bombeiros, para que pudessem se preparar para uma possível cheia”, detalhou. Segundo ele, essa antecipação é crucial para minimizar danos e salvar vidas. “Você não sabe o quanto uma boa conversa faz diferença na vida das pessoas. Às vezes, um simples aviso pode evitar um desastre”, afirmou.

A rápida mudança do clima, especialmente em Goiás, onde predominam chuvas convectivas – aquelas que se formam de maneira súbita devido ao calor –, representa um desafio para as previsões meteorológicas. Amorim ressaltou que, diferentemente das frentes frias que avançam pelo Sul do país e permitem previsões mais precisas, as tempestades típicas do estado são mais imprevisíveis. “A pessoa olha para o céu azul pela manhã e não imagina que, em poucas horas, uma tempestade pode se formar. Mas nós sabemos que essas variações acontecem e trabalhamos para antecipá-las”, disse. Ele também destacou que a tecnologia tem sido uma aliada nesse processo, permitindo a instalação de novos equipamentos, como pluviômetros automáticos, que monitoram as chuvas em tempo real. “Esses equipamentos são essenciais para fornecer dados precisos e ajudar na tomada de decisões”, pontuou.

A evolução tecnológica também tem sido um aliado para a previsão do tempo. “Trabalhamos com modelagens numéricas avançadas, que nos permitem enxergar padrões climáticos com até seis meses de antecedência. Embora os cenários possam mudar, isso nos dá uma base para tomar decisões e emitir alertas preventivos”, explica Amorim.

Os avanços também incluem a integração de informações meteorológicas com dados de satélites e sensores remotos. “Com o uso dessas tecnologias, conseguimos reduzir o tempo de resposta a fenômenos climáticos. Hoje, conseguimos emitir alertas de tempestades e ondas de calor com pelo menos 24 horas de antecedência, o que permite que medidas preventivas sejam tomadas”, destaca.

A necessidade de conscientização e participação popular

Apesar de todos os avanços na previsão climática, André Amorim ressalta que a conscientização da população é fundamental. “Não adianta termos os melhores equipamentos se as pessoas não tomarem medidas preventivas. É essencial evitar jogar lixo nas ruas, respeitar os alertas de tempestades e compreender que as mudanças climáticas estão impactando nossa rotina”, enfatiza.

“A mudança de cultura é gradual, mas já percebemos avanços. Os produtores rurais, por exemplo, estão mais atentos aos nossos boletins e alertas”, afirmou. 

André Amorim concluiu destacando que novos investimentos estão previstos para o Cimehgo em 2025, embora ainda não possa revelar detalhes sobre as iniciativas que serão implementadas. “Tem boas novidades vindo pela frente”, afirmou. Segundo ele, os projetos visam aprimorar ainda mais o monitoramento meteorológico no estado, permitindo respostas mais ágeis às mudanças climáticas.

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