‘Maníaco do Corcel’: soldador acusado de assassinatos, estupros e de enterrar mulher viva é condenado a 337 anos de prisão


José Antônio Miranda da Silva, atualmente com 51 anos, foi preso no bairro Ouro Verde, em São José do Rio Preto (SP), em 2020. Ele foi denunciado por 21 crimes: dois homicídios consumados, sete tentativas de homicídio, cinco roubos e sete estupros. José Antônio Miranda da Silva, atualmente com 51 anos, é conhecido como ‘Maníaco do Corcel’ em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
O soldador conhecido como “Maníaco do Corcel”, acusado de cometer assassinatos violentos, estupros em série contra pelo menos 17 mulheres, e de enterrar uma delas viva, foi condenado a 337 anos e quatro meses de prisão de prisão em regime fechado, durante o julgamento que ocorreu nesta quinta-feira (13), em São José do Rio Preto (SP).
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José Antônio Miranda da Silva, atualmente com 51 anos, foi preso no bairro Ouro Verde, onde morava com a família, no dia 19 de junho de 2020. Ele está preso na cadeia de Lucélia (SP) e participou do júri popular por meio de videoconferência. O réu foi condenado por 21 crimes (entenda abaixo). Cabe recurso da decisão.
‘Maníaco do Corcel’ acusado de assassinatos e estupros em série é julgado em Rio Preto
Em entrevista à TV TEM, o advogado de defesa do acusado, Emerson Bertolini, disse que, se as provas foram contundentes, pretende apresentar recurso em instâncias superiores. Em relação aos crimes que não tiverem provas, o advogado disse que vai pedir a absolvição do acusado.
“Eu perguntei se ele cometeu esses crimes. Ele falou ‘Dr. não me recordo, eu tomo remédios’ e confessou que era usuário de drogas. Para mim, ele não confessou [os crimes]. No reconhecimento foram colocadas pessoas brancas ao lado dele, por isso, a polícia deveria ter investigado outros acusados parecidos com o perfil dele”, diz o advogado.
Na audiência foram ouvidos três testemunhas: delegado, policial militar e a ex-mulher do acusado. Sobre as vítimas, algumas não foram localizadas para comparecer e outras não foram chamadas para preservar a saúde mental delas, segundo a juíza responsável pelo júri.
‘Maníaco do Corcel’: soldador é acusado de assassinatos violentos e estupros em série em Rio Preto (SP) e região.
Arte/g1
De acordo com o Ministério Público (MP), José Antônio foi denunciado por dois homicídios consumados, sete tentativas de homicídio, cinco roubos e sete estupros. A data do júri, inclusive, foi adiada duas vezes, pois o advogado de defesa do acusado alegou insanidade mental, o que foi analisado e descartado pela Justiça.
Corpos de Sebastiana de Fátima Souza e Adriana Melo Viana Narte foram encontrados na zona rural de Rio Preto (SP) em 2019
Arquivo pessoal
Os corpos de Sebastiana de Fátima Souza, de 55 anos, e Adriana Melo Viana Narte, de 29, foram encontrados na zona rural de Rio Preto em 2019 (entenda abaixo).
O promotor José Márcio Rossetto Leite, responsável pela denúncia à época, disse, em entrevista à TV TEM, que espera que o soldador seja condenado a 200 anos de prisão. Ele foi a júri por cometer os 21 crimes contra nove mulheres, entre 2018 e 2020.
Cinto usado pelo criminoso para enforcar uma das vítimas em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
Conforme o promotor, em 20 anos de atuação, ele nunca trabalhou em um processo tão violento e se surpreendeu com as provas apresentadas no processo.
“A crueldade dele, a frieza, uma maldade excessiva, desprezo pelas vítimas. São crimes que chocam. Uma pessoa extremamente perigosa. Talvez a defesa alegue que ele não sabia o que estava fazendo ou tente afastar algum dos crimes”, comenta o promotor.
Delegado responsável pela conclusão do inquérito policial, Wander Luciano Solgon, em Rio Preto (SP)
Reprodução/TV TEM
À TV TEM, o delegado responsável pela conclusão do inquérito policial, Wander Luciano Solgon, explicou que José Antônio escolhia mulheres que apresentavam vulnerabilidade social, entre elas garotas de programa, usuárias de drogas e que não tinham suporte familiar.
“Chegamos à conclusão de que esta preferência se dava em virtude de que mulheres com este perfil geralmente não convivem mais com a família, razão pela qual os desaparecimentos não são notados”, diz o relatório final da polícia.
Corda usada pelo criminoso para tentar enforcar uma das vítimas em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
No interrogatório, José Antônio confessou à polícia que matou Adriana após ter brigado com ela durante um desentendimento por uso de drogas. Com relação às outras vítimas, o delegado lembra que, à época, o criminoso negou os crimes.
O homem já passou por júri popular em outubro de 2022 pelos delitos contra outras mulheres em Monte Aprazível (SP), onde também foi acusado de matar e estuprar as vítimas. Na ocasião, ele foi condenado a 35 anos de prisão por homicídio, estupro e ocultação de cadáver.
Homem acusado de assassinatos violentos vai a júri popular em Rio Preto
Violentadas, estupradas e roubadas
Réu é acusado de matar duas mulheres e violentar ao menos nove em Rio Preto (SP)
Reprodução / TV TEM
No fim da década de 1990, o soldador foi condenado e cumpriu pena de 20 anos, entre 1997 e 2017, por três estupros e três assassinatos, crimes idênticos aos cometidos a partir de 2018 no noroeste de São Paulo, um ano após conseguir a liberdade, bem como com o mesmo histórico e argumentos utilizados por ele para atrair as vítimas.
José Antônio Miranda da Silva vai a júri popular em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
Quando foi preso e condenado pela primeira vez, o criminoso usava um carro Ford Corcel para praticar os crimes – fato que deu a ele o apelido de “Maníaco do Corcel”, pelo qual ficou conhecido (entenda abaixo).
Homem oferecia carona às mulheres com o carro Chevrolet Corsa antes de cometer os crimes em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
A partir de 2018, atuando da mesma forma, ele ganhava a atenção e confiança das vítimas, oferecia carona com um carro Chevrolet Corsa a mulheres sozinhas e, depois, as levava para propriedades rurais, onde elas eram violentadas, estupradas e roubadas. Mesmo com elas desacordadas, o criminoso continuava com os atos de abuso sexual.
“Foi um caso extremamente atípico para São José do Rio Preto, é algo que a gente só ouve em literaturas externas, nos Estados Unidos, parece filme. Chama a atenção”, diz o delegado à TV TEM.
José Antônio carregava galão de combustível no porta-malas do carro em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
Ao entrarem no carro, as mulheres não tinham ideia de que seriam obrigadas a ter relação sexual e acabariam esganadas, enforcadas com cintos e cordas, amarradas e agredidas com tapas, socos e cortadas com faca.
Em várias ocasiões, o criminoso ainda tentou colocar fogo nos corpos das vítimas. Inclusive, a investigação apontou que José Antônio carregava um galão de combustível no porta-malas do carro.
As que sobreviveram, conforme o promotor, saíam nuas, andavam por horas em estradas em locais ermos, desnorteadas, até serem localizadas. Para conseguirem escapar, algumas mulheres se fingiram de mortas. Outras precisaram ser internadas em hospitais e fazer tratamento psiquiátrico.
Mapa mostra locais envolvidos nos crimes em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
Crimes
Entre a noite do dia 13 e a madrugada do dia 14 de janeiro de 2019, José Antônio matou a garota de programa Sebastiana de Fátima. Na noite do crime, acompanhado de um homem não identificado, ele levou a mulher até um motel.
De lá, Sebastiana e José Antônio foram para um local ermo, na zona rural de Rio Preto, próximo ao distrito de Talhados, lugar onde, inclusive, já foram encontradas outras vítimas sobreviventes.
Imagens do circuito de segurança mostram o momento em que o carro de José Antônio sai do motel em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
O criminoso, então, agrediu a vítima e colocou fogo no corpo dela. O laudo necroscópico apontou que Sebastiana morreu por traumatismo craniano. Imagens do circuito de segurança mostram o momento em que o carro de José Antônio sai do motel.
Em março de 2019, dois meses depois, uma auxiliar de cozinha, que tinha 27 anos na época, foi abordada pelo criminoso no semáforo, enquanto pedia dinheiro, e foi levada até uma plantação de cana-de-açúcar, onde foi estuprada.
Local onde ‘Maníaco do Corcel’ tentou queimar outra vítima em Rio Preto (SP)
Arquivo pessoal
Depois, ela andou até um cemitério no distrito de Talhado, onde deitou em um buraco e foi encontrada por um coveiro.
Seis meses depois, Adriana foi convidada, no dia 30 de setembro de 2019, por José Antônio para usar drogas em um pasto na Vila Toninho. A vítima foi agredida na cabeça e no peito até a morte. O corpo foi encontrado somente no dia 30 de outubro, um mês depois, em estado avançado de decomposição.
A ossada dela foi reconhecida por meio do exame de DNA com referência do material genético colhido do filho mais novo. O laudo necroscópico apontou que a mulher morreu por politraumatismos. O MP, no entanto, não descarta que Adriana tenha sido estuprada antes de morrer.
Local onde vítima foi enterrada viva em Rio Preto
Arquivo pessoal
Enterrada viva
À época com 22 anos, uma das vítimas de José Antônio foi abordada por ele. O criminoso pediu informações e a atacou quando estava de costas.
Ela foi levada para um canavial, onde foi agredida, estuprada e enterrada viva em Uchoa (SP), em março de 2020. Para tentar enforcá-la, José usou uma coleira de cachorro.
Para sair da cova cavada por ele, a mulher usou as mãos. Depois, caminhou desorientada, nua e suja de terra, até encontrar um casal de idosos, que acionou a Polícia Militar. Ela foi socorrida e levada para o Hospital de Base (HB) em Rio Preto.
Mentiu sobre filho
Vítima relatou dia em que foi abordada e estuprada por suspeito
Reprodução/TV TEM
Em 14 de janeiro de 2020, uma mulher e uma amiga foram abordadas pelo criminoso na Avenida Danilo Galeazzi, depois de saírem de uma loja de conserto de celulares. José mentiu que o filho dela estava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Jaguaré e conseguiu fazer com que a mulher entrasse em seu veículo.
Segundo a vítima, assim que entrou no carro, ele falou que era um sequestro. Então, o homem a agrediu e a ameaçou de morte. A mulher também se recorda que pediu para o criminoso não a matar e que tentou pular do carro em movimento enquanto era agredida com tapas no rosto.
José amarrou a mulher com o cinto de segurança e se deslocou para Monte Aprazível, no meio de um canavial. Enquanto era estuprada e agredida, ela conseguiu usar uma chave de roda, encontrada embaixo de um dos bancos do carro utilizado pelo criminoso.
De lá, a mulher correu e, ao chegar à rodovia, pediu socorro para homens que trabalhavam e foi levada de volta a Rio Preto, onde parou em um estabelecimento e chamou um mototáxi. Em seguida, foi até a casa de uma tia, que acionou a Polícia Militar.
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