Crime organizado lucra mais com combustíveis do que com o mercado de bebidas

O crime organizado no Brasil movimenta cifras bilionárias anualmente, e um estudo recente revela que setores antes considerados periféricos para as facções criminosas agora se tornaram os principais motores de receita do crime. De acordo com o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a receita anual estimada do crime organizado nos mercados de combustíveis, bebidas, cigarros e ouro atingiu aproximadamente R$ 146,8 bilhões.A novidade é que os combustíveis e lubrificantes se destacam como a principal fonte de renda do crime, com um total estimado de R$ 61,5 bilhões, representando 41,8% dessa receita, superando mercados tradicionalmente dominados pelo crime, como bebidas e cigarros. Em seguida, vêm as bebidas, com R$ 56,9 bilhões, equivalentes a 38,8% da arrecadação criminosa. O setor de extração e produção de ouro responde por 12,4% desse total, com R$ 18,2 bilhões, enquanto o comércio ilegal de cigarros e tabaco representa 7%, movimentando R$ 10,3 bilhões.

Crimes virtuais e furtos de celulares geraram uma receita ainda maior, de R$ 186 bilhões para o crime.

|  Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Diante desse cenário, tramita no Senado o Projeto de Lei 197/2025, de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que visa ampliar o controle sobre o setor de combustíveis. A proposta torna obrigatória a digitalização e o envio em tempo real à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) dos dados relativos à comercialização, movimentação e estocagem de combustíveis.O projeto foi sugerido ao senador pela Confederação Brasileira de Trabalhadores Policiais Civis (Cobrapol), devido à crescente preocupação com a influência do crime organizado nos postos de combustíveis. De acordo com Alessandro Vieira, estima-se que, no estado de São Paulo, cerca de 1,1 mil postos estejam sob o controle da organização criminosa PCC.No entanto, um dado ainda mais alarmante aponta que os crimes virtuais e furtos de celulares já superaram em arrecadação os mercados tradicionais do crime. A partir de 2022, a receita estimada anual do crime organizado nos mercados de combustíveis, bebidas, cigarros e ouro foi de aproximadamente R$ 146,8 bilhões, enquanto crimes virtuais e furtos de celulares geraram uma receita ainda maior, de R$ 186 bilhões para o crime.

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O impacto dos mercados ilegaisOuro: Entre 2015 e 2020, cerca de 38% da produção nacional de ouro apresentou indícios de ilegalidade, movimentando aproximadamente R$ 40 bilhões. Os “narcogarimpos” conectam os garimpos ilegais ao tráfico de drogas e armas, utilizando insumos como mercúrio e combustível. Para combater essa ilegalidade, iniciativas como o programa Ouro Alvo da Polícia Federal são essenciais.Combustíveis: O mercado clandestino de combustíveis gera perdas fiscais de até R$ 23 bilhões anuais. Em 2022, 13 bilhões de litros foram comercializados ilegalmente, o suficiente para abastecer a frota brasileira por três semanas. Apesar de avanços como a monofasia tributária, a falta de um sistema nacional de rastreamento dificulta o combate a fraudes como contrabando, sonegação e lavagem de dinheiro.Cigarros: O crime organizado controla 40% do mercado de cigarros no Brasil, causando um prejuízo fiscal de R$ 94,4 bilhões em 11 anos. Facções como o PCC e milícias dominam a distribuição territorial dos produtos ilegais, fragilizando a arrecadação e fortalecendo o crime.Bebidas: O desligamento do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (SICOBE) gerou um apagão de dados sobre o mercado ilegal de bebidas, resultando em perdas tributárias de R$ 72 bilhões em 2022. O volume de apreensões entre 2019 e 2023 equivale ao consumo do Carnaval do Rio de Janeiro.Com a crescente digitalização dos crimes patrimoniais e a exploração de setores regulados como combustíveis e cigarros pelo crime organizado, especialistas alertam para a necessidade de medidas mais rigorosas de fiscalização e combate às atividades ilegais. O desafio das autoridades é impedir que facções criminosas continuem expandindo suas fontes de receita e influência sobre a economia formal.

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