Diretor de ‘Setembro 5’ explica set ‘claustrofóbico’: “Queria essa sensação”

Em 5 de setembro de 1972, as Olimpíadas de Munique foram abruptamente interrompidas por uma tragédia que mudaria o curso da história. Na ocasião, o grupo terrorista Setembro Negro fez nove atletas israelenses reféns na Vila Olímpica, e o mundo acompanhou em tempo real, por meio de transmissões ao vivo, os momentos de angústia e violência.‘Setembro 5’, de Tim Fehlbaum, transporta o público para a sala de controle da ABC Sports durante o caso, quando repórteres esportivos viraram, sem querer, protagonistas de uma das coberturas jornalísticas mais dramáticas da história. O filme, que estreou nos cinemas brasileiros no dia 30 de janeiro, é uma reflexão sobre o papel da mídia em tempos de crise.

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Embora a história do ataque já tenha sido retratada em ‘Munique’ (2005), dirigido por Steven Spielberg e indicado a cinco Oscars, Setembro 5 optou por se distanciar das causas e consequências políticas do massacre. Em vez disso, ele foca na perspectiva da equipe de jornalistas e explora os dilemas éticos e humanos enfrentados pelos profissionais. A trama foi indicada ao Critics Choice Awards e ao Oscar de Melhor Roteiro Original, além de ter recebido uma indicação ao Globo de Ouro como Melhor Filme de Drama.Em entrevista exclusiva ao CIneinsite A TARDE, o diretor suíço Tim Fehlbaum destacou os desafios de contar uma história que se passa em grande parte em um único ambiente, o estúdio de TV, e falou sobre o que o motivou a dirigir um longa baseado nesse episódio.”Fiquei imediatamente intrigado por essa história por dois motivos. O primeiro, do ponto de vista de um cineasta, achei que seria interessante enfrentar o desafio de contar uma história que se passa, em grande parte, em uma única sala – no estúdio –, onde os monitores de TV são a única janela para o mundo exterior, a única conexão com o que realmente está acontecendo no mundo”, explicou. De acordo com o cineasta, o segundo motivo foi a conexão pessoal que ele sentiu sendo um profissional da mídia: “Me senti ainda mais conectado para contar algo sobre o papel da imprensa naquele dia, durante o trágico evento.”

O diretor ressaltou que a intenção era levantar questões éticas sem oferecer respostas definitivas

|  Foto: Divulgação

O filme retrata os quebra-cabeças éticos enfrentados por jornalistas esportivos que se viram, sem preparação prévia, obrigados a lidar com uma crise global. “O interessante sobre o caso de Munique em 72 é que, talvez, em comparação com um drama clássico de jornalismo, esses não eram jornalistas experientes e treinados para noticiar um assunto como esse – na verdade, eram repórteres esportivos”, explicou Fehlbaum. “Eles tinham uma visão quase ingênua do que estava acontecendo e, de repente, essas pessoas, acostumadas a cobrir eventos esportivos, foram confrontadas com questões como ‘podemos mostrar violência na TV?’”, completou.O diretor fez questão de ressaltar que, ao construir o filme, a intenção era levantar questões sem oferecer respostas definitivas. “Tentamos fazer o filme levantando essas questões, mas não queremos dar respostas definitivas, porque acredito que, para muitas delas, não há respostas claras”, afirmou.Set claustrofóbicoPara retratar com precisão a tensão e o caos do evento, Fehlbaum optou por criar uma atmosfera claustrofóbica no estúdio onde os jornalistas estavam trabalhando. “Eu queria que o estúdio fosse o mais claustrofóbico possível, porque vimos as plantas originais e era realmente apertado. Então, o que não queríamos era ter paredes móveis; normalmente, nesses cenários, você tem paredes móveis para posicionar a câmera de forma mais confortável. E eu não queria isso, eu queria o oposto, queria essa sensação de claustrofobia”, revelou.O longa foi filmado com uma abordagem quase documental, o que permitiu uma maior imersão no ambiente de crise. “A ideia que o diretor de fotografia, Markus Förderer, e eu discutimos foi a de filmar como se nós mesmos fôssemos uma equipe de documentário ou de transmissão naquela sala, observando aquelas pessoas, observando os monitores”, explicou Fehlbaum.Para expressar os momentos de tensão, o elenco de ‘Setembro 5’ foi composto por personagens que representam diferentes aspectos da cobertura jornalística e do impacto do evento. “Primeiramente, temos Geoffrey Mason, personagem interpretado por John Magaro, e o baseamos no verdadeiro Geoffrey Mason. Ele foi nossa principal fonte, pois era uma testemunha ocular com quem pudemos conversar”, contou Fehlbaum. O mentor de Mason, Marvin Bader, é interpretado por Ben Chaplin. Para o diretor, Bader é “o coração e alma do grupo”, além de ser uma “bússola moral” durante a crise.Outro personagem importante é Roone Arledge, vivido por Peter Sarsgaard, chefe da equipe da ABC Sports. “Ele percebeu desde cedo que essa transmissão poderia mudar suas carreiras para sempre”, disse Tim.A tradutora Marianne Gebhardt, interpretada por Leonie Benesch, também tem um papel central, pois, de acordo com o diretor, em um filme que trata muito sobre comunicação, inclusive entre nações, o papel de uma tradutora é essencial. “Ela representa a nova Alemanha daquela época, a nova geração que tentou se libertar do que a geração anterior fez”, destacou Fehlbaum.

Leonie Benesch como Marianne Gebhardt

|  Foto: Divulgação

Embora o ataque tenha ocorrido há mais de 50 anos, para o diretor, o filme mantém uma relevância atual. “O filme ainda é muito relevante hoje, porque, embora a tecnologia tenha mudado, as questões morais permanecem as mesmas”, comentou. Ele também enfatizou a importância de entender como as coisas aconteciam antes do avanço da tecnologia: “Embora hoje todos tenham uma câmera e uma TV no bolso, é interessante dar um passo atrás e olhar para como isso foi coberto pela primeira vez na televisão ao vivo”, concluiu Fehlbaum.Confira o trailer

Para conferir mais detalhes sobre os filmes em cartaz, horários e salas em Salvador, acesse o Cineinsite A TARDE e programe sua próxima ida ao cinema!*Sob supervisão de Bianca Carneiro

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