Trump fala em ‘possível’ acordo comercial com a China e dólar cai para R$ 5,70; Bolsa tem leve alta

VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Diante de um possível acordo comercial entre os Estados Unidos e a China, o dólar fechou a sessão desta quinta-feira (20) com queda de 0,37%, cotado a R$ 5,704. A moeda americana ficou em baixa durante todo o pregão. Na mínima do dia, chegou a valer R$ 5,685, e na máxima, R$ 5,716.

Os mercados pelo mundo reagiram à fala do presidente dos EUA Donald Trump de que é “possível” chegar a um acordo comercial com a China, alvo chave de sua política tarifária, à qual já impôs tarifas adicionais de 10% sobre todos os produtos. Novas ameaças de Trump também seguiram no radar dos investidores.

Da última vez que o presidente mencionou um acordo desse tipo com Pequim, os mercados financeiros reagiram imediatamente e o dólar caiu para o seu nível mais baixo em um mês na comparação com uma cesta de moedas de outros países.

Já a Bolsa encerrou com uma alta leve de 0,22%, aos 127.600 pontos. As ações da Vale eram o destaque positivo, enquanto as ações do Banco do Brasil e da Gerdau puxavam o índice para baixo após resultados e perspectivas para 2025 ocupando as atenções. Na quarta-feira (19), fechou com queda de 0,95%, aos 127.308 pontos.

Após fechar com forte alta de 0,65%, cotada a R$ 5,725, na quarta, o dólar caiu ante o real nesta sessão seguindo um recuo generalizado da moeda norte-americana no exterior.

Por aqui, o dólar ainda tem passado por outro processo de correção, após sua disparada no fim do ano passado, quando atingiu o patamar de R$ 6,267.

O índice DXY, que mede o desempenho da divisa dos EUA frente a uma cesta de moedas estrangeiras, caía 0,77% ao fim do pregão.

A moeda americana também recuava frente a cesta das principais moedas globais, além das cestas de moedas de mercados emergentes e de países da América Latina.

Os agentes financeiros mudaram a percepção sobre o novo governo dos EUA, que completa um mês nesta quinta. Antes, predominava a visão de que as medidas prometidas por Trump seriam inflacionárias para os EUA.

Agora, os mercados avaliam que as ameaças são mais uma tática política de negociação do que um plano concreto, o que provoca fortes perdas para o dólar neste início do ano.

Em outras palavras, o “tarifaço” de Trump trazia a ameaça de um grande potencial inflacionário, prometendo encarecer o custo de vida para os americanos e pressionando o Fed a manter as taxas de juros mais altas por lá.

Mas a partir do momento que os mercados passam a avaliar as ameaças como bravatas para pressionar acordos, esse processo não se consolida, o que tende a tornar o dólar mais barato por aqui.

“Falar sobre tarifas não é o mesmo que implementá-las, e acho que vimos muita conversa no último mês e pouca coisa sobre a implementação”, disse Charlie Ripley, estrategista sênior de investimentos da Allianz Investment Management.

Fato mais recente que corrobora com a perspectiva de uma postura mais branda adotada por Trump se deu nesta quarta-feira. O presidente sugeriu que é “possível” chegar a um acordo comercial com a China -único país que sofreu o início das imposições tarifárias até agora. Outras medidas foram adiadas ou estão distantes para entrarem em vigor.

A bordo do avião presidencial junto com jornalistas, Trump relembrou que em 2020, os EUA haviam alcançado “um grande acordo comercial com a China”.

Entre Washington e Pequim “há um pouco de competição, mas a relação que tenho com o líder Xi [Jinping] é, eu diria, excelente”, disse.

Alguns de seus conselheiros e ex-conselheiros dizem que Trump busca um pacto abrangente com Xi, que iria além de apenas reformular a relação comercial entre os dois países.

O acordo incluiria investimentos substanciais e compromissos dos chineses de comprar mais produtos americanos, além de mirar a segurança de armas nucleares.

Mas os temores quanto ao potencial inflacionário das medidas de Trump ainda não foram totalmente eliminados.

Em sua mais recente ameaça, na quarta-feira, Trump disse que anunciará novas tarifas no próximo mês ou antes, acrescentando madeira e produtos florestais aos planos previamente anunciados de impor tarifas sobre carros importados, semicondutores e produtos farmacêuticos.

Nesta quarta foi divulgada a ata da reunião do banco central dos EUA realizada nos dias 28 e 29 de janeiro. Na ocasião, o Fed manteve a taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,50%, após três encontros consecutivos cortando os juros.

Segundo a ata, as políticas de Trump criam incerteza para as perspectivas econômicas do Fed e preocupações sobre uma inflação mais alta. Além disso, dirigentes do Fed gostariam de ver novos progressos antes de novas quedas de juros.

A ata ajuda investidores a monitorar as próximas decisões de juros nos EUA e a mensurar o impacto que a medida pode ter no mercado brasileiro.

Diante desse cenário, o governo brasileiro vê alta de juros por aqui também. Isso porque, se o Fed mantiver a taxa de juros mais alta por mais tempo, o Banco Central do Brasil deve seguir o mesmo caminho a fim de assegurar um diferencial atrativo para investidores na economia brasileira.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira as políticas de Trump de impor taxações unilaterais a importações e afirmou que isso elevará a inflação nos Estados Unidos.

“O que queremos é que ele governe os EUA, que ele pare com esse protecionismo. Ele está taxando os produtos de todos os países, isso vai causar inflação nos Estados Unidos e isso pode não ser uma boa política para os EUA”, disse Lula em entrevista à rádio Tupi FM, do Rio de Janeiro.

Lula voltou a dizer que, se houver taxação sobre produtos brasileiros, haverá reciprocidade. No entanto, o governo ainda não agiu depois dos anúncios de tarifas sobre aço e etanol.

Em relação ao aço, antes de tomar medidas retaliatórias, o governo brasileiro decidiu tentar negociar a volta de cotas livres de impostos antes de partir para retaliação.

Já em relação ao etanol, a avaliação dos próprios produtores é que o volume exportado para os EUA tem baixíssimo impacto.

O presidente lembrou que o Brasil tem uma balança comercial equilibrada com os Estados Unidos.

“O que queremos é primeiro que se respeite as regras da democracia, a ONU, as regras da Organização Mundial do Comércio, e se faça uma relação comercial tranquila, soberana, sem sobressaltos”, disse.

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