Lidando com a culpa materna

Nasce uma mãe, nasce uma culpa.” O ditado que viralizou na internet define um sentimento que a maioria das mulheres lida ao iniciar a relação com a maternidade. “Parece que para a mãe nunca é suficiente o que ela está fazendo. É algo que vem do inconsciente. Ainda que tenha uma rede de apoio, ela sempre tem aquele sentimento de que está faltando, de que poderia fazer mais”, analisa a psicóloga perinatal Thalyta Laguna, de 36 anos.

E esse sentimento se manifesta de diversas formas: pelo medo de não estar fazendo o suficiente pelo filho, pela sobrecarga mental e cansaço emocional, pela dificuldade de conciliar a jornada dupla (maternidade e trabalho) ou até pela comparação com outras mães.

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Nas redes sociais, influenciadoras digitais compartilham um cenário perfeito e inalcançável. Plataformas como o Instagram e Twitter são locais propícios para mostrar apenas o que se deseja da vida. Quem está por trás das telas é atingido por possíveis realidades que parecem mais confortáveis e cheias de realizações.

Isso contribui para que diversas mães não se considerem suficientes para seus filhos. Cuidar da casa e do bebê, voltar ao trabalho após a licença, ser uma boa esposa, zelar pela família e amigos. Diversas são as tarefas que afetam a mente das mulheres nesse momento da vida. “Tem que dar conta da casa, não estou dando conta do bebê. Tem que dar conta do bebê, estou deixando a casa sem cobertura. Estamos sempre circundados de muitas perguntas que nos fazem sentir culpa”, reflete Thalyta.

Além disso, as mães, após o nascimento de seus filhos, não deixam de ser mulheres que gostam de sair, se divertir e se produzir. Esse lado da vida acaba sendo reduzido com a presença do filho, o que faz com que outra culpa se manifeste: a vontade de ter momentos de autocuidado e lazer sem a criança, limitada pelo medo dos julgamentos sociais por esses pensamentos.

“Está tudo bem não querer ficar com o bebê sempre, isso não quer dizer que não ame ele. Às vezes, queremos descansar. A partir do momento em que a mulher entende isso, é uma virada de chave. Não vou deixar de amar o meu bebê, só quero que alguém leve ele para dar uma volta, para eu tomar um banho por 15 minutos. Isso também é autocuidado, lavar o cabelo, ficar em silêncio, ver um filme”, complementa a psicóloga.

Parar de romantizar a maternidade

A sociedade desenvolveu diversas crenças do que é a maternidade. A mulher que se torna mãe é, muitas vezes, colocada em um cenário de momento perfeito e de um amor incondicional. A “romantização da maternidade” parte de um cenário histórico em que mulheres eram criadas apenas para serem mães e donas de casa.

Ao se tornar mãe, as expectativas acabam se transformando em assombrações. Na prática, o sentimento de “amor à primeira vista” com o filho não é, necessariamente, uma regra. “Tem mulheres que olham e dizem: ‘meu Deus, um sentimento inexplicável’. Tem mulheres que não. E tudo bem não sentir isso porque ela está conhecendo o seu bebê”, exemplifica Thalyta.

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Depois desse momento, apesar do amor ao filho, estar 24 horas cuidando de um bebê ou criança exige esforço, o que acaba levando ao esgotamento emocional e ao cansaço. “Você tem o bebê e não consegue mais dormir oito horas por dia, nem quatro horas. Não consegue parar para lavar o cabelo, ir ao banheiro sem ele chorar. No entanto, vai viver outras coisas maravilhosas com aquele bebê. Mas é muito natural que a mulher, principalmente quando não tem uma rede de apoio, se sinta exausta”, esclarece a psicóloga.

O esgotamento se intensifica quando se trata de mães solo. O Brasil registrou 161.146 crianças sem o nome do pai em 2024. Situações de abandono paterno estão enraizadas na sociedade e, por muitos, são vistas como algo natural. “Vem muito da questão da figura paterna, do patriarcado. O homem e a mulher têm a mesma responsabilidade. Precisamos quebrar tabus.”

Rede de apoio

O fato de ser mãe já carrega um grande desafio, o que aumenta quando se trata de uma criança sem a presença do pai. Nos dois casos, ter uma rede de apoio é crucial para que mesmo com a culpa e as dificuldades, a mulher se sinta acolhida e receba a ajuda necessária.

Thalyta Laguna explica como a sociedade ao redor dessas pessoas pode ajudar. “Rede de apoio não é só cuidar do bebê, é cuidar da mãe também. Perguntar se precisa de alguma coisa, auxiliar nas tarefas domésticas simples ou até conversar para distrair”.

Cuidar da mulher também significa pensar no desenvolvimento da criança. Se ela está bem cuidada, conseguirá transmitir os bons sentimentos para o filho e ter mais fôlego para desempenhar o seu papel como mãe.

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Psicologia Perinatal

Para lidar com a ansiedade e diferentes sentimentos ao passar por essa nova fase, a terapia se torna crucial. A psicologia perinatal abrange tudo o que envolve o nascimento de uma criança, seja no momento das tentativas do casal, por vias naturais ou reprodução assistida, até gestantes, puérperas, pós-parto e mães de crianças pequenas.

Para fortalecer a mulher, a ideia é desconstruir as questões enraizadas. Questionar os próprios pensamentos e entender o porquê de a tristeza estar associada a partir deles. “Trabalho com uma linha da psicologia que acredita que o nosso pensamento interfere na nossa emoção e, imediatamente, no nosso comportamento. Então, se eu penso que sou uma mãe ruim, que não estou dando conta, imediatamente, qual é o sentimento que associamos? Tristeza, angústia”, elucida Thalyta.

Para a psicóloga, mulheres nessa fase deveriam, sob qualquer circunstância, ter um acompanhamento profissional. “Digo que deveria ser algo obrigatório, pago para a mulher como uma cesta básica, porque isso é qualidade de vida. Entretanto, nem sempre é possível, muitas vezes pelo investimento”, observa.

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