1982 – REGULAMENTO COMPLICADO

almir vieira 3

Os dirigentes da Associação Comercial de Brasília e do Brasília Esporte Clube não tinham tempo para cuidar do seuu clube (time). Então, contrataram o servidor público aposentado Almir Azevedo Vieira para fazer tudo o que eles não podiam, sendo supervisor.

Gordo, barrigudo e já tendo passado por dois enfartos, o sujeito viu, logo, a possibilidade de ter mais umo, sabedor de que teria de se virar para pagar, mensalmente, uma folha salarial de Cr$ 1,8 milhão de inflacionados cruzeiros – os empresários não estavam mais a fim de meter a mão no cofre para sustentar o time. Mesmo assim, o Almir topou, pois não suportava mais ficar em casa, sentindo saudade dos tempos em que fora supervisor do Clube de Regatas Guará e da Sociedade Esportiva do Gama.

Pede daqui, implora dali, o incansável Almir Vieira quase nunca conseguia patrocínios para fechar a folha salarial, principalmente porque ainda não havia representação política no Distrito Federal e ninguém era candidato a nada. O jeito era ele chorar pra Oscar Perné do Carmo, Lidenberg Azize Curi, José de Melo, Manoel Ângelo Gadioli, enfim, os patrões que o haviam contratado, complementarem a grana que ele corria atrás.

Era noite de uma segunda-feira, imediatamente após o encerramento das fases classificatórias do Candangão, quando os quatro finalistas  – Brasília, Guará, Tiradentes e Taguatinga –  se reuniram em assembleia, na sede da FMF, na Avenida W-3 Sul,  para discutirem a tabela da fase decisiva. Foi quando o surpreendente Almir Vieira alegou que o clube, se fosse um dos dois finalistas, jogaria as duas partidas pelo empate, alegando que  regulamento, do qual ninguém se lembrava mais, previa a inclusão no quadrangular final do clube com melhor desempenho nas arrecadações, E, como o Brasília havia ganho dois turnos e o Guará um, Almir sustentou que o seu clube, o campeão por rendas, levaria mais um  ponto para as finais.

Leva, não leva, é, não é, vale, não vale, foi um rebu. O regulamento não seria claro, sustentavam os rivais do Brasília. Que rolo! A assembleia virou um inferno. Enfim, nos dias 24 de 28 de novembro, com os dois jogos no Estádio Antônio Ottoni, a casa do Guará, rolaram empates, respectivamente, por 1 x 1 e 0 x 0, ficando o Brasília campeão, pelo regulamento interpretado por Almir Vieira. O Guará prometeu recorrer ao tapetão para o título do Brasília não ser confirmado, mas a FMF deu uma de Pilatos e lavou as mãos, e, até hoje o seu Tribunal de Justiça Desportiva está esperando pelo recurso do Lobo da Colina. “Não tenho culpa se os outros não leram o regulamento”, disse o muito vivo Almir Vieira, escapado do terceiro infarto.   

Em 29 jogos, o Brasília ficou campeão candango, pela quinta vez, em sete disputas, vencendo 11 partidas, empatando 12 e caindo em seis. Marcou 28 e levou 19 gols, dirigido por Erci Rosa, que havia sido atleta durante a conquista do primeiro título candango, em 1976.  

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