Facção ou crime organizado?

charge facções organizadas

Imagine a cena: um repórter corre atrás de um homem de terno, segurando um microfone, e pergunta: “E as facções crimino…”. Antes mesmo de terminar a frase, é interrompido pelo entrevistado, que, com um charuto na boca e um sorriso afiado, responde: “Mais respeito! Crime organizado.” O repórter, surpreso, arregala os olhos enquanto o homem de terno segue caminhando com pose de autoridade, carregando uma longa cauda de rato escondida atrás de si. O homem? deixe sua imaginação definir quem é.

A cena brinca com uma realidade cada vez mais evidente: o crime organizado não quer ser chamado de facção criminosa – afinal, seu “negócio” é altamente sofisticado e estruturado. E a operação desta terça-feira mostrou exatamente isso. A Polícia Federal e o Gaeco descobriram que o Primeiro Comando da Capital (PCC) não está apenas no mundo do crime tradicional, mas também no universo financeiro, operando fintechs para lavar dinheiro. A investigação revelou que cerca de R$ 30 milhões foram movimentados por essas empresas, camuflando transações ilegais por meio da compra de imóveis e o uso de contas de laranjas.

A ironia se traduz na realidade com uma precisão quase cômica: o crime organizado está tão bem estruturado que até mesmo um policial civil foi preso por atuar como CEO de uma dessas fintechs fantasmas. Parece que, para alguns, a linha entre o crime e o mercado financeiro se tornou bem tênue. O promotor Lincoln Gakiya comentou que o PCC atingiu “outro patamar”, operando como uma verdadeira corporação. No ritmo que as coisas vão, talvez seja só questão de tempo até vermos um “Banco PCC” oferecendo contas digitais e investimentos de alto risco – literalmente.

O crime já não precisa mais agir nas sombras, porque encontrou formas de operar como um grande empreendimento. O homem de terno poderia muito bem ser um desses líderes que transformaram o crime em um modelo de negócios, exigindo respeito – afinal, o termo “facção criminosa” já não faz jus ao tamanho e à sofisticação de seus esquemas.

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