Carnaval de Salvador irá injetar R$ 1,8 bilhão na economia

Ao atrair milhares de turistas todos os anos com sua musicalidade contagiante e efervescente, a axé music desempenha um papel crucial na economia do Carnaval soteropolitano. Afinal, quem resiste à ideia de se divertir com tudo que envolve a axé music na terra onde ela foi criada? A folia soteropolitana movimenta um amplo leque de segmentos, do hoteleiro, de bares e restaurantes até pequenos negócios e a indústria cultural como um todo. E conta com o auxílio luxuoso do axé, que, para além de um ritmo, se mostra um dos principais ativos da festa, sobretudo em 2025, quando completa quatro décadas e é tema do Carnaval.O mote “Axé Music – 40 Carnavais” é uma justa homenagem ao gênero musical que projetou Salvador e artistas mundo afora. “Reconhecer isso é fundamental para a memória da cultura popular e dos nossos valores. São muitos atores envolvidos nessa jornada de quatro décadas e, por esse motivo, se torna diverso, na medida em que concebe o som percussivo dos blocos afros, as inovações estéticas, os novos aspectos rítmicos e expressões corporais que marcam a axé music como gênero musical revolucionário”, explicou Walter Pinto Jr., que foi secretário interino de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), até a posse da vice-prefeira Ana Paula Matos, no último dia 19.A expectativa é de uma movimentação econômica de R$ 1,8 bilhões em 2025, indicam dados do Observatório do Turismo da Secult – um crescimento de 63% em relação ao ano passado. “Esse período é o ápice do fluxo de turistas durante o verão. Somos reconhecidos mundialmente por fazermos a maior festa popular de rua. Neste ano, quando comemoramos os 40 anos da axé music, temos motivos adicionais para atrair os visitantes, o que impactará positivamente na ocupação hoteleira, na projeção dos serviços turísticos e na geração de empregos e negócios da economia criativa”, afirma Walter Pinto Jr.“A musicalidade é algo muito peculiar e pungente em Salvador”, ressalta o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington. “Há toda essa diversidade de cultura criada a partir dos muitos povos que se encontraram aqui, o que fez nascer essa mistura, esse caldeirão. A axé music e todos os simbolismos presentes em suas letras, danças e composições mostram bem de onde essa musicalidade vem, mostra que povo é esse. Isso dá ao axé e aos artistas do gênero o importante papel de promover a cidade e atrair esse grande público de turistas”, explica.O Carnaval como um todo é o principal produto turístico que alavanca a economia, gerando desenvolvimento. “E gira em torno da música. Salvador e a Bahia são o lar de grandes expoentes da música, muitos ligados à axé music, como cantores, intérpretes, percussionistas, produtores e mais uma gama de profissionais. Isso, claro, não é por acaso. Por isso sempre buscamos fortalecer e reforçar a importância disso para a nossa cultura e a cultura do Brasil, aproveitando ao máximo e promovendo sempre que possível esse patrimônio que é a axé music para o País e para o mundo”, afirma Isaac Edington.PatrimônioTitular da Secretaria de Turismo do Estado (Setur-BA), Maurício Bacelar explica que ao fim deste verão, mais de 9 milhões de pessoas irão desembarcar na Bahia e injetar mais de R$ 23 bilhões na economia. Ele atribuiu essa escolha à vocação para atividade turística que o estado tem e aos patrimônios naturais, históricos e culturais.“Esses números somados à ocupação dos voos que chegam à Bahia, à movimentação nos pedágios e terminais, nos dão a certeza de que nós vamos bater um recorde na movimentação tanto do verão quanto do Carnaval”, afirma.Estética dita a festa e os negóciosPara recepcionar todo esse público, o patrimônio chamado de axé music não se limita às suas vibrantes músicas. A estética que o envolve movimenta e dita os horizontes da festa e até a sua economia. Artista visual, designer de moda e pioneira na Arte na Moda Afro-Brasileira com estamparia aplicada na moda e na asa, Goya Lopes explica que a axé music influenciou a Bahia quando se popularizou pelo Brasil e ganhou o mundo.

Goya Lopes, designer de moda

|  Foto: Rafael Martins/ Ag: A TARDE

“Assim, a cada ano, a liberdade de uma nova estética com coreografias e letras contagiantes – que contam sobre a alegria e o jeito de ser do baiano, com referências do afro, da religiosidade, do negro e do pop – foi aos poucos legitimada pelo povo”, afirma.Isso deu novos rumos para o turismo, expandindo o Carnaval na Bahia e tornando-o um movimento que influenciou o resto do País. A danças improvisadas nas ruas e as coreografia ensaiadas, as roupas, todo esse conjunto trabalhou para a criação do que entendemos como axé music.

“No início, a estética criada dentro da moda era muito diferente – basta lembrarmos dos figurinos de Luiz Caldas, seu jeito de dançar e seu estilo de forma geral. Ali houve um reforço da presença da musicalidade dos blocos afro e uma imensa liberdade de usar elementos nos figurinos”

Goya Lopes, designer de moda

Goya Lopes participou de muitos desses momentos. Nos anos 1980, por exemplo, ela forneceu tecido para a Banda Mel, e nos anos 1990, os figurinos do Ara Ketu. De lá para cá, muitas mudanças foram feitas. “De um lado, os blocos afros ficavam mais simbólicos, enquanto do outro, os blocos de trio cada vez mais práticos. Surgiram também muitas bandas, e uma nova estética de moda crescia para atender esse mercado. Com a entrada de ritmos externos e a industrialização do Carnaval, a moda passou a ser alimentada por uma necessidade cada vez mais empresarial, deixando os blocos afro com as questões afro e os blocos ficavam com temas mais pop”, explica.Foi imensa – e merece ser exaltada – a contribuição da cultura afro na construção de todos os traços dessa estética que simboliza tudo o que é a axé music. Por isso, afirma a professora, doutora, artista e ativista Carol Barreto, é muito importante destacar a contribuição dos blocos afro. “Na construção estética, sonora, aparência, vestimenta e movimento. Infelizmente, muito mais pessoas não negras ganharam a fama nestes 40 anos, bebendo desses atos de resistência. Então, esses 40 anos de axé music devem ser comemorados também como o trunfo dessa resistência”, afirma.

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