Dá pra viver de Carnaval o ano todo? Marcas investem em produtos atemporais e projetos paralelos


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Faltam poucos dias para as festas, mas o Carnaval começou há alguns meses para quem trabalha com roupas e acessórios focados nesse universo. Além do preparo e da produção, as marcas investem em projetos paralelos para ter fôlego para manter a folia viva.

“O Carnaval é muito mais do que uma temporada, é um estilo de vida. Nosso samba não morre!”, diz Iwana Raydan, que tem uma marca de acessórios de Carnaval em parceria com Viviane Tiezzi. A Podre de Chique foi criada em São Paulo, em 2019, e procura sintetizar a energia carnavalesca brasileira.

A exemplo da Podre de Chique, marcas como Paeteh, Era Costura, de São Paulo, e Me Veste Merisse, de Recife destacam-se pela capacidade de criar peças que vão além da sazonalidade, sendo reaproveitadas em festivais, shows e outras ocasiões ao longo do ano: para além das escolas de samba, a festa ganhou ainda mais espaço nas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte e outras cidades.

“Aqui em Recife, o Carnaval é sagrado e profano, inseparável da cultura local”, afirma Iana Merisse, paraibana radicada em Recife e fundadora da Me Veste Merisse. A marca começou em 2018 e é conhecida por suas coleções inspiradas em elementos saudosistas e burlescos, oferecendo durabilidade e identidade única.

Marina Paolucci, fundadora da Era Costura, destaca o valor do trabalho artesanal na moda. “Valorizamos a mão de obra feminina e a história por trás de cada peça”, diz ela. A marca, que surgiu de aulas de costura, evoluiu para coleções que unem conforto e versatilidade, permitindo que as peças carnavalescas sejam usadas em outras ocasiões.

Além dos desafios de planejamento e controle financeiro, Paolucci enfatiza a importância de uma boa gestão do caixa nos meses de menor atividade. Há também a concorrência com o varejo e, em especial, com as redes de fast fashion, como um dos principais obstáculos para a marca. “Eu faço um trabalho artesanal. Essa é uma das principais características da Era Costura, valorizar a mão de obra feminina na moda, a construção da peça, o que vem por detrás da roupa”, acrescenta.

A Paeteh, criada em 2017 por Estéfano Hornhard e Gustavo Pinhal, começou produzindo fantasias para amigos e hoje é conhecida em São Paulo por suas peças artesanais, muitas costuradas pela mãe de Hornhard.

A marca começa os preparativos para o Carnaval em julho do ano anterior, com pesquisas, compra de tecidos e produção, lançando parte da coleção entre outubro e novembro, e a linha carnavalesca cerca de 40 dias antes do evento. “Nosso foco é no final do ano e no Carnaval. A loja [física] temporária funciona de novembro até o Carnaval. No resto do ano, as vendas são online”, explica Hornhard, destacando o desafio de manter a conexão com o público e a relevância nas redes sociais após a folia.

A Podre de Chique, criada em 2019 por Iwana Raydan e Viviane Tiezzi, captura a energia do Carnaval de rua destacando produtos artesanais e exclusivos, com tiragens menores. Raydan, também designer e pesquisadora em inovação, observa uma transformação no varejo com a inclusão do Carnaval no calendário oficial das marcas.

Embora esse movimento seja considerado por ela um avanço tardio para o Brasil, também aumenta a competição para pequenos produtores, que precisam se adaptar a um mercado cada vez mais dinâmico e exigente, afirma

Mas, afinal, dá pra sustentar um negócio de Carnaval durante o ano todo? Sim, mas são necessárias produções que possam ser usadas e outros períodos, além de projetos paralelos. Após o Carnaval, os criadores dedicam-se a outras atividades, entre criações de coleções cápsulas, figurinos sob medida e aulas de costura, por exemplo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.