Blocos de rua do Rio investem em festas e ensaios pagos para garantir sobrevivência

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ALÉXIA SOUSA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Diante das dificuldades para conseguir patrocínio e garantir sustentabilidade financeira, blocos de Carnaval de rua têm investido cada vez mais em festas privadas e ensaios pagos.

A tendência reflete tanto a profissionalização de algumas dessas agremiações quanto a necessidade de gerar receita própria para financiar seus desfiles e outras atividades, que podem custar centenas de milhares de reais por evento.

“Alguns blocos estão se personalizando. Muitos são formados por músicos ou por pessoas que se tornaram músicos ao longo do tempo e perceberam que há um mercado consumidor para esse tipo de evento”, afirma Rita Fernandes, presidente da Sebastiana, associação que reúne blocos tradicionais do Rio de Janeiro.

Segundo ela, festas privadas se tornaram uma alternativa para muitos grupos, que também passaram a ser contratados para eventos como casamentos, festas corporativas e festivais.

Para alguns blocos tradicionais, os ensaios pagos se consolidaram como parte do modelo de financiamento. “Eles criam um ecossistema em que o próprio bloco se financia, trazendo recursos para manter bateria, instrumentos e outras despesas. Também servem como preparação para o desfile e acabam se tornando eventos em si”, diz Rita.

Um exemplo é o Monobloco, que divide suas atividades entre shows pagos, realizados durante o ano inteiro, e seus ensaios e desfiles no Carnaval.

“Temos um modelo de negócios com duas frentes. O Monobloco Show, com 15 integrantes, faz uma média de oito shows por mês em diversas cidades, além de turnês internacionais. Já os ensaios e desfiles contam com a bateria formada pelos alunos das oficinas de percussão”, explica Flávio Goulart, produtor do grupo.

Os ensaios do Monobloco no Rio acontecem na Fundição Progresso e são financiados exclusivamente pela venda de ingressos. Já os desfiles de rua, tanto no Rio quanto em São Paulo, ainda contam com patrocínios.

Flávio destaca que o custo operacional para colocar o bloco na rua é significativo: “No Rio de Janeiro, o custo fica em torno de R$ 350 mil para botar o bloco na rua. Em São Paulo, o valor pode subir para R$ 400 mil, devido à necessidade de montar uma estrutura maior pelo desfile ocorrer numa área confinada, com controle de acesso de público, área de backstage. Temos uma entrega maior para os patrocinadores.”

A falta de patrocínio tem sido um dos principais desafios para os blocos de rua, mas, segundo Rita, a Prefeitura do Rio deu um passo importante ao regulamentar as regras para a folia. “A Riotur lançou neste ano uma portaria e um guia que estabelecem melhor o que pode e o que não pode. Isso deve facilitar a captação de patrocínio, especialmente para o Carnaval de 2026”, afirma.

A prefeitura também repassou recursos para ligas de blocos, o que pode ajudar na manutenção dessas agremiações. “Vejo um momento de amadurecimento, tanto por parte do poder público quanto das empresas e dos próprios blocos. Estamos caminhando para um entendimento maior sobre o potencial do Carnaval de rua”, completa Rita.

Enquanto isso, a realização de eventos privados segue como estratégia. “Nada pode ser generalizado, porque cada bloco tem sua realidade, mas aqueles que adotaram esse modelo comercial têm conseguido se manter”, avalia a presidente da Sebastiana.

Segundo ela, o público tem aceitado bem esse modelo de cobrança por ingressos. “Os ensaios e eventos lotam, pagos ou não. Quando o folião gosta do bloco, ele participa. Blocos como Sargento Pimenta, Monobloco e Fogo & Paixão, por exemplo, têm um público cativo e conseguem mobilizar pessoas para esses eventos”, afirma Rita.

Apesar da aceitação, modelo tradicional e aberto ao público ainda é o favorito. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, em parceria com a QuestionPro, aponta que 59% dos brasileiros que curtem o Carnaval preferem blocos de rua gratuitos.

A pesquisa Os Brasileiros e o Carnaval ouviu 1.333 pessoas com mais de 18 anos de todo o país, entre os dias 3 e 17 de fevereiro.

As demais opções escolhidas para pular o Carnaval são shows gratuitos (34%) e trios elétricos gratuitos (29%), enquanto 28% dos entrevistados responderam blocos de rua pagos (abadás). Ir a desfile de escola de samba é opção para 15% dos foliões.

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