Dólar dispara e vai a R$ 5,90 após escolha de Gleisi e bate-boca entre Trump e Zelenski

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar disparava nesta sexta-feira (28), a caminho de fechar a semana com ganhos, à medida que os investidores repercutem Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional do PT, como a nova ministra da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), e o bate-boca entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e seu correspondente ucraniano, Volodimir Zelenski.

O mercado precifica ainda a inflação americana de janeiro e eventuais efeitos dos planos tarifários de Trump, enquanto se prepara para dois dias sem pregão no Brasil por conta do Carnaval.

Às 15h20, a moeda norte-americana subia 1,21%, a R$ 5,8999. O Ibovespa, por sua vez, recuava 1,69%, a 122.686 pontos.

A aversão à risco do mercado ganhou força com a oficialização da indicação de Gleisi como a nova ministra da SRI (Secretaria de Relações Institucionais) do governo Lula. A pasta é responsável pela articulação política do governo.

“A ida da Glasi para a articulação política é bem ruim, por alguns motivos. Primeiro porque ela faz parte dessa área mais radical e retrógrada do PT, sem compromisso e crítica com o ajuste fiscal. E esse é o principal problema macroeconômico do Brasil hoje”, diz Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos.

Investidores também repercutem os dados do PCE, índice inflacionário americano. Os preços nos Estados Unidos tiveram um avanço 0,3% em janeiro, com o acumulado em 12 meses desacelerando para 2,5%, de 2,6% em dezembro. A medida de núcleo aumentou na mesma magnitude, em 0,3% na leitura mensal, mas como uma desaceleração mais significativa em um ano, para 2,6%, de 2,8% em dezembro.

“A leitura traz um pouco mais de calma aos nervos dos investidores, com todas as métricas em linha com o consenso, mas os dados ainda não são significativamente suficientes para atestar que, fundamentalmente, há suporte para que o Fed mude de postura e abandone a cautela para cortar juros”, diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

Segundo o economista, os impactos tarifários de Trump ainda são incertos para a leitura futura do índice.

O mercado precifica o primeiro corte no mês de junho. Nas últimas semanas, apontava maior probabilidade de ser em julho.

Na quinta (27), o dólar voltou a subir e retomou o patamar de R$ 5,80 pela primeira vez desde 3 de fevereiro, encerrando a sessão em forte alta de 0,56%, cotado a R$ 5,829.

Os investidores repercutiram a divulgação de dados do desemprego no Brasil e a confirmação de tarifas de importação por parte dos Estados Unidos contra o México e o Canadá, além de taxas adicionais contra a China.

A Bolsa, por sua vez, subiu 0,02% e terminou o dia aos 124.798 pontos. As ações da Petrobras, Petr3 e Petr4, trouxeram os sinais negativos, caindo 5,55% e 3,53%, respectivamente, após a estatal obter lucro de R$ 36,6 bilhões em 2024 -uma queda de 70% em relação a 2023. Mais cedo, as ações chegaram a registrar queda de até 9% após falas da presidente da estatal, Magda Chambriard.

Nesta sexta, as ações da Petrobras seguem em queda de 1,3%, a R$ 36,14.

Mas as perdas da petroleira não foram suficientes para apagar os ganhos da Bolsa, que foi puxada para cima por Ambev e Embraer. Os papéis das empresas tiveram alta de 5,29% e 12,12%, respectivamente, sustentando o sinal positivo. Bons resultados do balanço do quarto trimestre de ambas estiveram sob o holofote dos investidores.

Segundo a Petrobras, o resultado de 2024, aquém das projeções de analistas, reflete a desvalorização do câmbio, que levou a um prejuízo de R$ 17 bilhões no quarto trimestre, contra lucro de R$ 33 bilhões no mesmo período do ano anterior.

Ainda assim, a estatal anunciou nesta quarta-feira (26) que vai distribuir mais R$ 9,1 bilhões em dividendos pelo resultado de 2024, elevando para R$ 75,8 bilhões o valor aprovado ao longo de 2024 para remuneração aos acionistas.

A presidente da estatal, Magda Chambriard, afirmou nesta quinta-feira (27) que a queda de lucro em 2024 foi provocada por “uma coisa que não é real” e que a direção da empresa está otimista com relação ao desempenho de 2025.

“O lucro da Petrobras foi impactado por uma coisa que não é real”, afirmou Magda, em entrevista à imprensa para detalhar o balanço. “É uma coisa imaginária.”

A direção da companhia disse que o resultado já deve ser revertido com a queda do dólar nesse início de 2025. Se o câmbio fechar o trimestre em torno dos R$ 5,75, afirmou Magda, o lucro da empresa no período sofrerá um efeito positivo de R$ 11 bilhões.

Além das movimentações do mercado acionário, a sessão foi marcada pela divulgação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) da taxa de desemprego, que subiu a 6,5% no trimestre até janeiro no Brasil. Os dados deram suporte para a alta do dólar nesta quinta-feira.

O indicador ficou 0,3 ponto percentual acima dos 6,2% registrados nos três meses até outubro, que servem de base de comparação, mas abaixo dos 6,6% esperados por analistas consultados pela Bloomberg.

A taxa é a menor para os trimestres até janeiro na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.

Na véspera, dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) mostraram que o Brasil abriu 137,3 mil vagas formais de trabalho em janeiro, bem acima das 48 mil vagas esperadas por economistas consultados pela agência de notícias Reuters.

Apesar de os dados virem fortes, positivos e muito além das expectativas, o efeito no mercado de câmbio em um primeiro momento é negativo.

Isso porque o mercado financeiro vê os números com pessimismo, uma vez que podem significar um descontrole dos salários e dos preços, e um aumento da inflação e a permanência dos juros em patamares elevados, na percepção de investidores, que temem ainda a capacidade do governo de controlar a economia diante de um aquecimento.

Um mercado de trabalho mais forte significa aumento de consumo, o que deve aumentar os preços. Com preços mais resilientes, o Banco Central pode ter que subir mais, e por mais tempo, a taxa básica de juros (Selic), atualmente a 13,25%, para controlar a inflação. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC será em março.

“Os investidores estão ancorando a expectativa na incerteza sobre o controle da inflação e manutenção dos gastos públicos no futuro”, disse Nicolas Gomes, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

“O mercado estressou bastante muito preocupado com o excesso de gastos, com os nossos déficits e o nosso risco fiscal, além de maior aquecimento da economia que pode aumentar ainda mais a nossa inflação”, afirmou Leonardo Santana, especialista em investimentos e sócio da casa de análise Top Gain.

Na quarta-feira (26), o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, criticou a reação do mercado ao número que já havia sido antecipado por ele na segunda.

“O tal do mercado ficou nervosinho, incapacitados que são de fazer projeções que correspondam com a realidade do Brasil. Foi assim em 2023, projetaram 0,7% no máximo de crescimento do PIB e crescemos 3,2%. [Projetaram] No máximo 1,7% em 2024 e crescemos 3,8%. E estão tentando de novo projetar para baixo a realidade da economia brasileira”, disse.

A perspectiva de uma inflação mais alta para 2025 e 2026 veio destacada no último boletim Focus. É a 19ª semana seguida que analistas consultados pelo Banco Central elevam as previsões. A expectativa é de que a inflação suba do patamar de 5,60% para 5,65% ao fim deste ano, e de 4,35% para 4,40%, no próximo ano.

A prévia da inflação, o IPCA-15, acelerou a 1,23% em fevereiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), acumulando alta de 4,96% em 12 meses, bem acima do centro da meta perseguida pelo BC de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Entre os fatores que podem pressionar a inflação está a liberação de R$ 12 bilhões do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e o pagamento do programa Pé-de-Meia, iniciado nesta terça-feira.

As medidas colocariam mais renda à disposição da população, o que também aumentaria o consumo, podendo aumentar os preços e pressionar a inflação -consequentemente, pressionando a decisão do BC sobre os juros.

Nos últimos dias, o mercado ainda tem sinalizado maior nervosismo de que a recente queda de popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) possa levar à adoção de medidas que piorem ainda mais a situação das contas públicas.

Ainda na ponta doméstica, investidores também se mantinham atentos às articulações políticas em Brasília, com foco nas mudanças nos ministérios e em anúncios que podem impactar a área fiscal.

Já na ponta internacional, a valorização do dólar também teve como suporte adicional as declarações do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre seus planos tarifários.

Trump disse nesta quinta-feira que as tarifas propostas sobre México e Canadá entrarão em vigor em 4 de março, conforme programado.

O presidente disse ainda que será cobrada uma taxa adicional de 10% sobre a China nesse mesmo dia, elevando para 20% a taxa para produtos chineses, de acordo com uma publicação em sua plataforma Truth Social.

“As ameaças de Trump foram em parte ignoradas ontem devido à expectativa de que ainda haveria negociações e que as tarifas poderiam ser evitadas. Mas a confirmação de hoje foi uma clara mensagem para o mercado de que as tarifas estão a caminho e que não devem ser subestimadas”, disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

Na avaliação de Matthew Ryan, head de estratégia de mercado da Ebury, os mercados foram pegos de surpresa pela notícia, “devido à crença de que essas tarifas seriam novamente adiadas ou atenuadas em relação às ameaças iniciais”.

“As esperanças de um possível acordo comercial entre EUA e China também estão se dissipando rapidamente com o presidente impondo uma tarifa adicional sobre todas as importações chinesas”, disse Ryan.

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