Zelenski vai a Londres em busca de apoio europeu após racha com EUA de Trump

VICTOR LACOMBE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, encontrou-se neste sábado (1º) com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, em uma tentativa de reforçar o apoio europeu a seu país após o racha com os Estados Unidos de Donald Trump, com quem protagonizou um bate-boca ao vivo na Casa Branca na sexta-feira (28).

Ao receber Zelenski na Downing Street, em Londres, Starmer disse que o presidente “tem total apoio do Reino Unido pelo tempo que for necessário”. No encontro, Londres e Kiev assinaram um acordo de empréstimo de 2,26 bilhões de libras (aproximadamente R$ 17 bilhões) para reforçar a defesa da Ucrânia.

O ucraniano foi ovacionado por britânicos que se reuniram em frente à sede do governo. “O senhor é muito, muito bem-vindo aqui. O povo do Reino Unido está aqui para demonstrar que o apoia. Nossa determinação para atingir uma paz justa e duradoura é inquebrantável”, afirmou o líder britânico.
Zelenski agradeceu “ao povo do Reino Unido por seu grande apoio desde o começo desta guerra”.

O esforço também busca fortalecer a posição da Ucrânia em futuras negociações de paz com a Rússia -no momento, com incertezas a respeito do apoio americano, Zelenski tem poucas cartas na mão, como Trump fez questão de enfatizar, para buscar um acordo que não seja desastroso para seu país.

Cientes disso, outros líderes europeus insistem que o ucraniano repare suas relações com Trump para evitar uma catástrofe militar que tornaria irrelevante qualquer conversa sobre um acordo de paz. O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse que Zelenski precisa “encontrar uma maneira” de voltar a conversar com o republicano.

“Eu disse para ele que precisamos dar crédito ao que Trump fez no passado”, afirmou Rutte, em referência à entrega de equipamento militar ainda no primeiro mandato do presidente que foram importantes para a sobrevivência da Ucrânia no início da invasão russa. “Precisamos agradecer o que os EUA fizeram desde então e o que fazem hoje”, disse o líder da aliança militar que, sem Washington, perde razão de ser.

Antes de desembarcar no Reino Unido, Zelenski havia dito que é muito importante que o sofrimento da Ucrânia seja ouvido e não esquecido e chamou o apoio dos EUA de crucial. “Ninguém deve esquecer da Ucrânia, nem agora nem depois da guerra”, disse em uma publicação em redes sociais. O presidente divulgou também um vídeo cumprimentando membros da comunidade ucraniana em Washington.

“É importante que o povo da Ucrânia saiba que eles não estão sozinhos, que seus interesses estão representados em todos os países, em todos os cantos do mundo”, prosseguiu.

Na noite de sexta-feira, horas depois de ouvir de Trump que vai perder a guerra “se for valentão com os EUA”, Zelenski fez uma aparição defensiva na televisão americana e disse que seu país não quer perder os EUA como parceiros.

Em entrevista à emissora Fox News, simpática a Trump, Zelenski reforçou repetidas vezes que seu país precisa de garantias de segurança como parte de qualquer acordo de paz entre Ucrânia e Rússia, que invadiu o vizinho em 2022. Quando questionado sobre um possível arrependimento da briga em público com Trump, disse que “às vezes é preciso discutir coisas fora da mídia”.

Ucranianos ouvidos nas ruas de Kiev pela agência de notícias Reuters apoiaram Zelenski na disputa com Trump, mas também expressaram desespero sobre o futuro de seu país sem apoio americano. “Trump e Putin estão dividindo o mundo. Não sei o que vai acontecer daqui para a frente”, disse a ucraniana Ludmila Stetsevitch.

“Estamos muito agradecidos pelo apoio dos EUA que recebemos esse tempo todo, mas nossa honra e dignidade precisam vir primeiro”, disse Alina Jaivoronoko, ouvida pela Reuters em um memorial erguido em Kiev para os soldados mortos na guerra.

“Os americanos não conhecem a situação de verdade. Eles não entendem. Para eles, tudo é belo”, opinou a ucraniana Ella Kazantseva.

Em um editorial publicado neste sábado, o jornal ucraniano European Pravda disse que, embora o bate-boca entre Zelenski e Trump tenha prejudicado a relação entre os países, a postura do presidente ucraniano “sinalizou de forma importante que a Ucrânia leva sua soberania a sério”.

“Não importa para onde a história nos levará, o mundo, incluindo Donald Trump, agora sabe que essas questões são cruciais para a Ucrânia”, diz a publicação.

O ex-presidente da Rússia Dmitri Medvedev disse no sábado que seu país está pronto para “ser flexível” em conversas sobre o fim da guerra, mas não deixará de reconhecer “a realidade do front”. A Rússia ocupa um quinto do território ucraniano.

Neste sábado, drones russos atingiram um centro médico na cidade de Kharkiv, na Ucrânia, ferindo pelo menos sete pessoas, segundo autoridades locais. Mais de 50 pacientes tiveram de ser retirados às pressas do local.

Também no sábado, o Ministério da Defesa da Rússia disse que o Exército capturou mais duas cidades na região de Donetsk, na Ucrânia.

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