Primeiro time vegano do Brasil estreia na elite potiguar com aposta em medalhões

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LUCAS BOMBANA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Volante com passagens por Palmeiras, Figueirense, Criciúma e Hannover-ALE, o experiente França, 33, recebeu no fim do ano passado um convite para defender o pequeno time do Laguna, SAF (Sociedade Anônima do Futebol) sediada em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte, que então disputava a segunda divisão do Campeonato Potiguar.

Uma preocupação inédita que surgiu em um primeiro momento foi relacionada à alimentação, pelo fato de o Laguna ser o primeiro time de futebol profissional vegano do Brasil.

“Quando me fizeram a proposta de vir para o Laguna, na minha cabeça imaginava que a alimentação era só folha, por ainda não ter conhecimento a respeito. Venho de uma cultura onde a carne é a única fonte de proteína que o atleta precisa. Claro que, quando cheguei, vi que a comida é normal. Arroz, feijão, macarrão, mandioca, salada. A única coisa que não tem é a proteína de origem animal, mas tem a proteína de soja que, somada com outras suplementações, ajuda muito no dia a dia”, afirmou o jogador à Folha.

Ele acrescentou que, ao passar a adotar a alimentação vegana, se adaptou mais rápido do que imaginava à dieta e sentiu que seu desempenho físico melhorou.

“Tenho me surpreendido com o que tenho feito dentro de campo. No ano passado, joguei todos os jogos e não sai nenhum minuto e, neste ano, está sendo a mesma coisa. A minha recuperação está sendo muito boa”, afirmou França.

O resultado esportivo atribuído à alimentação vegana foi tão positivo que ele levou a dieta para além dos muros do clube e passou a seguir o cardápio sem proteína animal também em casa.

“Apesar de ter 33 anos, ainda tenho muita coisa pela frente no futebol e preciso focar na minha condição física”, afirmou o volante.

Com a braçadeira de capitão, França guiou o Laguna ao título da segunda divisão do Potiguar no ano passado, conquistando o acesso à elite do estado em 2025.

Com seis gols, o artilheiro do time na campanha de acesso foi outro rosto conhecido dos torcedores -o atacante Bill, de 40 anos, com passagens por Corinthians, Santos, Coritiba e Ceará.

“Para mim, os primeiros meses foram muito difíceis para se adaptar à comida, que é muito diferente, e às vezes a gente sente falta de uma carne”, disse o atacante, que esteve nos últimos anos no futebol tailandês.

“Mas as cozinheiras do clube ajudam bastante e estão de parabéns pela comida, pelo tempero. E a dieta também ajudou até para perder um pouco de peso, porque eu estava meio pesadinho”, disse o jogador, que já se tornou o maior artilheiro da história do Laguna, com dez gols em 18 partidas.

Em sua estreia na primeira divisão potiguar, o Laguna ainda não sabe o que é perder. São até aqui cinco empates, incluindo contra os dois grandes do estado -ABC e América-RN-, e quatro vitórias. O clube está classificado às semifinais, tendo pela frente o ABC, nos dias 8 e 15 de março.

“Por onde passo, trago títulos. E acho que todo mundo tem que ter a ambição de ter títulos, porque o jogador só é reconhecido com conquistas”, afirmou o atacante.

Ele disse ainda estar se adaptando à pequena cidade de Tibau do Sul, que tem apenas 17 mil habitantes, mais conhecida pela Praia de Pipa. “Chega sete, oito da noite e já está tudo fechado, mas é uma cidade bem gostosa, com uma população que nos acolheu muito bem.”

Fundador e CEO do Laguna, Gustavo Nabinger afirmou que, ao decidir iniciar as atividades do Laguna, optou pelo veganismo por ser uma dieta que ele próprio segue há anos.

“Nossa ideia é acabar com o preconceito e levar informação para as pessoas. Mostrar que, se você é atleta e tem medo de adotar uma dieta vegana por conta de performance, pode ficar tranquilo.”

Ex-jogador e treinador de times de base, Nabinger disse que o objetivo traçado para o clube é alcançar a Série A do Campeonato Brasileiro até 2032, quando a agremiação vegana completa dez anos.

A opção pela camisa rosa, acrescentou o dirigente, foi por ser uma cor pouco usual no futebol, que ainda não era utilizada por nenhuma grande equipe do país. “Na época em que começamos, ninguém falava sobre o Inter Miami”, disse Nabinger, em referência ao time que ganhou os holofotes após a contratação de Lionel Messi.

Até aqui, foram investidos cerca de R$ 4 milhões no clube, entre capital próprio, de sócios e empréstimos.

O CEO disse que pretende arrecadar entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão em uma campanha de crowdfunding recém-aberta e não descarta nem a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) do time na Bolsa de Valores.

“Nosso valuation [valor estimado do negócio] já é cinco vezes maior do que o investido. É um bom investimento”, disse o cartola.

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