Intuitive Machines pousa de novo na Lua, mas incerteza ameaça missão

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SALVADOR NOGUEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A empresa Intuitive Machines repetiu a dose e realizou nesta quinta-feira (6) seu segundo pouso na Lua, depois do sucesso que a tornou a primeira entidade privada a operar um módulo na superfície lunar, em fevereiro do ano passado. A posição final do veículo no solo, contudo, não ficou clara logo após a alunissagem, o que pode ameaçar o andamento da missão.

O módulo Athena, da missão IM-2, é essencialmente uma réplica do Odysseus, que voou na missão IM-1, no ano passado, mas tem aprimoramentos, em particular no sistema automatizado de controle de altitude e pouso, onde foram aplicadas as lições aprendidas na primeira missão.

Naquela ocasião, o pousador teve alguns problemas durante a aproximação final e, ao tocar o solo mais depressa do que deveria, acabou tendo um dos pés do trem de pouso quebrado, o que o levou a tombar e ficar numa inclinação de 30 graus. Mesmo com esse contratempo, ele conseguiu operar na superfície por cerca de uma semana e cumprir praticamente todos os objetivos.

A nova alunissagem se deu por volta das 14h30 (de Brasília, 11h30 pelo horário local de Houston, no Texas, de onde a companhia opera a missão), oito dias após o lançamento, em 26 de fevereiro. O Athena desceu no Mons Mouton, a apenas 160 km do polo sul lunar, tornando-se a missão que mais se aproximou dessa cobiçada região da Lua, em que o fundo de crateras onde a luz do Sol nunca bate pode preservar gelo de água, um dos recursos mais valiosos para o futuro desenvolvimento da exploração e ocupação lunar.

A despeito do sucesso, a fase final do voo foi permeada de emoção e incertezas, até a equipe colher, ao longo de cerca de 20 minutos, os dados necessários para determinar que o motor se desligou corretamente, após uma queima de 11 minutos, e a descida à superfície foi bem-sucedida. Contato por rádio foi estabelecido, e o módulo está recarregando as baterias, o que significa que tem painéis solares voltados para o Sol. Contudo, a empresa terminou a transmissão ao vivo sem sinalizar a orientação do veículo -é possível que tenha tombado mais uma vez, como aconteceu ao Odysseus.

Nesse caso, um tombamento pode ser bem mais crítico do que na missão anterior, porque quase todas as cargas úteis embarcadas dependem de o veículo estar na orientação correta sobre o solo.

A missão leva para a Nasa um número relativamente pequeno de cargas úteis, mas elas são de alto impacto científico. O instrumento Prime-1 (sigla em inglês para Experimento de Recursos Polares de Mineração de Gelo) é uma espécie de dois em um: com uma perfuratriz, ele vai escavar sob o local de pouso, a até um metro de profundidade, e então um espectrômetro de massa tentará detectar a presença de compostos voláteis (como água e dióxido de carbono) presos no subsolo lunar. É um primeiro esforço para acesso direto a recursos naturais que poderão ser importantes no futuro estabelecimento de uma base lunar.

Além disso, um segundo instrumento da Nasa é algo que é adicionado em todas as missões lunares: um retrorrefletor de laser, que serve para a medição precisa da distância da fonte do laser até o módulo, na superfície. Acumulando-se em vários locais, eles servirão como marcos de referência para facilitar pousos futuros de alta precisão.

Só que essa é uma missão privada, e muitas das cargas úteis embarcadas também vêm do setor privado, quando não de outros países. São oito ao todo, dois deles minirrovers.

O primeiro é o Yaoki, que mais parece um brinquedo, com apenas duas rodas e do tamanho de uma mão.

Desenvolvido pela companhia japonesa Dymon, ele só deve entrar em operação em cinco dias, e aí andar e capturar imagens da superfície a um raio de até 50 metros do módulo de pouso. Já o segundo, mais parrudo, é o Mapp (sigla para plataforma móvel autônoma de prospecção), contribuição da empresa Lunar Outpost, do Colorado (EUA).

Contudo, o veículo embarcado na missão mais curioso e intrigante não é um rover, mas um hopper -ou seja, um saltador. Do tamanho aproximado de um frigobar, o Micro Nova Hopper, desenvolvido pela Intuitive Machines, usa propulsão para saltar pela superfície lunar a um alcance de até 25 quilômetros. Ele servirá para sondar crateras escuras do polo lunar, podendo pousar dentro delas à procura de sinais de gelo de água para sempre ocultados da luz solar.

A missão ainda conta com um sistema de comunicação lunar desenvolvido pela Nokia -essencialmente uma estação portátil de sinal 4G, desenhada para funcionar no espaço e permitir a comunicação entre o módulo de pouso e os vários veículos que saltarão dele para a superfície. Será a primeira vez que alguém cria uma rede 4G fora da Terra.

Entre as cargas úteis que chamam a atenção estão o Freedom, um centro de dados digital desenvolvido pela companhia Lonestar, da Flórida (EUA), com o objetivo de salvaguardar informações de forma segura na Lua, e um radiômetro lunar desenvolvido pela DLR (agência espacial alemã) para medir a temperatura em regiões permanentemente sombreadas da Lua.

O módulo Athena em si também ganhou um reforço importante de proteção a partir de uma parceria com a empresa Columbia Sportswear, do Oregon. Parece inusitado ter uma empresa de roupas tecnológicas para esportes de aventura colaborando com uma missão espacial, mas foi o que aconteceu aqui, com o uso de materiais de proteção térmica desenvolvidos pela empresa que ajudam a espaçonave a se proteger da incrível variação térmica a que ela é submetida no espaço, indo dos -157°C aos 121°C.

A missão IM-2 tem uma duração prevista de dez dias -até o pôr do Sol na região do pouso, quando então todos os equipamentos serão mergulhados na escuridão e as temperaturas baixarão além de seus limites de operação. Antes disso, contudo, em 14 de março, O Athena poderá fazer uma observação inusitada: a de um eclipse lunar visto da própria Lua.

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